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Teatro: Cena Onze em cartaz com a peça Bereu
Por redação
03/11/2023 - 13:09

Foto: Marcondes Araújo

Bertolt Brecht (1898-1956), dramaturgo e poeta, escreveu e encenou peças que além do viés de entretenimento possuíam uma faceta política, ligada, sobretudo, a luta de classes.

Sua maneira de narrar os acontecimentos lançavam luzes sobre a realidade, despertando a criticidade de seus leitores e da plateia que voltava para casa questionando-se sobre o seu papel na sociedade. 

BEREU, encenada pelo CENA ONZE sob a direção de Flávio Ferreira e Janaína Borges, faz exatamente isso. 
Fruto de um sério trabalho de pesquisa, a peça BEREU é construída com base nos relatos de detentas do presídio feminino Ana Maria do Couto May, lugar onde o Cena Onze atua há catorze anos realizando cursos de teatro, dança e figurino. Portanto, as dez atrizes que atuam na peça dão voz e corpo a histórias reais.

É dessa experiência imersiva que nasce o espetáculo entregando ao público a rotina das apenadas em suas celas com suas dores, seus sonhos e seus temores. 

O nome da peça significa carta ou bilhete na gíria do presídio. O BEREU quando encenado passa a ser uma carta também, só que agora entregue e lida abertamente a todos que assistem.

Ontem, 2, Dia de Finados, a convite do Cena Onze, assisti à peça dentro do presídio feminino de Cáceres, juntamente com as mais de sessenta detentas. 

Sentados ali, à sombra das instalações e sob um calor de mais de quarenta graus. O silêncio que antecede a apresentação é quebrado pelo barulho das cadeiras se ajeitando enquanto a peça começa. Instala-se um misto de surpresa, êxtase e tensão. Somos vigiados pelas agentes prisionais, todas de preto, e suas armas a tiracolo.

O cenário, uma armação metálica que aprisiona as atrizes, e o figurino não nos deixam esquecer o chão que estamos pisando: a cadeia.

Ao primeiro acorde da trilha musical, esteticamente e sonoricamente incrível, minhas lágrimas misturam-se ao meu suor e escorrem pelo meu rosto por mais de uma hora de peça, que segue de uma roda de conversa em que atrizes e detentas conversam sobre o espetáculo.

O texto consegue oscilar entre o jocoso e o visceral, tensionando sensações. Afinal quem são as personagens ali apresentadas? O que elas têm a dizer? O que dizem seus corpos?

Ao sentar-me na última fila de cadeiras foi possível perceber as discretas reações daquelas mulheres que viam, diante de si, sob o sol cacerense, suas histórias narradas com tanta força e respeito. Havia cumplicidade, um pacto silencioso e pleno de sentido era celebrado à medida que cada personagem manifestava-se. 

 A arte tem esse poder. Retirar, ainda que por instantes, o torpor da vida. Devolver o sonho, ressignificar sentidos, apresentar novos horizontes. A vitalidade com que BEREU é apresentada surpreende. Enquanto o conteúdo estético cria uma atmosfera de comoção, o conteúdo político gera a mediação entre a arte e a realidade.

Eu esqueci que estava dentro de um presídio, éramos todos plateia.

Essa é a magia do teatro. 
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Edson Flávio Santos
Doutor em estudos literários 
e professor da MTEscola de Teatro.
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Serviço: A peça esta em cartaz de 04 à 26 de novembro as 19h30 - Todos os sábados e domingos, no Cine Teatro Cuiabá.
Maiores informaçôes:  65 9227-6215 (Ronaldo, produtor da peça)

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