Cinco cidades de Mato Grosso concentraram ontem uma operação desencadeada pelas polícias civis do Estado e de Presidente Venceslau (SP) contra uma quadrilha que aplicou golpes por telefone em mais de 800 pessoas, em oito estados e no Distrito Federal. As investigações apontam que os bandidos agiam de dentro de penitenciárias de Cuiabá e de Rondonópolis (250 quilômetros da capital).
Entre os tipos de golpes aplicados está o da “falsa auditoria”, recém-descoberto pela polícia. Outros dois tipos de crimes já são conhecidos: o falso sequestro e o parente na UTI. Os prejuízos às vítimas decorrentes das ações criminosas são da ordem de R$ 1 milhão.
No Estado, a operação batizada de “Adrenalina” também aconteceu em Cáceres, Campo Verde e Sinop. A penitenciária da Mata Grande, que fica em Rondonópolis, é apontada como a central dos golpes. Ainda ontem, a unidade passou por um "pente fino" para retirada de aparelhos celulares.
De acordo com o delegado da Central de Polícia Judiciária de Presidente Venceslau (PCSP), Everson Contelli, a investigação apontou que os criminosos agiam em diferentes modalidades de golpes. "Frequentemente se passavam por falsos médicos usando dados dos cadastros dos hospitais, solicitando depósitos urgentes para exames ou remédios em pacientes internados nas unidades de terapia intensiva (UTIs), e também ligavam para secretarias de Educação de municípios pequenos e se passavam por membros do Ministério Público Federal que queriam agendar visitas referentes a verbas extras", informou.
Ao todo, foram cumpridos 35 mandados, sendo 21 de busca e apreensão e 14 de prisão temporária. As investigações começaram há quatro meses e apontam que os bandidos agiam de dentro de penitenciárias de Cuiabá e Rondonópolis, com a ajuda de comparsas de fora da prisão. “Nove dos criminosos com ordem judicial de prisão já estão segregados em unidades prisionais de onde agiam aplicando golpes diversos usando telefones para enganar vítimas”, informou a polícia.
No caso do crime de “falsa auditoria”, os criminosos telefonavam para uma Secretaria de Educação, uma das pastas que mais recebem recursos dos respectivos governos estaduais, e se identificavam como representantes do Ministério Público Federal (MPF) ou da Controladoria-Geral da União (CGU). Geralmente, o golpista dizia que estava na cidade para fazer uma fiscalização em escolas localizadas na cidade e simulava ter problemas com transporte ou conexão com a internet.
Usando de sua suposta autoridade, o criminoso conseguia recargas de celulares e até transferências bancárias. Por se tratar de um golpe desconhecido, a quadrilha conseguia consumar mais de 90% das tentativas.
Já no caso do golpe intitulado “parentes na UTI”, os criminosos fazem ligações para vítimas que têm familiares internados em hospitais e solicitam quantias em dinheiro para medicamentos, exames e até cirurgias, que seus convênios ou mesmo o Sistema Único de Saúde (SUS) supostamente não cobrem.
No crime de “falso sequestro”, os bandidos ligam e simulam um sequestro. Quando a vítima atende, ouve ao fundo vozes gritando e pedindo socorro. Para libertar a vítima, o criminoso pede dinheiro.
O dinheiro que conseguem é usado para melhorar a conta bancária de facções, pagar dívidas, comprar drogas e viabilizar uma diversidade de esquemas aos quais chamam de “tretas”.
Durante a investigação, Contelli descobriu que os criminosos escolhiam seus alvos de forma aleatória. De fora da cadeia, os comparsas pesquisavam em listas telefônicas on-line os contatos das secretarias de Educação e os nomes dos secretários.
Os criminosos são acusados de organização criminosa, lavagem de capital, extorsão e estelionato. O grupo teria feito vítimas em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Sul, Rondônia, Mato Grosso do Sul e também no Distrito Federal.
A operação contou com 80 policiais civis, dos quais 15 delegados de polícia e 65 investigadores, escrivães e investigadores, além do emprego de 25 viaturas das polícias civis dos dois Estados.