Ao nos encontramos com dois amigos, ouvimos o mais jovem comentar que uma pessoa havia dito que queria ser sua mãe. O outro amigo, mais experiente, brincou dizendo que sua verdadeira mãe deveria ter passado açúcar no rapaz, quando este era bebê, pois muitas mulheres vivem dizendo que queriam ser mãe daquele moço gentil, amoroso, íntegro.
É claro que se trata de uma lisonjeira brincadeira, uma forma de reconhecer virtudes já trabalhadas num homem ainda em idade juvenil. No entanto, não são poucas as pessoas que diante de um simples ato de polidez, de carinho, ou mesmo de uma natural atenção de outrem, já se encantam de forma menos vigilante ao ponto de que alguns verdadeiramente se apaixonam, independentemente da idade, da condição social, do sexo, enfim, de quaisquer fatores que, à primeira vista, segundo as convenções sociais, pudessem ser considerados afastadores de qualquer ligação mais íntima com aquele que tão-somente agiu com gentileza, com essa virtude que é filha do amor.
Na realidade, as pessoas, em termos genéricos, se apresentam nos dias atuais com grandes carências afetivas, buscando se sentirem amadas, valorizadas, deixando de perceber que o antídoto para essa angústia é justamente amar, dar amor, tanto a si mesmo, quanto ao próximo. Perante uma situação em que alguém lhe trata com singela atenção fraternal, a pessoa emocionalmente carente, não habituada a um tratamento mais nobre, já se considera privilegiada, ou se encanta (por sua própria conta e risco) ou até mesmo se vê alvo de uma investida para um relacionamento afetivo; em outras palavras, já pensa: “ele(a) está dando em cima de mim”.
As pessoas estão muito desacostumadas a serem tratadas com carinho e amorosamente, no mais profundo sentido da palavra “amor”.
Muita gente xinga no trânsito; basta que estejam ao volante para saírem agredindo aos outros. Há, inclusive, aqueles que pensam que agindo assim estão fazendo o bem de se liberarem de uma carga de estresse do dia-a-dia, quando, em verdade, estão ampliando uma onda energética de violência que gera mais desamor, alimentando um círculo vicioso do ódio, da desavença.
Infelizmente, amigos de longa data se tratam por apelidos pejorativos, geralmente voltados para questões da sexualidade, mesmo sabendo que o outro não gosta de ser tratado daquela forma nada engraçada. Ora, o ideal é promover o outro, respeitar, valorizar o que o outro é de melhor, ajuda-lo a se reerguer, porquanto amar ao próximo se constitui numa realidade ao alcance de todos, não se tratando de mera filosofia cristã que somente será vivenciada “se” algo espetacular acontecer, ou “quando” a pessoa se sentir preparada, isto é, após muito pranto e ranger de dentes.
Por que deixar para depois a felicidade que nos é possível no presente, aqui e agora? Viver o amor e um estado de gratidão é a forma fática de trazer mais leveza para as árduas provas que a vida nos convida a passar e aprender com as mesmas.
É válido estarmos em automonitoramento a fim de que, todas as vezes que nos pegarmos com a tendência de ofender a outrem, conquanto de forma “pseudoengraçada”, mudemos de atitude para uma de mais carinho e respeito, valorização e promoção. Isso é um salutar labor diário a que somos convidados a fazer, contribuindo com o exemplo para que os outros assim também ajam; e tal mister independe de nossas mães terem passado açúcar em nós.
NESTOR FERNANDES FIDELIS