A vacinação de povos remanescentes de quilombo – que seria um momento memorável -, se transformou em tumulto, desentendimento e revolta, em Cáceres. A maioria dos verdadeiros descentes dos fundadores do quilombo do Pita Canudos não foram vacinados, enquanto pessoas que não se enquadram no perfil quilombola receberam o imunizante.
No momento da vacinação realizada na sede da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar – bairro Vila Irene, apareceram duas listas de supostos quilombolas. Uma apresentada pela remanescente Dalva Maciel e outra pela presidente da Associação dos Quilombolas do Pita Canudos, Joana Campos. A primeira com 352 nomes e outra com mais de 200.
Foi necessária a presença de uma equipe da Polícia Militar composta por oito homens para manter a segurança e conter as trocas de acusações, entre as alas da remanescente Dalva e da presidente da associação Joana. Dalva Maciel chamou de “bruxa” e responsabilizou a presidente da associação, pelo tumulto.
Segundo ela, Joana Campos teria cadastrado um grupo de trabalhadores sem-terra, como remanescente de quilombo para receber a vacina. Sem organização, inclusive, pela Vigilância em Saúde, órgão responsável pelo trabalho, coube ao comandante da equipe da PM assumir a função. Resultado: vários descendentes dos fundadores do quilombo deixaram de ser vacinados.
A família de José Alcântara de Campos, neto de Antônio Cândido de Campos, o “Candinho” um dos fundadores do quilombo não foi vacinada. Uma neta de Antônio Maciel de Campos, filho de “Candinho” se deslocou de Cuiabá, onde trabalha para se vacinar em Cáceres, mas também foi ignorada.
“Não sei de quem foi a culpa pelo tumulto. Mas, a verdade é que, tiraram o nosso direito de vacinar” afirmou José de Campos, afirmando que iria reunir um grupo dos descendentes de quilombos que não receberam a dose para reclamar na Secretaria de Saúde ou até mesmo no Ministério Público. “Vamos cobrar o nosso direito, se a Secretaria de Saúde não resolver vamos no Ministério Público”.
Presidente da Associação dos Quilombolas do Pita Canudos, Joana Campos, nega que tenha cadastrado trabalhadores sem-terra que não enquadram no perfil quilombola. “Isso não é verdade. Todos que estavam em minha lista são remanescentes do quilombo. O pessoal da saúde e da polícia não vacinou porque não quis, inclusive, porque sobrou vacina”. A reportagem não conseguiu contato com Dalva Maciel.
Procurada na manhã de hoje, a coordenadora da Vigilância em Saúde, responsável pela vacinação, Cinara Piran, disse que retornaria a ligação o que não aconteceu. Informações tanto do grupo de Joana quanto de Dalva são de que, pouco mais de 200 pessoas vacinaram e que, sobraram muitas doses do imunizante destinadas aos quilombolas.