Pitt e Fawcett
Por Diário de Cuiabá
16/08/2013 - 10:56
Em abril de 2008, circulou pelas redações de Cuiabá uma lenda urbana daquelas. Dizia que Brad Pitt estava em Mato Grosso, possivelmente na região do Araguaia, em busca de locações para seu novo filme: “The Lost City of Z”.
Ao menos aqui, em nossa redação, houve um alvoroço. Do ponto de vista jornalístico, era uma baita história para contar. Um dos maiores atores do mundo estava produzindo um filme baseado na trajetória de Percy Fawcett, o mítico explorador britânico que provavelmente sucumbiu a um ataque indígena em Mato Grosso, na década de 20, enquanto buscava a “Cidade Perdida”.
A tarefa foi dividida assim: um repórter ficou incumbido de acionar a rede hoteleira para descobrir onde Pitt poderia ter se hospedado. Outro conversou com o representante do ator no Brasil. E um terceiro providenciou uma entrevista com o jornalista norte-americano David Grann, cujo livro sobre Fawcett seria o ponto de partida para o roteiro. Após incontáveis telefonemas e alguma pesquisa, chegamos à conclusão de que, se um dia houve projeto de filme, àquela altura não havia mais. E que Pitt jamais pisara em Mato Grosso.
Cerca de dois meses atrás, estreou nos cinemas “Guerra Mundial Z”, aventura apocalíptica em que o ator interpreta um daqueles sujeitos sobre quem recai a singela tarefa de...salvar o planeta. A ameaça da vez é uma horda de mortos-vivos. Quase ao mesmo tempo, chegava em minhas mãos, presente do amigo Ivan Pedrosa, o livro “The Lost City of Z”, de David Grann.
Daí que, juntando o título do livro e o do filme, conclui que Pitt jamais pretendeu levar para as telas a história de Fawcett. O filme de que se falou em 2008 muito provavelmente seria este lançado agora. E o que talvez tenha causado confusão em muita gente foi o tal “Z” presente nos dois títulos.
Escrevo tudo isso para lamentar que o ator não tenha se aventurado no mundo de Fawcett. A levar para as telas uma história absolutamente incrível, ele preferiu surfar na atual onda dos zumbis. Pior para o cinema.
A história do coronel tem pouco paralelo no mundo. Fawcett era membro da Real Sociedade Geográfica. Entre outras missões, coube a ele preencher com informações reais os brancos que predominavam em boa parte dos mapas até então desenhados mundo a fora. Em determinado momento da vida, as florestas da América do Sul passaram a ser seu objeto de estudo e habitat.
Bestificado com a ideia de que em Mato Grosso estava a lendária “Cidade Perdida”, ele convidou seu filho e um amigo deste para a grande missão de sua vida. Jamais voltaram, o que ampliou a lenda em torno da cidade e do próprio Fawcett. Roteiro de um grande filme!
Anselmo Carvalho Pinto é editor-executivo do Diário de Cuiabá