A propaganda vai muito além da venda, quem trabalha em nossa área sabe bem isso. Apesar de oferecer produtos e serviços, também marca territórios, cria estilos, faz o mundo ser um lugar diferente.
Quem não se lembra do anúncio do Apple Macintosh fazendo uma analogia com o livro 1984 de Geroge Orwell? Ou mesmo o anúncio sobre o primeiro sutiã, de Washington Oliveto em 1987?
A propaganda rompe barreiras, isso é indiscutível. Entretanto, a pressa característica dos tempos em que vivemos acabam por deixar a criatividade submissa da produtividade eficaz e exaustiva. Os clientes querem resultados imediatos e nós corremos o risco de deixamos de ousar e seguimos por caminhos “seguros”, que não trazem nada de novo.
O anúncio do Boticário para o dia dos namorados desse ano levou uma mensagem que não se limitou a uma marca, um produto ou promoção. Os quatro ‘P’ do marketing ganharam mais um, o de polêmica. Ao mostrar diferentes casais, heterossexuais e homossexuais trocando presentes, a propaganda gerou muita discussão, sobretudo nas redes sociais na Internet.
Aqui não quero dar minha opinião pessoal sobre as relações de gênero, uma vez que escrevo em nome de uma instituição que agrega agências de propaganda de todo o estado de Mato Grosso. No entanto, o resultado desse anúncio nos mostra que aqueles trinta segundos na TV, aquela arte num impresso ou um spot que ouvimos no rádio do carro, por exemplo, podem promover transformações, criar diálogos, instigar a sociedade sobres temas importantes.
A nova propaganda também exige sensibilidade, atenção ao mundo em que vivemos, urgência, velocidade, informatização, isso tudo faz parte das nossas vidas. Mas, devemos ter a coragem de olhar além, dar passos para fora do confortável. Fazer nossos clientes entenderem a importância da mensagem, que ela vai além da venda, da propagação da marca.
Essa tão temida nova propaganda é aquela que queríamos fazer quando estávamos começando, audaciosa, com sal e pimenta. Infelizmente não existe receita e esse “tempero a gosto” é o que vai diferenciar os profissionais brilhantes dos medíocres, daqueles que vão seguir no mercado, dos que ficarão sentados reclamando que o mundo está perdido.
Cláudio Cordeiro é Presidente do Sindicato das Agências de Propaganda de Mato Grosso