As previsões climáticas para o Pantanal não são satisfatórias. Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e do clima no Brasil indicam que as secas prolongadas na região ainda devem permanecer por mais 4 ou 5 anos, um efeito das mudanças que atingem todo o planeta Terra. Este ano, a estimativa é de que 23 mil km2 da planície alagável no país foram consumidas pelo fogo. As cinzas, com os restos de matéria orgânica que ficam depositados no solo e se acumulam com a seca prolongada, retiram oxigênio da água, devem provocar mortandade de peixes e causar danos à saúde humana.
A entrada deste material nos rios é maior ainda nos trechos em que não há mata ciliar ou em pontos onde foi destruída pelo fogo, como aconteceu em algumas localidades nos rios Cuiabá e Paraguai. Para medir a degradação ambiental causada pelas queimadas no bioma pantaneiro em 2020, pesquisadores da UFMT estão desenvolvendo um projeto para avaliar os impactos dos incêndios no Pantanal sobre a qualidade da água do rio Cuiabá e avaliarão os organismos aquáticos (plâncton), que são a base alimentar dos peixes.
A pesquisa está sendo coordenada pela professora Márcia Teixeira Oliveira, do Instituto de Biociências da UFMT, com a participação dos professores Ibraim Fantin Cruz, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, e da pesquisadora Daniela Figueiredo, do mestrado em Recursos Hídricos. Também participam quatro alunos de pós-graduação (Nayara Paes, Diego Cruz, Gisele Assis e Franciele Oliveira).
Com recursos próprios, os pesquisadores estão fazendo duas campanhas para coleta de água. A segunda etapa será no início das chuvas, quando começa a aumentar o nível do rio Cuiabá. Foram escolhidos 30 pontos de coleta próximos às áreas mais afetadas pelo fogo ao longo do rio, situados entre Santo Antônio de Leverger e Porto Jofre.
Os resultados serão comparados com dados de qualidade da água do rio Cuiabá dos anos anteriores. “Espera-se, com este estudo, avaliar qual o grau dos impactos dos incêndios sobre o rio Cuiabá no Pantanal, quais os trechos de rio mais afetados e estimar como estes impactos afetarão o funcionamento do ambiente aquático, inclusive a vida dos peixes”, explica Daniela Figueiredo.
Os resultados serão divulgados para a comunidade científica e a comunidade, para que a população tenha conhecimento da qualidade da água do rio e compreenda que as queimadas podem afetar não somente os animais e plantas terrestres, mas também os ambientes aquáticos. “É uma forma de contribuir para a gestão ambiental, principalmente quanto à prevenção dos incêndios e à redução dos seus impactos”, afirmou.