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Resenha:"Como me libertei do alcoolismo'
Por DC/Ilustrado
19/05/2014 - 11:30

Foto: ILUSTRATIVA
por Antonio Padilha de Carvalho*
 

É a única doença da qual homens e mulheres sofrem e cuja natureza é tal que ela convence essas mesmas pessoas de que não estão doentes

 
Esse é o título do excelente livro do Juiz “Bill C.”, onde ele conta com muita propriedade a maneira de como se livrou do alcoolismo, doença responsável pela derrocada de muitas pessoas e famílias. 

O alcoolismo é uma doença refreável, não curável. O alcoólatra sóbrio pode garantir que foi ao inferno e voltou. 

O alcoolismo é, sem dúvida alguma, a mais mal interpretada e mal compreendida doença em todo o mundo. É a única doença da qual homens e mulheres sofrem e cuja natureza é tal que ela convence essas mesmas pessoas de que não estão doentes. É exatamente por isso que tem causado mais problemas, mais sofrimento, mais miséria do que qualquer outra doença da qual a humanidade já tenha sofrido. 

O mundo está cheio de alcoólatras. Ninguém sabe quantos. Eles levam vidas horríveis, miseráveis, terríveis. Nem um só deles sabe que é um alcoólatra. A idéia de ser alcoólatra é tão repugnante para eles que se recusam até mesmo a ouvir falar sobre o problema, ou pelo menos, a ouvir falar de que são doentes alcoólatras. 

Um alcoólatra é a pessoa que nunca em sua vida, mesmo antes de tomar seu primeiro gole, aprendeu como viver e como desfrutar a vida. Ele tem as mesmas esperanças, os mesmos sonhos, as mesmas aspirações que qualquer pessoa normal. Ele quer ser feliz. Quer gozar a vida, quer ser aceito, quer amar e ser amado, independentemente do seu grau de instrução e cultura.

Talvez tenha recebido grandes honrarias, que lhe foram conferidas por sua instrução. Ele pode ter recebido todos os tipos de diplomas. Pode se ter formado em grandes Universidades. Mas, emocionalmente, continua a reagir como uma criança. 

Muitos alcoólatras não gostam do sabor do álcool, mas se encantam com o que o álcool faz para eles. 

O alcoólatra gosta de chamar a atenção para si. Deseja ser o centro das atenções. Agora, pode cantar, dançar, contar histórias engraçadas. Ele encontrou o elixir da vida. Ele não sabe, mas já se tornara psicologicamente dependente anos antes de se tornar fisicamente dependente, e não reconhece isso. 

Todos os alcoólatras são pessoas imaturas voltadas para si mesmas, arrogantes, egoístas. 

Pessoas desequilibradas nunca acham que são desequilibradas. 

Aquele que conquista a si mesmo é maior do que aquele que conquista uma cidade. O alcoólatra não aprendeu a lidar com a vida. Não aprendeu a viver. Não tem respeito próprio, não tem paz de espírito, não tem humildade, não tem um Deus em quem possa confiar, não tem um Deus amigo. Não sabe viver, não sabe amar, não sabe compartilhar com as pessoas. Não tem amigos próximos, íntimos. 

Os que não se recuperam é porque não podem ou não querem ser honestos consigo mesmos. Tornar-se honesto consigo próprio é, sem qualquer dúvida, a coisa mais difícil que qualquer indivíduo, alcoólatra ou não, já tentou fazer. 

É muito raro encontrar uma pessoa que seja absolutamente honesta consigo mesma. 

A auto-honestidade parece ter suas raízes no solo do desespero. 

Eu era uma criança arrogante, egoísta e voltada para si mesma. Quando criança, meus pais deram-me tudo o que eu queria. Eles atendiam prontamente a todos os meus desejos. E, portanto, tornei-me cada vez mais egocêntrico. 

A pessoa normal amadurece sob três aspectos. Ela amadurece fisicamente, intelectualmente e emocionalmente. Eu amadureci em somente dois aspectos: Física e Intelectualmente. 

A pessoa voltada exclusivamente para si própria não tem amigos, porque ela não pode igualar-se a ninguém. São solitários, andam pela vida toda sempre sós. 

Para ser sadio, o homem tem de ter saúde física, mental e espiritual. 

O alcoolismo é uma doença tão mal compreendida que, mesmo hoje em dia, as famílias dos alcoólatras a escondem, a encobrem. 

A única maneira pela qual se pode esperar que uma doença seja superada é compreendendo-a e trazendo-a á tona. 

Aprendi no AA que não se consegue assustar um alcoólatra. 

Quando Deus criou os seres humanos, incutiu-lhes certos desejos e certas necessidades. Há a necessidade de comida, de proteção, de beber, de sexo. Mas há uma necessidade ainda maior: a de ser amado e de amar. 

Não demorou muito até eu concluir que as pessoas que valiam alguma coisa neste mundo eram pessoas que bebiam. Comecei a não gostar das pessoas que não bebiam. Pensava: Não se pode confiar em alguém que não bebe. 

Tentei e tentei, com todo o empenho, não beber muito, mas eu era incapaz de controlar a quantidade que ingeria. 

Um bebedor periódico é um bebedor diário assustado. Eu prometia a mim mesmo, prometia à minha esposa, prometia a meu Deus que nunca mais beberia uma só gota de álcool. E era sincero. Mas, é claro, eu ainda era prisioneiro daquela obsessão mental e sempre voltava a beber. 

Uma vez que se perde a tolerância ao álcool, a pessoa está perdida para sempre. 

Graças à AA, eu tenho um novo Deus, bom e amoroso, e sei que nenhum ser onipotente poderia ser tão mau a ponto de condenar ao inferno uma pessoa insana. E sei que qualquer ser humano que queira morrer é insano. 

O alcoólatra é um indivíduo muito estranho e complexo. Ninguém quer ser um alcoólatra. 

O AA não ensina parar de beber, ensina a viver. A maior oração do mundo está contida nessas três palavras: “Deus, me ajude!” É a oração que reconhece a verdade simples, segundo a qual o homem é indefeso e impotente em relação à vida. Deus é um Ser Supremo. Deus está no controle. 

Descobri que pessoas maravilhosas, verdadeiramente maravilhosas, se haviam tornado dependentes do álcool. 

Você nunca se recuperará do alcoolismo até que algum dia, em algum lugar, você reúna coragem para se levantar em uma reunião da AA, admitir que é um alcoólatra e contar parte de sua história. 

Eu sabia que quando bebia, perdia o domínio sobre minha vida, mas não sabia que eu jamais tinha tido domínio sobre ela, e que tinha recorrido ao álcool justamente para fugir do fato de que eu nunca tinha tido esse domínio. 

A coisa mais difícil é convencer um alcoólatra de que o alcoolismo é uma doença tríplice. É física, é mental e é espiritual. 

O alcoolismo é uma doença que pode acometer um papa, um borracheiro, um médico, um juiz, um presidente da república ou um príncipe. 

Haviam mais defeitos em mim do que simplesmente não poder controlar minha bebida. 

Deus todo poderoso, nosso Pai Bom, jamais coloca um obstáculo no caminho de alguém senão para ensiná-lo a transpô-lo. 

Fui à AA e aprendi como viver, como amar e como lidar com a vida. 

AA ensina-nos como aceitar as coisas que não podemos modificar, como ter coragem para modificar aquelas que podem e como adquirir sabedoria para distinguir umas das outras. 

Uma das razões por que sou feliz por ser um alcoólatra é que, por ir à AA e trocar experiências de vida com outras pessoas, tornei-me suficientemente honesto comigo mesmo para descobrir, para minha surpresa, que sou uma pessoa comum, semelhante ao próximo. Não há absolutamente nada de excepcional em mim. Eu não sou excepcionalmente inteligente. Não sou excepcionalmente abençoado e não sou excepcionalmente amaldiçoado. 

Ao descobrir que sou comum, um ser humano como todos os outros, estou aprendendo a enfrentar a vida. Todas as dores de cabeça e misérias do passado ocorreram não porque eu tivesse sido amaldiçoado por Deus, mas porque não sabia como lidar com elas. Todos os seres humanos têm problemas. Todos os seres humanos cometem enganos. 

Os problemas não desapareceram depois que parei de beber, apenas aprendi a enfrentá-los com coragem. Deixei a covardia de lado. 

O programa de AA é um programa simples para pessoas complicadas. 

Os dez mandamentos de Deus dizem às pessoas o que elas não devem fazer. Os doze passos de AA são sugestões do que as pessoas devem fazer, se desejarem amadurecer espiritualmente. 

Um indivíduo espiritualmente maduro não tem deuses estranhos. 

Um indivíduo espiritualmente maduro não mata, não rouba, não presta falso testemunho contra seu próximo, não faz uso de drogas. Não sente inveja ou cobiça pelos bens de seu próximo, ou pela mulher alheia. 

O homem espiritualmente maduro não é honesto somente porque sabe que essa é a melhor política. Ele sabe que, quando não vive de acordo com seu próprio código moral de conduta, pune a si mesmo mais que qualquer Deus ou qualquer autoridade poderia puni-lo. 

Deus não pune ninguém. Nós que nos castigamos material e espiritualmente. 

Força de vontade funciona com muitas coisas, mas não funciona em se tratando de compulsão física. Se não acreditam nisso, algum dia, quando tiverem um caso grave de diarréia, tentem usar sua força de vontade. 

Somente um alcoólatra consegue entender outro alcoólatra. 



*Antônio Padilha de Carvalho é Advogado, Geógrafo, Especialista em Educação, direito do Estado e Filosofia; Presidente do IMPDrog – Instituto Mato-grossense de Prevenção às Drogas
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