Marina Silva e Pedro Taques não representam nada de novo na velha política nacional
É realmente impressionante a forma inescrupulosa como certas pessoas abusam da nossa inteligência. Apostam que o povo não tem capacidade de discernimento, como se vivêssemos em estado permanente de Alzheimer.
Fico atônito ao ver uma candidata que está a mais de vinte anos na política e caminha para seu quarto partido, o terceiro em menos de quatro anos, se apresentar como uma ruptura à velha política. Marina Silva foi filiada ao PT, na eleição passada foi candidata pelo PV, criou um partido chamado Rede, no qual se filiará em janeiro e nesta eleição é candidata pelo PSB.
Foi batizada na igreja católica, andou pelos terreiros do Santo Daime e agora é evangélica. Durante o período no qual foi senadora e ministra do Partido dos Trabalhadores, defendeu com unhas e dentes o conteúdo programático do PT.
Há uma insatisfação geral com a política e obviamente com os políticos. O cidadão, já há muito tempo condenou o modelo atual. Uma das maiores criticas é a da esculhambação que viraram os partidos políticos, que deixaram de ser agremiações de pessoas com as mesmas ideias e ideais para se transformarem num ponto de confluência de interesses particulares.
A critica é muito pertinente, pois além do fisiologismo escancarado, vários partidos viraram siglas de aluguel e alguns se prestaram a serem barriga de aluguel, como é o caso do PSB.
Marina Silva, ao trocar de partido ao sabor de seus interesses momentâneos, demonstrou que não tem qualquer compromisso com conteúdo programático e passa uma mensagem bem clara de que não terá também nenhum compromisso com seu plano de governo, o qual já foi alterado recentemente por um certo pastor, muito menos dá para acreditar que irá honrar suas propostas apresentadas no horário eleitoral.
Chega a me dar arrepios quando vejo um candidato com o discurso do novo. Não existe nada mais velho na política do que esse discurso fácil. Desde que eu me entendo por gente é o mesmo bla-bla-bla. Pessoas comprometidas até o pescoço com as velhas e condenadas práticas se apresentando como a ruptura. Logo me vem à mente a eleição do Collor de Mello e, mais recentemente em MT, a eleição de Baliro Maggi, que veio para quebrar paradigmas.
O grupo liderado por Blairo, denominado turma da botina, tem em seu núcleo duro o seu primo Eraí Maggi, Otaviano Piveta e Luis Antonio Pagot, e por trás destes, a Aprosoja.
Blairo foi eleito em 2002, com um discurso de renovação e entre suas promessas de campanha estava a extinção do Fethab, a redução do tributo da luz e a redução imediata do duodécimo repassado à Assembleia Legislativa.
O que se viu na prática, durante o governo dessa turma denominada da botina, foi o Fethab virar o carro chefe dessa gestão e o repasse para a Assembleia aumentar mais de dez vezes.
Blairo governou por sete anos e o seu grupo elegeu seu sucessor, Silval Barbosa. Foi na gestão dessa turma, que continua no poder até hoje, agora de forma indireta, que aflorou tudo de ruim na política de MT, inclusive os maiores escândalos de corrupção: MT saúde, maquinários, precatórios, dentre outros.
Foi na gestão desse grupo que repito, continua no poder, pois elegeu seu sucessor, que MT viveu o apagão na educação, a escalada na criminalidade e o desmonte na saúde, com o tiro de misericórdia com o Partido Progressista de Pedro Henry e de Carlos Fávaro, vice candidato a governador e também do empresário Eraí Maggi.
A maior especialidade da turma da botina é a sobrevivência no poder. Afinal nunca ganharam tanto dinheiro com os expedientes do incentivo e da sonegação fiscal. Também construíram belíssimas estradas asfaltadas na portas de suas fazendas, aumentando o valor dessas propriedades em até cinco vezes.
O coordenador da candidatura a presidente do PSB em MT, Suelme Biela, pulou nessa onda do novo e viajou na maionese. Conheço o Suelme da época que veio para o PSB pelas mãos de Valtenir Pereira, com ideias de esquerda, defendendo com unhas e dentes o socialismo e combatendo veementemente as elites predadoras, hoje representada pelos barões da soja.
Recentemente, li um artigo do senhor Suelme, dizendo que Lúdio Cabral, candidato a governador, representa as velhas práticas políticas e a continuidade do governo atual. Admiro e pessoalmente gosto muito do Suelme. Estivemos juntos na eleição de 2010, mas neste caso, das duas uma, ou ele bateu biela e está esquizofrênico ou virou um sabujo, um pau mandado a serviço das velhas elites que ele tanto condenava tempos atrás.
Não quero que Suelme fique chateado com essas criticas, pois eleição é passageira e não devemos levar as rusgas eleitorais para dentro de nossas casas. O coordenador do PSB está na coligação do candidato Pedro Taques.
Reconheço que o senador Taques é uma pessoa obstinada e muito dedicada ao que faz. Como procurador da República teve momentos brilhantes, é extremamente focado em seus objetivos, mas será que o Suelme e as demais pessoas com o mínimo de discernimento acha que se o senador Pedro Taques vencer as eleições e tornar-se governador de MT, irá promover uma ruptura com o grupo que está no poder?
Nos últimos dias as manchetes de vários sites deram destaque ao suntuoso montante que a família Maggi doou milhões ao senador Pedro Taques. O coordenador operacional dele é Luiz Antonio Pagot, o coordenador geral é Otaviano Piveta, o seu vice é presidente da Aprosoja. Será que Suelme considera isso o novo? Uma campanha patrocinada pelas mesmas pessoas que estão no poder desde 2002.
Ou será que para ele o novo é torrar um caminhão de dinheiro para se eleger prefeito e depois direcionar licitações para seus maiores doadores? Será que o novo é pegar emprestado dinheiro de agiota e depois lhe entregar a conta de combustível?
O novo que ele prega é lotear cargos no governo para partidos aliados e trocar cargos comissionados por apoio político para seu afilhado, que faz uma campanha bilionária.
Tenho que lembrar ao digníssimo coordenador do PSB em MT, que seu patrão, Mauro Mendes, em sua primeira campanha dizia que Wilson Santos era um atraso na política de MT, era incompetente e mentiroso. Eis que agora Wilson Santos e o PSDB são pilares de sustentação da candidatura de Pedro Taques.
Lembro também o Partido Republicano que tem entre suas maiores lideranças em MT, o senador Blairo Maggi, indicou o vice de Mauro em 2012 e comanda várias secretarias atualmente em Cuiabá.
Lembro-me de um outro artigo do senhor Suelme, dizendo que Chico Galindo também representava o atraso e sua única obra era pintar meio fio.
Quero lembrar que seu partido, PTB, faz parte da base aliada do governo municipal e Chico Galindo indicou pessoalmente um secretário para a gestão de Mauro Mendes, o qual dizem ser seu sobrinho. O PTB, juntamente com Chico Galindo, apoia Pedro Taques.
Será o novo para Suelme uma semana declarar apoio a um determinado candidato a presidente em visita a Cuiabá, e na outra semana, embalados pelas pesquisas eleitorais, montar comitê para outro candidato?
Eu não estou aqui defendendo o candidato Lúdio, não trabalho para o Lúdio, não faço parte de sua coligação e não tenho cargo no governo. O que eu quero aqui defender é o respeito à inteligência das pessoas. O que eu quero defender é um mínimo de coerência entre o discurso e a prática. Senão vira cabaré de cego.
Sinto muito Suelme, mas essa não vai colar, vamos lá: o grupo que elegeu Blairo Maggi foi o grupo que elegeu o seu sucessor, Silval Barbosa, é o mesmo que agora quer eleger Pedro Taques, portanto, quem é a continuidade?
RODRIGO RODRIGUES é jornalista