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Trade Turístico dribla seca prolongada e garante turismo no Pantanal de Cáceres
Por João Arruda
15/07/2024 - 18:20

Foto: João Arruda

Com o nível do Rio Paraguai abaixo do normal, os empresários que possuem chalanas-hotéis em Cáceres — a 210 quilômetros a oeste de Cuiabá — voltadas à prática da pesca esportiva e turismo de contemplação, como alternativa para garantir os pacotes reservados, estão fazendo o transbordo dos turistas via terrestre até cerca de 85 quilômetros da área urbana, e de lá navegam até o Pantanal.

É uma verdadeira operação. A reportagem acompanhou a chegada de um grupo formado por turistas dos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, ao todo 24 componentes. Eles desembarcaram na segunda-feira (08.07), no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande (o Aeroporto de Cáceres segue em reformas), por volta das 10 horas. De lá, seguiram em um ônibus leito fretado até Cáceres. Após um rápido almoço, trocaram de veículo por um micro-ônibus, que percorreu um trecho de 8 quilômetros até o Sítio Arqueológico do Facão, onde abandonaram a Rodovia Federal 070, rumando em direção ao Y, que é a vertente da BR-174, e que nesse ponto não tem cobertura asfáltica.

 

Foto: João Arruda

O que à primeira vista sugere aos turistas um desconforto, acaba sendo compensador, visto que o percurso de estrada cascalhada é retribuído à delegação com aumento no trajeto navegável, com mais 54 milhas náuticas que equivalem a 100 quilômetros Pantanal adentro. A aventura dos visitantes ao Pantanal é encarada com bom humor e muita farra. A cerveja corre de poltrona em poltrona, gerando gargalhadas e prosa animada, em que pese a inevitável parada para esvaziar a bexiga é seguida por novas rodadas. Na turma, há torcedores do Galo de Minas, do Cruzeiro e até um persistente vascaíno.

 

foto: João Arruda

O empresário Sherbal Boutros Seba (55) é o idealizador do grupo revela que durante 18 anos foi recebido pelo ambientalista Herly Andrade Franco, em sua Lancha Hotel Cobra Grande.Veterano em pesca na região de Cáceres, Boutros trouxe seu filho Sherbal Filho, já pela segunda vez. De descendência libanesa, seus avós nasceram no Oriente Médio e migraram para o Brasil, a exemplo de centenas de milhares de compatriotas, que embora tenham nacionalidade brasileira e do Líbano, aqui são tratados como turcos. Sherbal disse que se fixou em Goiânia, onde mantém uma atividade que carrega desde sua ancestralidade dos fenícios, hábeis mercadores que criaram o comércio.

Apaixonado pelo Pantanal desde 1998, visita a região ao menos duas vezes na temporada de pesca. Ele revela que nesse período foi duas vezes ao Mato Grosso do Sul, mas que optou definitivamente pela parte mais acima da planície pantaneira, área que abrange Cáceres e Poconé.

O mineiro Guilherme Couto Soares (63), de Belo Horizonte, faz parte da equipe e conta que a expectativa é grande para fazer uma boa pescaria, além de registrar as imagens para compartilhar com familiares e amigos. Ao lado dele está acomodado o bancário aposentado João do Bamerindus (64), que já conhece a região, pois quando estava na ativa no banco, nas folgas pescava na Fazenda Ressaca.

O micro-ônibus quase desaparece na poeira da estrada, pois o movimento de caminhões boiadeiros que fazem o sentido contrário, transportando bovinos para os abatedouros, levantam nuvens de poeira a todo instante. Há cerca de 120 dias não chove na região de Cáceres, a vegetação e as pastagens estão ressequidas, e o micro-ônibus segue com paradas necessárias para higiene fisiológica de parte do grupo. À frente, quando o veículo deixa a BR-174, surgem as porteiras e mata-burros nas divisas de invernadas de gado.

Enfim, os turistas chegam à colossal Fazenda Santo Antônio das Lendas, onde no porto está atracada a Chalana Babilônia, que hospedará o grupo por cinco dias. A tripulação, composta por 20 pessoas, faz a recepção, com o pôr do sol na outra margem do Rio Paraguai. Antes de entrar a bordo, o grupo faz registros da paisagem envolta.

O empresário Cleres Tubino, sócio-proprietário, destaca que essa rota permite que os pacotes sejam cumpridos e, mais importante, mantém aquecida a ampla rede do comércio local, que vai desde a aquisição de iscas, gelo, combustível, restaurantes, bares, artesanatos, principalmente a garantia de emprego aos guias de pesca, taifeiros, máquinas e cozinha. “São inúmeros setores que se movimentam com a vinda dos turistas à nossa região”, e complementa: “Quanto ao problema gerado pela estiagem prolongada, tivemos que nos adaptar a ela, efetuando o transbordo dos turistas nesse trecho de Cáceres até a Santo Antônio das Lendas, o que acaba sendo para eles um atrativo turístico a mais, devido não somente às fazendas seculares, mas à vegetação que emoldura toda a extensão da Serra do Facão. Na estação de inverno, a cobertura verde entra no chamado período de reserva de águas, quando as folhagens exibem um tom ferrugem, oferecendo um visual diferenciado aos apreciadores da natureza.”

O empresário Fausto Babilônia, mineiro das Alterosas, já ambientado em Cáceres há mais de quatro décadas, destaca a cadeia produtiva que, parafraseando o termo meândrico do Rio Paraguai, se entrelaça na logística para atender todo o procedimento operacional, desde as bombas de combustíveis, passando pelos empregos diretos até os indiretos. São centenas de pessoas envolvidas que de algum modo se beneficiam com a chegada de levas de visitantes a cada temporada. Babilônia salienta que todo o trade turístico ancorou suas lanchas-hotéis em Santo Antônio das Lendas, e de lá estão operando normalmente com os turistas que tiveram seus passeios programados para esta ocasião.

 

 

 

 

 

 

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