Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Doces recordações
Por por Clarice Navarro Diório
09/08/2013 - 10:53

Foto: arquivo pessoal
Na galeria de imagens guardadas na memória, está a serenidade de seu semblante, a fala pausada. Me orientam até hoje as suas explicações para tudo. O seu conhecimento globalizado através de uma inteligência impar, e muita leitura. Nas lembranças da minha infância, o carinho contido, expresso na forma de cuidado. O olhar duro quando preciso, substituia palavras. Não tinha medo. Ele nunca usou qualquer tipo de violência física para castigar os filhos, mas sua posição de pai sempre presente, provedor e responsável, impunha respeito. Sua velhice chegou e um AVC nos pegou de surpresa. Ele teve uma sobrevida de 16 anos, com os movimentos parcialmente comprometidos, e a memória intacta. Me sinto privilegiada. Deus escolheu "a dedo" um pai para mim. Dele, ficou o gosto pela leitura. A mania de solidão, que não é um peso, é uma opção para pensar, tomar decisões, sonhar... Ficou o amor e respeito pelos animais e a "mania" de sempre ter cachorros em casa. O gosto pela poesia, que ele declamava baixinho, sentado em uma cadeira de fio, achando que ninguém estava ouvindo. Ainda ouço os assovios de canções e os poemas de Castro Alves. Integridade, humildade, igualdade. Era ele. Atrás do balcão de sua farmácia, estava sempre pronto a atender e o atendimento ia além, virava uma "prosa" com o cliente. Apaixonado por minha mãe, sugeria cores para ela mandar fazer roupas. Ela, vaidosa como nunca vi outra, prontamente acatava a sugestão. Meu pai nunca teve posses, teve infância difícil, orfão de pai, cuidou de minha avó, esforçou-se muito para fazer a Faculdade de Farmácia em Araraquara/SP. E esforçou-se ainda mais para formar cinco filhos. A herança, o diploma, o "ensinar a pescar". Sempre o amei muito, mas hoje sei que o amava ainda mais que imaginava. Há tantas lembranças boas. Hoje, com três filhos adultos e quatro netas, procuro neles vestígios do meu pai e encontro muitos. Isso,para mim, é um presente divino. Pai, o senhor nos deixou há sete anos, e nunca deixei de pensar no senhor por um dia sequer. Nas minhas orações, peço que me conforte. Sinto que continua me trasmitindo carinho e força. Por isso considero que Dia dos Pais e Dia das Mães é todo dia. A data em agosto, como dizia o senhor, tem conotação comercial, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade dos filhos agradecerem e demosntrarem o amor aos seus pais. Porta do quarto encostada, para ouvir cada filho que chegava na madrugada e perguntar 'qual' era, afinal, somos cinco! "Clarice Helena, é você?". Era a chamada do final de semana...acho que só depois de todos em casa tinha o sono tranquilo. Tive a felicidade de ter ele e minha mãe morando aqui em casa por um tempo. Ele amava Cáceres, seu calor, as mangueiras, o rio,os pássaros....jogava farelo de pão na calçada de casa e da varanda ia dizendo o nome de cada pássaro que vinha comer. Em Reginópolis/SP, em cima do balcão da farmácia, uma festa de cores, quando ela fabricava pipas para a gurizada. Tem tanto dele em mim e agradeço tanto a ele por isso... "Seo" Candinho, que saudades! *jornalista em Cáceres/MT
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