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Reserva da Biosfera:Pantanal corre risco de perder título
Por Eduardo Gomes
04/02/2017 - 10:08

Foto: Ilustrativa

A um passo de perder o título de Reserva da Biosfera, que lhe foi concedido em 2000 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o Pantanal se vê ameaçado no mais amplo sentido desta palavra.

A solução para reverter à situação é a criação de comitês multissetoriais e interestaduais, além, claro, de políticas públicas que fortaleçam a pesquisa e assegurem sua proteção.

Essa realidade reuniu ontem, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professores, pesquisadores e autoridades políticas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Na esfera política o vice-governador e secretario estadual de Meio Ambiente, Carlos Fávaro anunciou a liberação de recursos e uma medida administrativa que contribuirão para afugentar o risco, que queima pestanas de estudiosos sobre a região. 


O título de Reserva da Biosfera não é algo excepcional, mas abre as portas dos organismos internacionais e de países ricos dispostos a investirem na preservação ambiental, o que justifica todo o empenho para mantê-lo, como admite o reitor em exercício na UFMT, Evandro Soares. Esse rótulo é concedido pela Unesco desde 1972 a áreas de savanas, florestas, cerrado, manguezais e outros ecossistemas em 110 países. No Brasil foram contempladas sete áreas: Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado, Amazônia Central, Caatinga, Serra do Espinhaço, Mata Atlântica e Pantanal. 

Mesmo com o título, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que formam a base territorial do Pantanal no Brasil, ficaram de costas para sua grande planície alagada e não se mobilizaram em busca de recursos nem executaram políticas para aquela região. O último programa para a área foi o BID-Pantanal, que desembolsaria US$ 400 milhões em projetos socioambientais e em infraestrutura, mas que foi descartado no começo dos anos 2000, antes mesmo que se destinasse um dólar sequer para seu objetivo. Esse programa contava com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 

O sinal amarelo para a perda do título foi dado em junho do ano passado, pelo Ministério de Meio Ambiente. A razão? Falta de comitês ou nomes que equivalham para a gestão ambiental do Pantanal. Esse alerta chegou à UFMT, que desde sua criação em 1970 desenvolve projetos naquela região. A saída para garantir o título e consequentemente abrir portas é a criação de mecanismos formados por representantes dos dois governos, universidades públicas, entidades dos segmentos econômicos e organizações não-governamentais. 

Preocupada com a ameaça a UFMT juntamente com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) abraçaram a paternidade do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU) e correm contra o tempo. 

O INAU é um passo, mas faltam muitos outros na caminhada em defesa do Pantanal. Um deles é desmontar a barreira burocrática que vê o Brasil à distância. Brasília entregou ao Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA) a gestão do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), instalado no campus da UFMT em Cuiabá. Outro é a falta de recursos para atuação. No evento da UFMT Carlos Fávaro disse que a questão sobre a localização da direção do INPP e os primeiros recursos está resolvida. 

Em seu pronunciamento no evento, Carlos Fávaro anunciou que nos próximos dias o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) virá a Cuiabá e transferirá de Belém para organismos com sede no Pantanal a gestão do INPP. Além disso, revelou que seu governo destinou R$ 3,5 milhões para o Fundo de Amparo a Pesquisa em Mato Grosso (Fapemat) aplicar em estudos na região pantaneira em sintonia com a UFMT e outras instituições. Ao concluir a fala o vice-governador destacou que “não tenho nada contra nossos irmãos paraenses”, acrescentando que geograficamente a sede do INPP tem que ser na região pantaneira. 

Pantanal forma a maior planície alagada do mundo

Cercado de América do Sul por todos os lados, o Pantanal é a maior planície alagada do mundo e sua área ultrapassa fronteiras brasileiras avançando pela Bolívia e Paraguai, onde se chama Chaco. Sua proteção, entendem pesquisadores, vai além da criação de modelos sustentáveis de exploração econômica, porque a agressão ambiental mais forte que sofre é externa e chega ao seu solo, baías e rios pelas águas de um raio muito grande em seu entorno internacional. 

O principal rio do Pantanal é o Paraguai, que em sua área banha os três países por onde se estende. Não há acordos internacionais para sua proteção e as legislações ambientais paraguaias e bolivianas são frágeis. Além disso, a Hidrovia do Mercosul, no rio Paraguai, tem navegação assegurada por um tratado firmado pelos países pantaneiros juntamente com a Argentina e o Uruguai. 

As extensas lavouras na Bacia do Pantanal em Mato Grosso e Mato Grosso deixam em lados opostos o agronegócio e a militância ambiental. A exploração econômica do solo divide opiniões, por supostamente contaminar a região com agrotóxico e alterar curso de rios com a terra arrastada no período das chuvas, que chega aos rios nos chapadões. Somem-se ainda a poluição permanente da maior parte do esgoto de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Rondonópolis e outras cidades que é lançado sem tratamento nos rios pantaneiros. 

No evento na UFMT, professores e pesquisadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul lançaram o desafio de tentarem garantir o título dado pela Unesco e consequentemente protegerem o Pantanal. Receberam o sinal verde do governo mato-grossense representado pelo vice-governador Carlos Fávaro e do senador José Medeiros (PSD). 

Professor e pesquisador da UFMT e ambientalista, Paulo Teixeira de Sousa Júnior é entusiasta com o Pantanal, onde desenvolve importantes trabalhos. Segundo ele, a UFMT tem um leque de pesquisas na área que inclui o boi pantaneiro, agregação de valores, sons do Pantanal e outros. Pode parecer estranho pesquisa sobre sons, mas segundo ele, seu resultado aponta quais bichos se encontram em tais e quais áreas, o que facilita a elaboração de roteiros turísticos. Ao levantar a questão da agregação de valores é possível orientar e qualificar a mão de obra local para atividade de produção de corantes etc. 

Numa ação formiguinha, a UFMT descortina nichos de aproveitamento econômico numa área com mais de mil espécies de aves, de 400 de peixes, de 300 de mamíferos e de 480 de répteis, e uma diversificação de flora que completa um cenário de beleza inigualável, e onde a figura principal é o homem pantaneiro – esse sim, seriamente ameaçado em sua cultura, seus costumes e modo de vida. A esse trabalho se junta agora a luta pela manutenção do título dado pela Unesco. 
 

 

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