No dia 28 de maio foi celebrado o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. E Mato Grosso é o segundo estado brasileiro onde mais mortes de gestantes acontecem, todavia muitos desses óbitos poderiam ser evitados. Dentre as principais causas de mortes de gestantes em Mato Grosso encontram-se a pré-eclâmpsia e a hemorragia.
A pré-eclâmpsia é um estado de hipertensão arterial ou de piora de hipertensão arterial preexistente. Já a eclampsia é um estado de convulsão que afeta mulheres com pré-eclâmpsia. Ambas as situações podem acometer a mulher, o feto ou a ambos, porém essas complicações da gravidez podem ser tratadas.
Do mesmo modo, os casos de hemorragia também merecem atenção e, mediante o tratamento adequado, tem grandes chances evitar a morte, razão pela qual os médicos devem ser devidamente treinados para lidar com tais situações.
Não é de hoje que venho tratando desse assunto, levando pedidos, reclamações, sugestões, propostas às autoridades, porque é um total absurdo pensar em investimentos públicos em qualquer outra área antes de privilegiar a vida, principalmente a vida da mulher, dos fetos, ou bebês.
Um estado rico como Mato Grosso, que alavanca o crescimento do PIB brasileiro, não deveria figurar como o segundo no Brasil em que mais mortes evitáveis de gestantes ocorrem. Em 2020, por meio da Resolução CIB/MT Nº 056, a secretaria de estado de Saúde trouxe novas esperanças para se chegar num atendimento obstétrico e neonatal minimamente necessário, quando recompôs o grupo condutor do Projeto Cegonha.
No entanto, isoladamente não se realiza nada, considerando-se a demanda gigantesca decorrente da total falta de aparelhamento e políticas públicas voltadas a essa área sensível. A impressão que fica é a de que falta visão prioritária e comprometimento para liderar e conscientizar os municípios a fim de que, somando esforços, haja a real implantação de protocolos de atenção primária e na rede hospitalar.
A Dr. ª Annie Caroline Magalhães, médica e professora de medicina da UFMT, elucidou em uma “live” realizada na segunda-feira, 30, a importância de que cada gestante faça, pelo menos, seis consultas em período pré-natal, bem como da participação do parceiro em todas as fases do desenvolvimento do bebê, sendo-lhe conferido pelo profissional médico declaração ou atestado como acompanhante para pode se ausentar do trabalho.
Segundo ela, a estratificação de risco da gestante que normaliza a condição de saúde ao longo dos diferentes pontos de atenção, orienta o manejo clínico, o diagnóstico, o tratamento e à organização da assistência. Mas os índices negativos dos últimos anos demonstram que há muito a ser modificado, objetivando a maior segurança nas diversas situações de risco para a gestante ou para o neonato.
Infelizmente, conforme foi dito, não podemos concordar com gestores que não acreditam nas causas das políticas que lhe são delegadas e muito menos na resolução dos problemas que lhes chegam para resolver com criatividade e com parcerias.
Em Mato Grosso, temos muitas mortes evitáveis (famílias destruídas), mas não possuímos nenhuma unidade de saúde em ideais condições para atender às gestantes, para monitorar adequadamente os riscos, nem transporte seguro para a gestante e o seu filho recém-nascido.
Urge a criação de um Centro de Atenção Integrada da Saúde da Mulher! A sociedade deseja ser parceira do Poder Público, a fim de que saiamos definitivamente dessa posição de recordistas de mortes de gestantes, e passemos a dar a atenção correta às mulheres, sobretudo as que estejam em gestação ou clico puerperal.
Nestor Fidelis é advogado em Mato Grosso