Começou nesta segunda-feira (24), no setor de acolhimento dos Núcleos Cíveis da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT), em Cuiabá, a exposição “Desenhos que Falam: percepções sobre a violência doméstica”, que reúne ilustrações produzidas por crianças e adolescentes do 5º ao 9º ano de escolas estaduais da capital. Realizado por meio do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem), a exposição tem como objetivo refletir sobre o papel da educação na luta contra a violência doméstica.
“É muito importante trazer a reflexão dos impactos da violência doméstica para as crianças. A Defensoria Pública, por meio do trabalho realizado de duas importantes defensoras, Rosana Leite e Zanah Figueiredo Carrijo, trouxe essa realidade para dentro do nosso espaço. Estamos abrindo essa exposição, com a participação de vários atores do sistema de justiça e também do setor público, para que possamos juntos reverter esse quadro de violência. Trabalhar com as crianças é trabalhar com o futuro, é quebrar o ciclo de violência para que isso não se repita com gerações futuras. Nossa expectativa é que por meio de acordos e termos de cooperação possamos levar essa exposição além dos prédios da Defensoria Pública”, afirma a defensora pública-geral, Luziane Castro.
A ideia para a exposição surgiu durante o mês de agosto deste ano, quando as defensoras públicas Rosana Leite e Zanah Figueiredo Carrijo visitaram algumas escolas de Cuiabá para conversar com as alunas e alunos sobre o combate à violência doméstica e familiar. Naquele mês, algumas unidades de ensino da rede estadual realizaram atividades em alusão à campanha nacional “Agosto Lilás”, que visa o enfrentamento a este tipo de violência.
Após ter contato com os desenhos feitos pelos alunos, as defensoras decidiram realizar a exposição dos trabalhos com o objetivo de buscar a reflexão acerca da necessidade de discutir a violência contra as mulheres dentro e fora das escolas.
“É muito importante trazer esses trabalhos para a Defensoria Pública e para as pessoas que por aqui transitam. São tantas pessoas que passam pela Defensoria Pública diariamente e eu penso que esse será um espaço de reflexão para que todos que passarem por aqui percebam os males que a violência contra a mulher, que a violência de gênero, traz para as crianças e para os adolescentes. Como diz o nome da exposição, esses desenhos falam, eles se comunicam conosco. Quando eu me deparei com esses desenhos, eu vi que a sociedade precisa refletir muito mais. A lei Maria da Penha completou 19 anos no último dia 7 de agosto, mas esse enfrentamento não tem hora para parar. Nós precisamos enfrentar a violência contra as mulheres todos os dias, a todo momento e nada melhor que fazer uma exposição aqui na Defensoria”, afirma Rosana Leite.
Estão expostos desenhos e textos produzidos pelos alunos das escolas estaduais Rodolfo Augusto Trechaud Curvo, Professor Welson Mesquita de Oliveira, Ernandy Maurício Baracat de Arruda e Dr. Hélio Palma de Arruda. A exposição segue aberta ao público até o dia 18 de dezembro.

O papel da escola – Rosana Leite explica que a Lei Maria da Penha (11.340/2006), em seu artigo 8º, traz, dentre outras políticas públicas, o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Por esta razão, a assistente social da escola Dr. Hélio Palma de Arruda, Layza Marinho, garante que o tema é tratado nas unidades de ensino muito além da educação. Segundo ela, muitos desenhos expostos pela Defensoria já serviram como um grito de socorro das crianças e adolescentes que buscam romper o ciclo de violência.
“Essa exposição é importante, mas também inquietante, porque muitos desses desenhos são um grito de socorro, um pedido de ajuda. Nós estamos dentro do ambiente escolar e lidamos diariamente com situações de violência. Muitas dessas situações são naturalizadas por violências que os estudantes sofrem dentro das suas casas ou que suas famílias sofrem. É extremamente importante dar visibilidade a esses trabalhos, porque a escola é o reflexo da sociedade. Temos desenhos aqui que nos impactaram bastante, que a gente, inclusive, teve que chamar os responsáveis para conversar, para tentar entender se era realmente só uma reprodução do que eles estavam entendendo naquele momento sobre violência, ou se de fato era um pedido de ajuda. Nossa equipe psicossocial tem atuado bastante nessa área, de tentar entender os motivos desses desenhos”, diz Layza Marinho.
Estiveram presentes na cerimônia de abertura da exposição: o juiz de direito Marcos Terêncio, representando a desembargadora Maria Erotides Kneip, da Coordenação Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (Cemulher/TJMT); a procuradora de justiça, Elizamara Portela, representando o Ministério Público Estadual; a vice-prefeita de Cuiabá, Vânia Rosa; a médica legista, Alessandra Mariano, representando o diretor da Politec, Jaime Trevisan; a presidente do Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres, Cenira Evangelista; e a deputada federal, Gisela Simona.

