Ideia feliz
Por por Paulo Leite
16/10/2013 - 16:55
Depois de algumas semanas produzindo lágrimas e ranger de dentes, enfim uma sessão da Câmara Municipal de Cuiabá conseguiu provocar sorrisos e gargalhadas dos vereadores. Tudo por conta de um inusitado projeto de lei de autoria do professor Mario Nadaf que prevê a distribuição gratuita de Viagra e similares para homens acima de 60 anos com disfunção erétil.
Um detalhe importante: pela proposta legislativa, só teriam acesso ao medicamento, pessoas que comprovassem não possuir condições financeiras para adquirir o remédio. Ou seja, o cidadão já está meio brocha porque tá duro. Aliás, a vida não tá mole... Mole, mesmo, apenas o pênis, que não consegue conviver com a dureza do cotidiano.
O nome do programa é ainda mais curioso: “Pinto Feliz”. Nadaf atribuiu o título à sabedoria popular, que vê no sexo uma panacéia para todos os males.
Trata-se, portanto, na visão do autor, de uma iniciativa de largo interesse social, pois ao lado de um “pinto feliz” sempre há uma vagina satisfeita. O vereador propôs uma ação pública contra a decadência sexual dos sexagenários, uma espécie de fumacê anti-brochada para os velhinhos.
É um ato político revolucionário: abaixo a artrite, viva a ereção. Fora o reumatismo, salve a ejaculação. Chega de masturbações ideológicas; é hora dos governos investirem na virilidade de sua gente.
De agora em diante, além de tapar buracos, a prefeitura cuiabana passaria a ser responsável pela ereção coletiva da terceira idade. Os gestores terão que pensar, doravante, em lojas populares de sex-shop e vale motéis. Tudo para manter o “pinto feliz”, porque depois de algum tempo as relações ficam monótonas e precisam ser apimentadas.
Certamente, o vereador é adepto do movimento “faça amor, não faça guerra”, muito em voga nos anos 70... Mas, convenhamos, levou sua ideologia tão à sério que pretende criar um playground erótico no baile da terceira idade.
Infelizmente, não podemos nem classificar Nadaf de gozador, porque isso poderia ter outra conotação. E, por favor, não me venham dizer que foi uma sacada do ‘cacete’, que isso é pura redundância.
Mas, se a ideia do vereador não chega a ser brilhante, é no mínimo atrevida. Mexe com a libido e o humor dos sessentões. Procura devolver alegria e um sentido na vida de quem já havia depositado as armas.
Moral da história: quando a cabeça de baixo está feliz, a de cima fica em paz!
PAULO LEITE é jornalista e escritor