Trote mobiliza dezenas de policiais
Por Diário de Cuiabá
08/05/2012 - 05:09
Ao menos 80 policiais – entre civis e militares - foram mobilizados para atender uma denúncia de invasão seguida de sequestro no prédio comercial Wall Street Center, na Avenida Isaac Povoas, em Cuiabá. A informação era de que quatro homens - com armas de grosso calibre e uma granada - teriam invadido o prédio.
Os criminosos estariam com reféns, e a polícia foi obrigada a fechar o trânsito e a retirar as pessoas que chegavam para trabalhar. Após duas horas e 10 minutos (entre as 8h50m e 11 horas), porém, os policiais descobriram que se tratava de um simples trote.
Segundo policiais militares, eles foram acionados pelo Centro de Operações Integradas de Segurança Pública (Ciosp) e a primeira viatura chegou ao local três minutos depois. Na sequencia, apareceram mais viaturas e policiais; somente o Batalhão de Operações Especiais (Bope) mobilizou 25 policiais, utilizando todos os equipamentos possíveis.
“Não trabalhamos com trote. Chegamos ao local da ocorrência para fazer nosso trabalho. Claro que, ao final, nada foi encontrado e vimos que se tratava de uma brincadeira”, afirmou um policial.
As falsas informações davam contam de que a confusão ocorreu no sétimo e último andar, onde havia reféns no banheiro de uma empresa do ramo de reflorestamento. Funcionários de um consultório médico e clientes que estavam no mesmo andar foram obrigados a deixar o prédio às pressas.
“A gente não sabia o que estava acontecendo. Era perto das 8 horas quando chegaram os policiais e pediram para a gente descer. Descemos pelo elevador. Não sabíamos o que estava acontecendo”, relatou a funcionária do consultório, que aguardava do lado de fora do prédio o andamento dos trabalhos policiais.
Conforme os PMs, eles tiveram que vasculhar todas as 77 salas comerciais do prédio, além de muitas mochilas, uma vez que os criminosos poderiam ter escondido os artefatos explosivos em bolsas comuns. “Daí a necessidade da verificação cuidadosa, pois não sabíamos o que continha em cada bolsa”, assinalou tenente Guilherme Gahyva, da Rotam, que estava no local.
A empresa à qual se referia a denúncia estava fechada. Com a ajuda da chave do proprietário, os militares abriram a porta e a encontraram vazia.
ELITE - A Polícia militar mobilizou quatro atiradores de elite instalados em locais estratégicos caso os supostos sequestradores resolvessem sair pela escada ou colocassem os reféns na janela. O helicóptero da corporação também ajudou a vigiar o terraço do prédio caso os criminosos resolvessem sair pelo telhado. Um gasto imenso para atender um trote, observaram populares que estavam no local assistindo o trabalho dos policiais.
Para o comandante do Comando Regional I, coronel Jadir Metelo Costa, em operações especiais é mobilizado o que a corporação tem de melhor, já prevendo as piores situações. “Em se tratando de trote, o gasto é imenso, pois o estresse dos policiais para vivenciar aquela situação limite é incalculável”, observou.
Essa é a segunda vez que PMs mobilizam um grande aparato por causa de um trote no mesmo prédio. Em 2002, havia a denúncia de que um homem tinha feito algumas pessoas reféns. O prédio inteiro foi vasculhado e nada de sequestrador.
“Um só homem mobilizou dezenas de policiais para o nada”, observou um funcionário de uma empresa no Wall Street Center que, na ocasião, trabalhava no mesmo local. “Só não tinha idéia de que ocorreria novamente”, completou.
AUTOR DO TROTE ACABA PRESO
A polícia identificou e prendeu Paulo Rodrigues Pereira, 47, morador do Jardim Vitória (e que se apresenta como ex-policial militar), como sendo o autor do trote que desencadeou uma mega-operação policial na manhã de ontem. Pereira, que não portava nenhum documento, é apontado como responsável por 29 trotes feitos ao serviço de emergência do 190, no Ciosp, somente este ano.
Ontem, rastreando o chip de um celular dele, em menos de 5 horas a polícia o descobriu em casa, de onde ele supostamente passou dois trotes, um na condição vítima, fazendo-se de zelador, e outro como bandido. Na primeira ligação, feita às 8hs, Paulo Pereira comunica que quatro homens encapuzados e armados com pistolas haviam invadido o edifício e feito reféns. No diálogo gravado pela polícia, Pereira, com respiração ofegante, simula que está descendo a escada e, num determinado momento, diz que machucou a perna ao fugir dos bandidos.
Ele implora por ajuda, dizendo que os bandidos estão violentos e chega a declarar que ouviu uma conversa entre os ladrões e que um deles seria conhecido como “Neguinho do Parque do Lago”.
Na segunda ligação, cerca de 35 minutos depois, quando a polícia já havia montado a operação, o Ciosp recebe outro telefone do mesmo número e voz, no qual um homem, que a polícia diz ser Paulo Pereira, se identifica como um dos ladrões que invadiram o prédio. “Se o Bope entrar aqui, vamos matar os reféns, as três mulheres”, ameaça.
Pereira reconheceu que as ligações saíram do telefone dele, mas não confessou culpa. Alegou que naquele horário estava na policlínica do Planalto e que os trotes poderiam ter sido passados pelo filho dele.
Para o comandante da PM, coronel Osmar Lino Faria, a semelhança da voz dele com a do homem que fez as duas ligações não deixa dúvida. ”Nem precisa ser um perito para ver isso”, diz Faria. Entregue no Cisc-Planalto, Pereira pode ser responsabilizado criminal e civilmente por “falsa comunicação policial”. O comandante da PM quer que o acusado indenize a polícia pelas despesas da operação policial.