CÁCERES – Armas de grosso caibre, munições, drogas e produtos de contrabandos são internados diariamente no país, sendo um dos principais acessos a nossa fronteira terrestre.
Afinal de contas, são cerca de 17 mil quilômetros e aproximadamente 580 municípios na área fronteiriça. O Brasil é o país com a terceira maior quantidade de países vizinhos, perdendo apenas para Rússia e China. Os balanços das apreensões e de prisões crescem assombrosamente ano após ano, batendo sucessivos recordes de anos anteriores, o que leva a acreditar que os seguidos governos federais deram as costas para os problemas nas fronteiras, e com isso provocaram caos na segurança pública.
O Brasil não produz entorpecentes e nem tem livre venda de armamentos pesados e de munições. No entanto, isso tudo chega facilmente às organizações criminosas dos grandes centros brasileiros, notadamente no eixo Rio-São Paulo.
É sabido que a entrada desses produtos ilícitos decorre da frágil vigilância das fronteiras.
Em 2013, surgiu um alento, entrou em operação do SisFron – Sistema de Vigilância das Fronteiras, coordenado pelo Exército Brasileiro. Quase nada avançou ante a expectativa imensa dessa atuação.
Trazendo o tema para o nosso terreiro – Mato Grosso – a situação descrita de apreensões de drogas, de produtos contrabandeados e prisões, são frequentes nos meios policiais que atuam guarnecendo a fronteira com a República da Bolívia, tanto que na imprensa, quando surgem pautas de cidades fronteiriças o pensamento corre logo em direção ao crime organizado.
Seis cidades deste estado têm seus limites com a Bolívia: Comodoro, Vila Bela da Santíssima Trindade, Pontes Lacerda, Porto Esperidião, Cáceres e Poconé. Nessa longa faixa se situa o Pantanal, com imensos vazios demográficos, e, é exatamente nessas áreas desabitadas que as ramificações criminosas operam desovando drogas – principalmente pasta base de cocaína – em larga escala. O empenho de policiais federais, patrulheiros, policiais militares e da Polícia Judiciária Civil é evidente, mas, eles necessitam de melhor estrutura para trabalharem.
O emprego dos scanners, por exemplo, nos postos fixos da Policia Rodoviária Federal, poderia facilitar o trabalho dos policiais e ainda evitar eventuais constrangimentos dos usuários das duas principais rodovias situadas próximas a fronteira, as BRs 070 e 174.
Drones e pequenas aeronaves não tripuladas também, uma vez que cobrem vasta área em pouco tempo e com segurança para os operadores.
Porém, a fronteira não é somente noticiários de ocorrências policiais. A cada povoado de lá ou de cá, o povo brasileiro e boliviano convive há mais de dois séculos amistosamente. O comercio é intenso entre os dois povos, desde gado até pequenos animais. Os bolivianos se abastecem no comércio de atacado em Cáceres e de Cuiabá, afinal as cidades de San Mathias, Las Petas, San Raphael, San Miguel e San ignácio de Velasco estão distantes de La Paz e de Santa Cruz de La Sierra, com comunicações terrestres que cruzam áreas de chaco e manutenção precárias. Daí a balança comercial é amplamente pendida para o lado de Cuiabá e de Cáceres.
Se na área de segurança do Governo Federal os investimentos são tacanhos, já entre as comunidades fronteiriças há entendimentos lado a lado, não apenas na área de Comércio, mas também na rica seara da Cultura.
Além disso, pastam também lado a lado numerosos rebanhos de gado vacum, visto que nos municípios fronteiriços de Mato Grosso residem os mais expressivos criadores de reses deste estado, fazendo pulsar a economia na produção de proteína animal que alimenta o país e parte mundo. E se me permitem o bairrismo, as carnes mais saborosas e apreciadas são decorrentes do gado pantaneiro.
JOÃO ARRUDA é cacerense quinta geração de pantaneiros, repórter formado no chumbo, linotipo, ambientalista e ativista cultural