Suiá-Missú morre pela segunda vez. Agora, porque o coração de Kalixto Guimarães não bate mais. Antes, por conta da corrente antinacionalista que expulsou milhares de brasileiros daquela área, que em sua região, no Araguaia, é mais conhecida como Fazenda do Papa.
Na frieza de uma página da internet leio que na tarde da segunda-feira, 14, um tiro acidental de espingarda fechou para sempre os olhos do jornalista, escritor, músico, compositor e figura humana exemplar Kalixto, na zona rural de São Félix do Araguaia.
Nos meios jornalísticos Kalixto foi uma das poucas vozes em defesa dos posseiros de Suiá-Missú. Ao empunhar essa bandeira, foi isolado pela classe política, porque político teme se solidarizar com causa que gere desgaste perante os ditos formadores de opinião pública que coabitam nas entranhas da mídia brasileira consciente ou inconscientemente atrelada aos interesses internacionais.
Nunca vi um de seus textos ousados, realistas, verdadeiros, puros e carregados nas cores verde e amarelo serem lidos no plenário da Assembleia Legislativa. Sua causa não ganhava ressonância na mídia porque suas matérias colocavam os interesses nacionais acima da avidez por dinheiro que move jornalistas.
"Não quero que você descanse em paz, pelo menos
até que o Brasil se reencontre
com a brasilidade"
Grande Kalixto! Do Além, saiba que muito admirei sua luta e que, mesmo pequeno e fraco, meu pensamento sobre a antiga Fazenda do Papa é semelhante ao seu. A diferença entre nós fica por conta de meu texto limitado enquanto o seu irradiava saber. Muito me alegrei em 30 de junho deste ano ao receber um e-mail seu sobre a edição Nº 40 da Revista MTAqui, no qual você escreveu: “Cordiais cumprimentos Brigadeiro MTAqui!!! Esta edição chegou em boa hora com o destaque sobre a BR-158... Pulmão do Araguaia! A sua caneta dourada tem sido a única dentre as tantas da artilharia do jornalismo mato-grossense, que vem tendo a coragem de mirar na verdade dos fatos sem medo de atingir as trincheiras do inimigo”.
Por maior que seja sua derrota (minha também) no desfecho da antiga Fazenda do Papa que virou terra indígena Marãiwatsédé, ela não significa desonra nem fracasso. Ao contrário, lhe confere o galardão dos guerreiros dos bons combates e sempre o fará lembrado – até mesmo pelos algozes dos ex-posseiros – na condição de homem digno, que se pautava pela razão, pelo humanismo e o amor pátrio.
A antiga Fazenda do Papa é fato consumado. Dela resta a desgraça coletiva que se abate sobre milhares de brasileiros de mãos calejadas, de crianças indefesas, de portadores de necessidades especiais, de mulheres, de idosos, de jovens. Dela sobra esse triste mosaico social que vegeta sem hoje e amanhã em Alto Boa Vista e região. Dela fica o grande legado de sua luta.
Tenho plena convicção que no amanhã teremos novos despejos ou desintrusões, como dizem os juristas. Jarudore tem os dias contados para ser riscado do mapa. Quando isso acontecer, a soldadesca repetirá o que fez na antiga Fazenda do Papa demolindo a vila Estrela do Araguaia e a zona rural na área transformada em terra indígena.
A diferença do ontem para o amanhã sombrio que nos espera é que o povo mato-grossense não terá a sua – essa sim – caneta dourada. Do lado de cá da vida estendo-lhe a mão, por mim, por minha mulher, meus filhos, minha nora, minhas netas e, se me permitem, pela população consciente de Mato Grosso.
Não quero que você descanse em paz, pelo menos até que o Brasil se reencontre com a brasilidade. Ao contrário, espero que seu espírito irrequieto mova anjos, arcanjos e querubins, e que as legiões celestes levem até Deus o preito que norteou sua vida. O Senhor haverá de atendê-lo. Depois dessa vitória, que sua alma repouse entre as estrelas e que seu fulgor seja visto pelas famílias de todos os até agora injustiçados pela política do entreguismo nacional. Que nesse amanhã de glória os pais digam aos filhos: “Pra ver a estrela Kalixto é preciso levantar a cabeça”.
Levante a cabeça, Mato Grosso!
Eduardo Gomes de Andrade é editor de MTAqui