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Psiquiatria:Quando aparece o pânico
Por Alecy Alves/Diário de Cuiabá
05/06/2016 - 06:37

Foto: Diário de Cuiabá

Talvez isso explique porque ainda há quem relacione enfermidades cerebrais a fraqueza emocional, doença da alma, falta de capacidade psicológica de lidar com as dificuldades cotidianas e até chilique para chamar a atenção. 

A síndrome do pânico, uma disfunção neuroquímica que atinge entre 1% e 3% da população no mundo, se enquadra perfeitamente na lista das patologias “diagnosticadas” pelo senso comum. 

Mas, ao contrário do que muitos entendem, as crises de pânico podem isolar e tornar uma pessoa incapaz para as atividades mais comuns. E não passam sem medicação. Ir ao supermercado ou buscar o filho na escola, por exemplo, tornam-se tarefas subumanas. 

Não reconhecer como doença física ou minimizar a gravidade não é o melhor caminho, orienta a psiquiatra Andréia Fetter Torraca. A especialista explica que as alterações corporais, de pensamento e de comportamento acontecem por disfunções neuroquímicas de determinadas áreas cerebrais. 

“Não é uma doença psicológica, é um transtorno físico do cérebro que pode gerar sintomas psicológicos”, reforça Andréia Torrada. De acordo com ela, na maioria dos casos é necessário administrar medicamento já a partir da segunda crise. 

A psiquiatra observa que as alterações corporais, de pensamento e de comportamento geradas pela crise são decorrências de disfunções neuroquímicas em áreas do cérebro como hipocampo, córtex pré-frontal e outros. 

O hipocampo é um órgão pequeno situado dentro do lóbulo temporal central do cérebro e é parte importante da região que regula emoções. Já o córtex pré-frontal é responsável pela memória, fazendo com que estímulos ou informações sejam neurocognitivamente capturadas e processadas. 

No caso da empresária M.C.M., 45 anos, as primeiras crises de pânico se manifestaram na forma de pavor de avião, da recusa em viajar. Depois, passaram a acontecer sem motivos aparentes. 

“Certa vez eu estava em uma festa de aniversário. Servi o jantar e, quando retornei para a mesa, não consegui permanecer no local. Não deu tempo nem de dar a primeira garfada. Abandonei o prato e corri para o carro. Meu marido veio em seguida e assim fomos embora. Ele ainda retornou à mesa para inventar uma desculpa aos amigos. Tempos depois, eu soube que ele disse que eu havia recebido uma ligação sobre um problema na casa dos meus pais e por isso saí às pressas”, relata. 

A empresária conta que seu coração batia acelerado e a respiração parecia que estava parando. Ela quase não teve forças para chegar até o carro. O único pensamento que tinha era de morte, de morte instantânea se não deixasse o local imediatamente. 

Antes de receber o diagnóstico de síndrome do pânico, M. passou por cardiologistas e demorou anos a procurar um psiquiatra, porque nem ela e nem a família aceitavam a possibilidade de um desequilíbrio cerebral. 

Quase dois anos depois, ela diz que está sob controle e há pelo menos um ano não tem crises. M., assim como a maioria dos pacientes, não gosta de falar abertamente sobre a doença, por causa do preconceito. 

 
Pacientes resistem a procurar um psiquiatra


Segundo a psiquiatra Andréia Fetter Torrada, é comum os pacientes recorrerem a outras áreas da medicina antes de procurar ou receber orientação profissional de psiquiatria. O mais recorrente, diz, é que essa primeira busca seja ao cardiologista, por causa dos sintomas. 

A psiquiatra observa que há pacientes que fazem diversos eletrocardiogramas e outros exames mais avançados, porque não reconhecem ou não admitem a possibilidade de ter um desequilíbrio do cérebro. 

Andréia Fetter destaca que o tratamento médico consiste em fazer o diagnóstico diferencial entre outras doenças que tenham sintomas semelhantes e a utilização de medicações para promover o retorno da estabilidade dos neurotransmissores que apresentaram disfunções. 

Ela ensina que o ataque do pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto intenso, durante o qual ocorrem quatro ou mais dos seguintes sintomas: palpitação, sudorese, tremores ou abalos, sensação de falta de ar ou sufocamento, dor ou desconforto no peito, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, calafrios ou ondas de calor, formigamentos ou anestesia, sensações de irrealidade ou de estar distanciado de si mesmo, medo de perder o controle ou de “enlouquecer” e medo de morrer.
 
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