Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Folha de São Paulo destaca invenção de cacerense
Por GIULIANA MIRANDA/FOLHA DE SP
16/06/2013 - 08:32

Foto: arquivo
Pensando na proteção dos trabalhadores e nos consumidores de alimentos, um esforço conjunto da USP e da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) criou um teste rápido e portátil para detectar a presença de um pesticida cujo uso foi banido no Brasil, mas que ainda é encontrado em lavouras, sobretudo no Centro-Oeste. Hoje, a identificação do metamidofós depende de exames laboratoriais. Estados que não dispõem dessas estruturas precisam enviar suas amostras a outros lugares --principalmente São Paulo e Rio de Janeiro-- para detectar a substância, processo que leva até dez dias. Com o novo método, o agrotóxico é identificado em mais ou menos 30 minutos. "A detecção clássica de pesticida requer treinamento de pessoal e uso de equipamentos complexos, além da resposta demorada. Com a utilização do biossensor, daria para treinar o próprio produtor e os trabalhadores. É fácil de usar e ainda dá para levar no bolso", afirma Izabela Gutierrez de Arruda, autora do trabalho. Natural de Cáceres, em Mato Grosso, a pesquisadora diz que a realidade da agricultura em seu Estado, no qual trabalhadores rurais sofrem com a intoxicação pelo metamidofós, inspirou sua pesquisa. As propriedades desse pesticida fazem com que ele seja prejudicial para as funções neurológicas. Além disso, também causa danos aos sistemas imune, reprodutor e endócrino. O TRABALHO O conjunto funciona nos moldes de um leitor de glicose usado por diabéticos. Uma fita, que serve como reagente, é inserida no material a ser testado e, depois, colocada em um aparelho. O biossensor é uma película finíssima contendo a enzima acetilcolinesterase que, quando entra em contato com as moléculas do metamidofós, tem sua ação inibida. Isso diminui a produção de prótons, mudança que é "lida" pelo aparelho, levando à indicação dos índices de contaminação na amostra. O dispositivo detecta o agrotóxico na água e também nos alimentos --que precisam ser liquidificados antes de passar pelo exame. OUTROS USOS "Com esse mesmo princípio, seria possível identificar também outros agrotóxicos das classes dos organofosforados ou carbamatos [que incluem outros produtos em uso no Brasil]", completa a pesquisadora. Responsável por "abraçar" o projeto no IFSC (Instituto de Física de São Carlos) da USP, o professor Francisco Eduardo Gontijo Guimarães destaca o uso de tecnologia avançada, mas que cabe na palma da mão. "O uso de nanomateriais potencializou os efeitos da enzima e acelerou o processo", explica o pesquisador. Orientador do trabalho, Romildo Jerônimo Ramos, da Universidade Federal de Mato Grosso, diz que a pesquisa tem também um aspecto social muito importante, facilitando a identificação da contaminação dos lençóis freáticos e evitando que trabalhadores e moradores de regiões rurais sejam atingidos por seus graves efeitos. O biossensor já foi registrado. A descoberta foi a primeira patente da Universidade Federal de Mato Grosso. O grupo do estudo, que contou ainda com a participação do pesquisador Nirton Cristi Silva Vieira, aguarda agora investimentos para dar prosseguimento ao projeto, sobretudo vindo de empresas e indústrias. Os custos do aparelho devem ficar entre R$ 100 e R$ 200, mas podem ser reduzidos a depender da escala de produção.
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