Não se pode negar que durante a campanha eleitoral mais recente - no município de Cáceres - um forte grupo de empresários fechou questão em torno do então candidato a prefeito Francis Maris Cruz. Claro, com o compromisso tácito de, em sendo eleito, apoiá-lo firmemente. Primeiro é preciso entender que, se um gambá cheira outro, empresário apoia outro. Questão não só de afinidades e confiança no campo dos negócios, mas também de óbvios interesses. Segundo, soma-se a isso o fato da classe política tradicional estar com a credibilidade no vermelho, há décadas. Particularmente em Cáceres a pirâmide política vem ruindo há pelo menos 20 anos. Os líderes que tínhamos, aos poucos foram se desgastando... desaparecendo na poeira do tempo. Bons tempos de José Rodrigues Fontes, Ernani Martins, Airton Reis, Ninomyia Miguel, Márcio e José Lacerda, Antonio Fontes, Nana Faria entre tantos outros que compunham o quadro de líderes de escopo daquele interregno histórico. Uma geração que não se fez sucedânea. Um novo modelo de se fazer política(lha) surgiu, sob o lema do quanto pior para o lado do outro, melhor para nosso, na velha filosofia de “cobra engolindo cobra”, na cultura dos interesses subjetivos, perdulários, e o resultado não poderia ser outro: empobrecimento representativo e falência política, como hoje se vê. Partidos fragilizados, grupos esfacelados e o que é ainda mais grave: absoluta incapacidade de produção de novos líderes de expressão. À exceção de Pedro Henry, que surgiu praticamente do nada, reinou absoluto por bom período e também vai se apagando como uma lanterna cuja bateria perde gradativamente a carga. Tomados pelo egocentrismo, movidos pela vaidade e ensandecidos em gula pelo poder não deixaram o processo político seguir seu curso natural, que seria permitir e incentivar o surgimento de novas lideranças e, assim, garantir a perpetuação da “espécie”. Deu no que deu. Hoje Cáceres é um município deserto, em termos de força política. Consequentemente, empobrecido, literalmente relegado ao cruel desprezo, amofinado no plano do desenvolvimento do resto do Estado. Como ao leão que come suas próprias crias, não permitiram o real crescimento de nenhum de seus filhotes. E agora, dependerá de um esforço hercúleo para começar tudo de novo. Se tiver juízo p´ra isso. Diante desse progressivo trabalho de desmonte político, que vem de mais de 20 anos, Cáceres busca marcar a ferro e fogo a testa (ou as ancas) dos supostos ou selecionados culpados. E como somos de natureza imediatista, em tudo, o mais cômodo neste momento é esquecer a história e embarcar na caravana dos “caça-bruxas” do momento, doanimus vivendi, laçando e ferrando quem esteja ao alcance das nossas mãos. Não construímos nossa casa sobre alicerce e a culpa é do vento que está soprando agora. Como se fosse possível, num passe de mágica, reerguer o que foi destruído ao longo de décadas. Uma das explicações para isso é a preguiça de pensar, e outra, a incapacidade de análise crítica, a inércia dentro do nosso espaço histórico. Apelamos para o simplismo e o imediatismo na seleção de culpados e na transferência de responsabilidades. Somos especialistas nisso. Resumo da ópera, Cáceres se deteriorou politicamente. O tempo passou para o resto do mundo, menos para nós desse rico quinhão de Mato Grosso. E agora, a pergunta é: de quem é a culpa? Seria das lideranças egoístas com seus métodos grupescos e personalistas, que, aos poucos, foram aniquilando a sua própria força e, de resto, a coletividade, que já tem dificuldades de sonhar e de ter esperanças, ou essa dívida deve ser creditada diretamente à conta do eleitor, que nos momentos precisos não soube ou não se preocupou em fazer a sua parte?