O apicultor e agricultor familiar Neuzo Antônio de Oliveira usou a Tribuna Livre da Câmara Municipal de Cáceres nesta segunda-feira, 28, para contradizer o discurso do Presidente do Sindicato Rural de Cáceres, que havia ocupado a mesma tribuna na semana anterior. Na ocasião, o presidente do Sindicato, Aury Paulo Rodrigues, afirmou que a missão do Sindicato Rural era representar todos os produtores rurais, desde o plantador de alface até os pecuaristas.
Neuzo Oliveira argumentou que a agricultura e o agronegócio são dois projetos distintos. Enquanto a agricultura é uma questão cultural, transmitida de geração em geração, o agronegócio é um projeto voltado para o lucro.
"O agricultor familiar é aquele que trabalha com sua família, sendo seu próprio patrão. Se ele possui empregados, ou seja, se torna empregador de outros, nesse caso, ele pode se filiar ao sindicato patronal, que é o Sindicato Rural", explicou o Sr. Neuzo.
Ele afirmou que a representação da agricultura e dos trabalhadores da agricultura é função do STTR, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, destacando que o STTR, juntamente com a CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, desempenhou um papel fundamental na minimização dos prejuízos para os trabalhadores rurais durante a reforma da previdência, uma pauta que não contou com o apoio dos sindicatos patronais.
O Sr. Neuzo explicou que não são contrários ao Sindicato Rural: "Não somos contra o sindicato patronal. Eles mencionaram parcerias, e essas parcerias são importantes. Seria um sonho poder sentar com o sindicato patronal e discutir questões como a Reforma Agrária e o uso de agrotóxicos que afetam as abelhas. Para a Marcha das Margaridas, que homenageia uma trabalhadora do campo assassinada, houve cooperação. A FASE foi parceira, o MST foi parceiro, muitas organizações sociais foram parceiras, porque a pauta era comum, e essa pauta foi levada ao Governo".
Margarida Alves foi assassinada por fazendeiros em 12 de agosto de 1983, a mando de fazendeiros da região onde presidia o STTR local.
Sobre os Direitos da Natureza, o Sr. Neuzo deixou claro que a luta continuará. Ele explicou que acredita nas leis que surgem dos movimentos sociais e que, muito antes da Bíblia, Deus já se manifestava aos seres humanos por meio da Natureza. Ele lamentou que, nas audiências públicas em que foram discutidos os Direitos da Natureza, não tenha havido nenhuma manifestação contrária. No entanto, de forma misteriosa, poucos dias após a aprovação unânime na Câmara, uma votação apressada e sem discussão revogou os Direitos da Natureza.
Aprovada em 17 de julho por unanimidade na Câmara de Vereadores de Cáceres, a emenda recebeu o pedido de "imediata revogação" em 9 de agosto, por meio de um ofício encaminhado pelo Sindicato Rural, atualmente presidido por Aury Rodrigues. A solicitação classificou a medida como inconstitucional e, por isso, deveria ser revogada. Em 14 de agosto, foi revogada com o voto de 13 dos 15 vereadores.
Parte da fala do ambientalista pode ser vista aqui: