O término de uma relação nem sempre é fácil.
Tínhamos “a sorte de um amor tranquilo...” e esse amor começa a fazer uma falta danada.
Depois da separação, a gente fica um tempo, às vezes longo demais, irremediavelmente apaixonado por uma série de coisas e temos a péssima mania de ficar nutrindo a saudade com as memórias do tempo que esse amor durou: músicas, fotos, lugares, comidas, etc. Tudo isso, vai martelando a vida nova que se quer surgir e machuca muito.
É preciso deixar o amor desimpregnar. Não é fácil e embora não exista receita, a gente cria as nossas.
O término de um amor é uma espécie de paixão roxa.
É um luto que não é eterno.
É um "buraco negro" que se forma dentro da gente, onde tudo que a gente faz para alimentá-lo, não sacia, não satisfaz, e nos sentimos cada dia mais e mais frustrados com esse buraco que parece se tornar cada vez maior e intenso.
No entanto, acredite, esse vazio passa e o buraco negro se fecha e some!
Isso mesmo. Esse luto, essa tristeza que aparece sem aviso, essa saudade que brota no olho... tudo isso passa, mas infelizmente, passa lento.
É preciso deixar o passado passar. Sim, passado. O que aconteceu ontem não é hoje e o futuro ainda é uma projeção.
O hoje importa para aproveitar o tempo e se conhecer de verdade, rever conceitos, prioridades. Amar-se afinal. Não egoisticamente, mas necessariamente sentir-se bem consigo mesmo e com os que te amam como você é.
Dar espaço para conhecer um novo amor? Sim. Mas não fazer isso só para esquecer o antigo. Fazer isso é enganar-se si e ao o outro, ao mesmo tempo. E algo que é construído sobre uma mentira já começa errado.
Respeitar os limites, sempre, é algo importante.
No fundo a gente sabe a hora de avançar, de recuar, de investir e de desistir. E isso não é sinal de fracasso.
Desistir é sinal de consciência, é sinal de que conhecemos os nossos limites. A vitória está em se conhecer. Quem se conhece, se ama mais, se respeita mais.
O término de qualquer relação é doloroso.
Temos a impressão de que algo vai raspando-nos a alma, e é isso mesmo.
Como numa reforma necessária para uma casa, é preciso transformar o coração para uma nova moradia: primeiro raspam-se as paredes, pinta-se de nova cor, trocamos os móveis de lugar, espalhamos flores e pronto, ficamos esperando.
A gente sente, gradualmente, todas as fases desse desprender-se, desse dissipar-se, desse desapegar-se, desse preparar-se, desse (des)esperar-se... tudo isso é um processo. Confie nele!
E assim vamos seguindo: (sobre)vivendo e amando.
O término de uma relação não é fácil, mas, também, não é o fim.
Edson Flávio é cacerense, doutor em estudos literários. Escreveu Aldrava (2020) e Utopias e resistências na obra de Pedro Casaldáliga – escritos escolhidos (2021). Instagram: @edsonflaviosantos