Na manhã desta quinta-feira (16.07), encerra em Cáceres a missão dos freis da Ordem Irmãos Cristãos da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria Mãe de Deus, com a partida dos freis Gumaro Sterke (87), Matheus Feyen (84) e Marino Vermeer (83). Os freis retornam à Holanda, país de origem, onde se juntarão à comunidade da Ordem em Huijbergen. Neste momento de despedida, a comunidade acadêmica da Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado (Unemat) também agradece e diz adeus aos missionários que dedicaram suas vidas em prol do próximo.
A missão, que durou 63 anos e contou com cerca de 20 missionários, teve início em 1957 com a chegada dos freis Bertrando, Giuseppe e Pamphilius. O objetivo da missão foi contribuir com a educação, formação religiosa, saúde e trabalhos sociais na região.
Os últimos missionários retornam à Holanda com “duas malinhas”, mas deixam a Cáceres um legado imensurável por meio do Hospital Bom Samaritano, da Creche Cenecista (CNC), da Fundação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Cáceres (Apae), da Associação José e Maria, da construção de cerca de 50 prédios e do Instituto Santa Maria, atual Colégio Salesiano, entre outros feitos.
Na educação, seus caminhos também cruzaram com os da Unemat. Frei Matheus Feyen foi o primeiro professor de Inglês do curso de Letras do então Instituto de Ensino Superior de Cáceres (Iesc – 1978/1984) onde lecionou até 1990, vivenciando os períodos de transição da Instituição para Fundação Centro Universitário de Cáceres (FCUC - 1985/1989) e Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres (FCesc - 1989/1992). Em 1988, o curso de Letras chegou a funcionar em espaço cedido pelo Colégio dos Freis, como era conhecido o Instituto Santa Maria.
“A história de Cáceres e a história da Unemat estão intrinsecamente entrelaçadas com a história de vida dos freis holandeses, vindos para nossa cidade com a função de promover ensino de qualidade para seus munícipes, a convite do Bispo Dom Máximo Biennés. A Unemat foi agraciada com a presença, o trabalho e a generosa contribuição de todos eles nos anos iniciais da construção histórica da nossa instituição”, lembrou a vice-reitora, professora Nilce Maria, que foi aluna do curso de Letras no Colégio dos Freis antes de mudar para o prédio da Unemat.
O ex-reitor Arno Rieder (1998/2001) também recordou o incentivo em prol do ensino superior. “Frei Matheus contribuiu muito com o início da Unemat. Foi professor do Iesc nas fases iniciais e um integrante docente que dava muito apoio e entusiasmo para a instalação da Educação Superior em Cáceres ir em frente”.
“Inegavelmente a contribuição dos freis para o desenvolvimento de Cáceres é algo extraordinário, com certeza nós temos que reconhecer que Cáceres não seria a mesma sem a presença desses freis, por tantas décadas, sobretudo na formação de muitas e muitas gerações, desde a pré-escola. Fui aluna do colégio desde a pré-escola, fui alfabetizada pelo frei Grignon. A presença deles como mestres, como educadores sempre foi muito marcante”, contou Elizabeth Batista, professora da Unemat, que foi aluna do Colégio dos Freis.
Elizabeth ainda diz mais: “Também tenho o privilégio de ter sido aluna do frei Matheus. Ele é mesmo uma referência de humildade, de sabedoria de conhecimento e de comprometimento com a carreira docente. Com o frei Matheus nós tivemos o contato com o inglês britânico ensinado com uma pedagogia espetacular. E como ele dominava outras línguas de raiz germânica e anglo-saxônica ele trabalhava com uma riqueza de derivações de uma forma muito profunda ainda que a gente estivesse nos semestres iniciais. Ele também trabalhou com literatura inglesa, um repertório profundo, fecundo. Ele foi nos ensinando passo a passo a ter paixão pela área de Letras e pelo domínio de um outro idioma”.
Os freis Gumaro Sterke e Matheus Feyen chegaram a Cáceres na década de 1960 e o frei Marino Vermeer em 1971. Durante esse período eles retornaram algumas vezes à Holanda, mas o sentimento de pertencimento a Cáceres, onde disseram ter sido recebidos e acolhidos, hoje é claro. Todos partem com o sentimento de começar de novo. “Terra incógnita. A gente não conhece mais”, disse frei Matheus. “Não vou nem pensar. Quando chegar lá vou pegar a bicicleta e pedalar bastante”, profetizou frei Marino. “Como religiosos, temos voto de obediência”, lembrou frei Gumaro.
Gratidão - Na tarde de ontem (15), o reitor da Unemat, Rodrigo Zanin, e o professor e ex-reitor Taisir Mahmudo Karin (2002/2006 e 2006/2010) entregaram aos freis uma carta de agradecimento e ao frei Matheus um Diploma de Mérito.
A partida - A Congregação da Ordem, transferida da Holanda para a Indonésia, mantém a comunidade de freis em Huijbergen com os últimos missionários holandeses. A transferência dos freis de Cáceres para a comunidade foi solicitada pelos superiores da Ordem por considerarem que a idade avançada dos três missionários requer cuidados e na comunidade existe toda a infraestrutura para melhor atendê-los.
A despedida – O padre Sandro Giancola, diretor do Colégio Salesiano Santa Maria, convidou toda a comunidade cacerense para acompanhar em carreata a partida dos freis do Colégio até a saída da cidade. Participaram do cortejo ex-alunos, professores, amigos e a comunidade que tanto se beneficiou da presença destes irmãos leigos que, um dia, fizeram votos de Castidade, Pobreza e Obediência.
Pioneiro – Johanner Antonius Herijgers, conhecido como Frei Bertrando, morreu em 16 de maio de 2019, aos 94 anos, e foi sepultado em Cáceres.
Frei Grignon – Foi o único dos missionários da Ordem em Cáceres a ser ordenado padre. Frei Grignon morreu em 13 de abril de 2014, aos 84 anos, e está sepultado na Igreja Imaculada.