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Resenha:"A espera de um milagre"
o que é bom deve ser preservado
Por Blog Apogeu do Abismo
15/04/2012 - 16:05

Foto: arquivo
Apenas para citar a importância e a qualidade do filme resenhado, vou fazer a seguinte questão: quantos de vocês assistiram a mais de seis horas de material sobre um mesmo filme, incluindo trailers, teasers, entrevistas, o próprio filme - claro - e o making of? Creio que poucos, pois chega um momento em que a coisa fica entediante, repetitiva e algumas vezes, incoerente, deixando a clara impressão de material inútil, apenas a tradicional "enrolação". Bem, já acordei de algumas sessões com material extra que, honestamente, agiram com mais eficiência que Diazepam. A verdade deve ser dita: se o filme é enfadonho, imaginem seu material de bastidores. Vi À espera de um milagre no ano de 2000. O ano do "bug do milênio" não trouxe o fim do mundo. Foi no primeiro ano do século XXI que descobri o poder da imaginação do homem. Foi neste mesmo ano que vi a outra face da moeda, onde nela estava estampado um lado que desconhecia de Stephen King, o mais produtivo escritor de horror que conheço. Eu ainda guardo em minha memória a imagem do pôster da época, com Tom Hanks em destaque. Em minha mente uma única conclusão: não sei o que trata este filme, mas Tom Hanks vai sair mal desta história... se sair. Descobri, então, o quanto estava enganado sobre tantas coisas. Tom não estava envolto em uma trama sobre monstros, vampiros, zumbis ou pessoas possuídas. Frank Darabont - quem?, pensei na época - não era mais um diretor imposto por um estúdio de cinema. O livro "The green mile" não era apenas mais uma trama de terror de Stephen King (se é possível aplicar a palavra "apenas" a um livro dele), mas seu mais belo e complexo trabalho literário. Nunca me enganei tanto com um filme e, acreditem, esse foi o melhor engano da minha vida. À espera de um milagre (1999) é um filme sobre prisão, em sua essência. Mas não se resume a isso. Nele, somos apresentados a um senhor muito idoso. Ele não parece se encaixar com o lugar em que está (um asilo) e recebe um pouco de compreensão e companheirismo por parte de apenas uma senhora, também moradora do asilo. A vida do senhor parece estar cercada por mistério e tristeza e, um dia, o velho homem resolve contar sua história para a mulher. E este é o começo de uma história linda, aterradora e cheia de suspense. Estamos no ano de 1935, um período de tensão, pois ele ainda carrega os estragos da grande recessão e também a tensão do pré-guerra. Paul Edgecomb é um líder. Ele trabalha em um presídio, mais precisamente no corredor da morte. Mas não é um lugar como os outros. Neste corredor, Paul preza pela paz. Para ele, não há motivos para atormentar os que já estão condenados à morte. Eles irão pagar por seus crimes e sabem disso e, assim, Paul e seus homens não atormentam os prisioneiros. O castigo chegará... Contudo, dois problemas rondam o Bloco E. O primeiro deles é uma dor crônica que atinge Edgecomb, principalmente quando ele vai urinar. As dores tem minado as forças e sua vida privada com a esposa. O segundo problema é o novo guarda da Milha Verde. Seu nome é Percy Wetmore, um homem pequeno, porém dono de uma enorme arrogância. Percy usa influências políticas para colocar os outros guardas em uma situação desconfortável. Ir contra Percy é pôr em risco o próprio emprego. Para piorar ainda mais, o Bloco E recebe dois novos ilustres visitantes: Wild Bill, um homem que é essencialmente mal, dono de um humor cáustico e de uma mente fria e, além dele, a prisão recebe o gigante John Coffey, um negro com mais de 2 metros de altura e, no entanto, com a mente de uma criança de 5 anos. Eis uma pequena descrição de S. King sobre John Coffey: "John Coffey era preto, como a maioria dos homens que vinha passar uma temporada no Bloco E, antes de morrer no colo da Velha Fagulha, e tinha dois metros e quinze de altura. Mas não era todo comprido e fino como aqueles sujeitos de basquete na TV - tinha os ombros largos, o peito estufado, coberto de músculos em todas as direções. Tinham posto nele uma roupa azul de brim do maior tamanho que encontraram no depósito, mas ainda assim as bainhas das calças ficavam a meia altura de suas barrigas da perna, encalombadas e cheias de cicatrizes. A camisa estava aberta até abaixo do peito e as mangas paravam em algum lugar dos antebraços... Dava a impressão de que poderia ter rompido as correntes com que estava preso com a mesma facilidade com que se rompem as fitas de presente de Natal, mas quando se olhava nos seus olhos via-se que ele não ia fazer nada disso." Também há outros prisioneiros como o índio Arlen, o francês Eduard Delacroix e um dos mais improváveis habitantes da Milha, o ratinho Sr. Jingles. Todos eles estão interligados de uma forma ou de outra. As relações são complexas, algumas vezes dolorosas, mas sempre envoltas em uma aura de expiação dos pecados. No corredor da morte do Bloco E, a famosa Milha Verde, testemunharemos conflitos, milagres, mortes e, principalmente, crescimento interior. Paul Edgecomb percebe a bondade em John Coffey e os dois começam uma amizade que irá mudar todos os que habitam, de uma forma ou de outra, o Bloco E. Há segredos nas vidas de Coffey e Wild Bill. Há fatos que desafiam o intelecto humano, a crença na ciência e, principalmente, nossa turva visão de certo e errado. O desenrolar do filme supera todas as expectativas que um filme de Stephen King pode gerar. Eu jamais imaginei que alguém pudesse oscilar tanto entre gêneros tão distintos quanto o drama e o horror. King prova que é um mito entre os escritores modernos por motivos óbvios. Preparem-se para um bombardeio de emoções, quase todas provocadas pela simplicidade e pela infantilidade de Coffey, brilhantemente interpretado por Michael Clarke Duncan. Devo destacar também a importância do apoio de Tom Hanks a todo o elenco, uma vez que ele era o líder natural de todos, não só no filme, como no cast de filmagem. A experiência de Tom e a vontade em ser John Coffey de Michael são pontos inesquecíveis das interpretações neste clássico. Todavia, não há uma única interpretação que enfraqueça o resultado final do filme. Todos os atores dão o máximo em suas interpretações, trazendo uma credibilidade inacreditável à trama. O diretor e roteirista relembra que os melhores filmes baseados em livros e contos de King são aqueles em que as personagens são o foco da história. À espera de um milagre é uma obra a ser vista acompanhado pela família, por pessoas que ama e com quem deseje compartilhar uma experiência única, inspiradora e, principalmente, cercada de uma aura de bondade capaz de transpor a tela. É, em suma, o melhor filme baseado na obra de King e, provavelmente, um dos 5 melhores filmes de todos os tempos.
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