Mais sobre a Bolívia
Por por Alfredo da Mota Menezes
09/02/2014 - 15:21
É louvável a reunião que se fez em Cáceres para discutir problemas de segurança na fronteira com a Bolívia.
Louvável, mas não vai funcionar. Não vai funcionar enquanto tratarmos os bolivianos na fronteira da forma como são tratados.
É um país com quase 11 milhões de habitantes, com história marcante, com o governo Evo Morales recuperando e entronizando a cultura indígena Quechua e Aymara. E no momento deste novo nacionalismo continuamos tratando os bolivianos de forma errada.
Enquanto não modificar esse tratamento, por que acreditar que os bolivianos vão dar bola para nossas reclamações na fronteira? Eles dizem, com razão, que não obedecemos aos tratados e acordos assinados entre os dois países. Que decisões da Polícia e da Receita Federal passam por cima desses acordos entre nações.
São vários acordos, cito uns poucos. Acordo de Trabalho, Residência e Estudo nas Fronteiras do Brasil e Bolívia. Convênio de Tráfico Fronteiriço com a Bolívia. Acordo Sobre Facilitações para Ingressos e Trânsito de seus Nacionais em seus Territórios. São acordos que facilitam tudo entre os dois povos de fronteiras e que o lado de cá pouco liga.
Os bolivianos que vão comprar produtos em Cáceres reclamam duramente do tratamento que recebem das autoridades brasileiras. Uma vez apareceu na rodoviária de Cáceres um cartaz que dizia que era proibido vender passagens para bolivianos. Alguém já ouviu dizer sobre tratamento ruim aos milhares de brasileiros que estudam na Bolívia?
Teve uma vez que eles quiseram colocar um mísero ônibus por dia entre Cáceres e San Matias. Impedimos com alegação de que o bagageiro era no teto do ônibus. Mas impúnhamos nossos ônibus para San Matias.
O Brasil reclama do tratamento que os EUA fazem com os brasileiros. Pois fazemos pior com os bolivianos na fronteira. E aí queremos que eles, sem reclamar, prendam os bandidos brasileiros homiziados lá que roubam fazendas do lado de cá.
Eles são os únicos que conhecem as estradas cabriteiras ou aquelas clandestinas onde passam carros roubados e drogas. Ou alguém acha que droga vai passar onde tem posto da polícia brasileira? Parece brincadeira. Uma vez eles ofereceram para mostrar onde estavam as estradas cabriteiras. Não manifestamos nenhum interesse.
E ficamos numa enganação sem fim. Cadê os aviões não tripulados para monitorar a fronteira prometidos na visita à Cáceres do Michel Temer e do Celso Amorim? Cadê o acordo que o Ministério da Justiça estava fazendo com o governo boliviano para um trabalho conjunto de combate à droga?
Por que o prefeito de Cáceres e fazendeiros dali não deixam de choramingar e vão analisar como é o relacionamento entre a população de Corumbá e Puerto Suarez? Por que não se vai à Feira BrasBol dali? Por que lá a coisa caminha de maneira mais harmoniosa?
Lá se tem estrada asfaltada entre os dois países, voo aéreo e ferrovia. Aqui não se tem nada disso. Nós somos os sabidos e eles os tontos?
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador.