Um crime bárbaro é sempre acompanhado de espanto e indignação, mas nem sempre de respostas satisfatórias. Em mais um episódio dramático, ocorrido em Dourados (MT) no começo desta semana, uma menina indígena de 11 anos foi morta após ser vítima de um estupro coletivo.
O crime, em sua brutalidade, reproduz alguns traços típicos da violência sexual contra a mulher no Brasil. Em 2018, 53,8% das 66.000 mulheres e meninas vítimas de estupro no país tinham até 13 anos de idade. Em 2019, 4 meninas com até 13 anos de idade foram estupradas a cada hora. Populações mais vulneráveis, como meninas indígenas ou negras, estão particularmente expostas a esse tipo de violência.
Chamou a atenção, no caso ocorrido em Dourados, a participação do tio da menina. Contudo, trata-se de um traço comum da violência sexual contra crianças. O Ministério da Saúde estima que 68% dos casos envolvendo crianças ocorrem no próprio domicílio, incluindo a participação de pessoas próximas da vítima.
A identificação e punição dos culpados, ainda que necessária, não ataca a raiz do problema, apenas reproduz ciclos de responsabilização e penalização. Tal tragédia tem suas origens em uma cultura de violência, machismo, sexualizarão e objetificação de corpos de mulheres e crianças.
A resposta efetiva para esse tipo de barbárie passa por políticas de prevenção à violência sexual, em grande parte baseadas na educação e conscientização de jovens, crianças e adultos. “Acreditando nesse modelo, a Serenas é uma entidade dedicada ao desenvolvimento de políticas educacionais para que meninas e meninos aprendam desde muito cedo as raízes desse tipo de violência. A entidade trabalha também na formação de agentes públicos, na implementação de programas e políticas e em pesquisas, sempre baseadas em dados e evidências empíricas”, diz Amanda Sadalla, mestre em Políticas Públicas pela Escola de Governo da Universidade de Oxford e co-fundadora da Serenas.
“Apenas quando todos, mulheres e homens, compreenderem a gravidade da violência sexual poderemos evitar que isso aconteça. Meninas e mulheres, principalmente negras e indígenas, sofrem violências diárias, erguendo barreiras sociais, econômicas, físicas e psicológicas que as impedem de viver e de sonhar. Trabalhamos nas raízes da violência através da educação, justamente para que essas barreiras deixem de existir e meninas possam buscar seus sonhos”, diz Stefania Molina, mestre em Políticas Públicas pela Hertie School in Berlin e co-fundadora da Serenas.
Amanda Sadalla
Co-Fundadora da Serenas e Mestre em Políticas Públicas pela Escola de Governo da Universidade de Oxford.
Stefania Molina
Co-fundadora da Serenas e Mestre em Políticas Públicas pela Hertie School.
O Instituto Serenas foi criado para que meninas e mulheres possam sonhar sem limites. Atuamos na prevenção e enfrentamento de violências contra meninas e mulheres e na promoção e efetivação de seus direitos sexuais e reprodutivos. Fazemos isso através da produção de estudos sobre políticas públicas baseadas em evidências para efetivação de direitos de adolescentes e mulheres, implementação de programas educativos com adolescentes, sensibilização e formação de agentes públicos e apoio na construção de políticas públicas articuladas, humanizadas e baseadas em evidências.