Criança "ideal"
Por por Tânia Nara Melo
26/05/2012 - 17:53
Recém-nascidos, ou com no máximo três anos de idade, pele branca, cabelos e olhos claros, sem qualquer deficiência física ou mental e saúde perfeita. Este é o perfil exigido por boa parte dos casais que estão em busca de crianças para adoção. É o que se costuma chamar de ‘criança ideal’. Nesse perfil, no entanto, não se encaixa a grande maioria das crianças que hoje estão em casas e abrigos à espera de uma família.
Talvez por isso haja uma disparidade nos números comparativos de famílias que querem adotar e crianças que esperam pela adoção, já que cerca de 80% das famílias que estão na fila de espera para "adoção" buscam meninas de no máximo três anos e sem irmãos. Os dados mostram que 77% das crianças aptas para adoção têm irmãos e não podem se separar. Hoje, no Brasil, quase 30 mil casais estão na espera pela adoção, bem mais que as cinco mil crianças cadastradas. Ainda assim, a fila não anda, por causa das exigências dos futuros pais. O desejo de encontrar uma criança "ideal" afasta os pais dos possíveis filhos adotivos. Esse é um quadro que precisa mudar.
Ontem comemoramos o Dia Nacional da Adoção, data criada em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção e que nos leva a refletir sobre uma questão que cada vez mais vem merecendo a atenção da sociedade. Além de minimizar os entraves burocráticos _ que não são poucos e muitas vezes acabam levando casais a procurarem caminhos alternativos _ é preciso cada vez mais desenvolver campanhas para mostrar que a adoção acima de tudo é um ato de amor e que não importa a cor da pele, do cabelo, dos olhos, ou a idade. Amor se dá incondicionalmente, do contrário não é amor.
Também é necessário mostrar que na adoção de crianças maiores de três anos, quando os novos pais imaginam que esses meninos ou meninas que já sofreram muito, tenham numa nova vida marcas do passado, as experiências práticas evidenciam o contrário, mostrando crianças sedentas de carinho que retribuem por dez aquilo que recebem dos pais adotivos. E mais: que amparadas, as crianças ganham confiança para construir o futuro.
Já está havendo mudança de comportamento, com uma abertura maior por parte das famílias em adotar crianças com perfil diferente daquele tradicionalmente procurado. Ainda assim tudo acontece de forma muito lenta. É preciso acelerar o ritmo, pois temos mais de 4 mil crianças em situação de abandono. Além do mais, não existe ‘criança ideal’ ou ‘filho ideal’, existe sim uma troca afetiva que pode se mostrar uma experiência maravilhosa para aqueles que estiverem abertos a vivenciá-la.
TÂNIA NARA MELO é editora de Opinião do Diário