Cidade e Loucura -entre o Censo de 1890 e a inauguração do pavilhão de alienados em Cuiabá
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16/04/2012 - 10:35
A obra versa sobre a loucura como um problema para a cidade de Cuiabá na época em que esta pretendia ingressar na modernidade.Foi tema da dissertação de mestrado da autora, que se propôs a estabelecer nexo entre loucura e modernidade, com destaque para a materialidade das medidas disciplinares, refletidas na concepção do espaço urbano. O marco temporal é o Censo de 1890, que exerceu papel preponderante na instucionalização da loucura na capital de Mato Grosso e a partir do qual essa “anomalia” passou a ser considerada um problema para a realidade local.A visibilidade que o trabalho dá a essa conexão vem preencher lacunas na compreensão do processo e dos custos da instauração da modernidade na capital mato-grossense. Para além da importânciarnda temática, é preciso destacar a qualidade do texto, a paixão pelo objeto de estudo e o refinamento do olhar que encontra no acabamento adequado e a delicadeza necessária para tratar de um tema em princípio triste e melancólico. A firmeza teórica,intercalada à veia poética da autora, transforma a escritura num texto candente e fascinante, para a felicidade dos leitores.
RESUMO:
Em 1890, realizou-se em Cuiabá, Estado de Mato Grosso, um recenseamento urbano que, pela
primeira vez, identifica, codifica e classifica isso que chamamos de loucura. Naquele
momento, podemos verificar que ela ainda gozava de certa liberdade, já que diversos são os
seus endereços. A identificação dos loucos da cidade foi, então, o primeiro passo dado pelo
Estado, para civilizar a cidade e inserir a capital mato-grossense no projeto de construção da
nação, em curso no País em fins do século XIX. Para empreender tal projeto, o Estado, não se
furtou em lançar mão de tecnologias de poder diversas. Passando pelo cuidado com o
indivíduo, pela disciplinarização e normatização dos cidadãos, a cidade pouco a pouco vai
revelando seus estriamentos e os perigos que a rondam, tanto por meio da adoção de inúmeras
práticas tidas como modernas, como no cerceamento de tantas outras, consideradas atrasadas
e nocivas ao sonho de progresso. É nesse contexto que vemos o recolhimento dos alienados
de Cuiabá pelas mãos da polícia, tanto à Cadeia Pública da capital como à Santa Casa de
Misericórdia. Entretanto, será com a instituição de uma outra tecnologia de poder — o
biopoder —, por meio de práticas de higienização e saneamento, que veremos a intensificação
do projeto civilizatório. Nesse quadro, a loucura passará a ser considerada como perigo social
iminente, e ao louco se atribuirá um novo status, o de doente mental, e um novo endereço, o
do hospício. A inauguração em Cuiabá, em 1928, do Pavilhão de Alienados encerra este
trabalho, quando, então, a cidade não mais expulsa os seus loucos: ela os aprisiona.