Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Reis e Risos
Por Cristóvan Buarque (Editora Alba)
16/04/2012 - 06:34

No espaço de poucas horas de 2012, a história do Brasil registrou a perda de dois de seus maiores gênios: Chico Anísio e Millôr Fernandes. A morte deles tem a repercussão de um tsunami empobrecendo a cultura do país. Mas essas perdas não aparecerão, quando, no começo de 2013, o Brasil tomar conhecimento de seu desempenho baseado apenas no crescimento da economia. Ao contrário, o que ficará marcado é a renda per capita que aumentará, porque a população brasileira perdeu duas pessoas. Não faz sentido levar a sério um indicador de progresso que mostra a morte de gênios ou de pessoas simples como fato positivo porque aumenta a renda per capita. Ainda pior: se as pessoas fossem assassinadas por bandidos armados, o PIB mostraria um aumento equivalente ao valor das balas. Na civilização do crescimento, a bala que mata uma pessoa aumenta o PIB e a renda per capita. Se no lugar da morte de gênios, considerássemos a destruição de uma floresta, o PIB indicaria um aumento porque para o progresso uma árvore em pé não tem valor. Ela só é valorizada quando transformada em madeira ou fumaça pela queima de carvão para virar aço. Ao longo de 2012, milhões de pessoas dedicarão suas vidas para cuidar de crianças, de velhos e doentes. Mas, se for voluntária, essa dedicação não entrará na medida do PIB, só valerá se for monetarizada pelo trabalho assalariado. Pela economia, um ato de amor só tem valor se for pago. Ao longo do ano, milhões perderão preciosos dias de vida em engarrafamentos e por estarem presos no trânsito. Ao invés de angústia, da vida desperdiçada, o PIB aumentará porque os carros gastarão mais combustíveis, poluirão ainda mais a atmosfera e, consequentemente, elevarão a temperatura do Planeta, causando as trágicas consequências advindas das mudanças climáticas - tão nefastas como todos nós já conhecemos. De acordo com a economia, se um país está em guerra e milhares de soldados morrem o país progredirá porque as armas produzidas aumentarão o PIB e as mortes dos soldados elevarão a renda per capita. Algo está errado em uma civilização que mede seu progresso com base em indicadores tão cínicos e desumanos quanto o PIB e a renda per capita, mas é assim que ele é medido na sociedade consumista dos tempos atuais. No mesmo ano em que o Brasil perde dois gênios, a humanidade se reunirá no Rio de Janeiro, na Cúpula chamada Rio + 20. Durante alguns dias, os presidentes, reis e primeiros-ministros vão discutir o futuro do Mundo. Mas ao invés de pensarem na substituição do PIB, a fim de redefinir o progresso como sendo o caminho para um mundo com mais gênios, produção cultural, florestas, tempo livre para os trabalhadores e trabalho voluntário, eles vão discutir como salvar a economia atual usando recursos renováveis, a chamada economia verde. A “Rio + 20” – a Conferência da ONU, 20 anos depois da ECO 92 - seria o grande momento para a humanidade se encontrar na cidade do Chico e do Millôr, a fim de pensar um novo conceito de progresso na Terra de todos para todos. O Brasil deveria aproveitar a oportunidade para liderar um movimento mundial por esta revisão do propósito civilizatório. Um neoprogresso que leve em conta o valor da cultura, por si, não por sua venda; o valor do trabalho, por si, não pelo salário recebido; que assegure renda ao tempo livre de uma pessoa; um progresso que não inclua a produção, a venda e o uso de armas, seja no crime de rua ou no crime de guerras, como indicadores de avanço civilizatório. Mas, lamentavelmente, não parece ser esse o caminho a ser adotado no Rio de Janeiro. A agenda em preparação não pensa em sugerir uma inflexão no rumo do progresso, nem mesmo uma reflexão no conceito de progresso; apenas a continuação dos mesmos métodos de produção usando novos meios de produção. Parece que será uma chance desperdiçada pela humanidade, pelo Brasil e nossos líderes no mundo. Felizmente ainda é possível uma esperança de que o bom senso prevaleça e os líderes mundiais se comportem como estadistas mundiais e não apenas como políticos locais. Até porque, dessa vez, não teremos Millôr para fazer humor filosófico que nos desperte e distraia ao mostrar o ridículo dos dirigentes; e também não teremos Chico para nos fazer rir, com toda a sua capacidade de dramatizar a hipocrisia dos dirigentes em uma escolinha dos reis do mundo. Cristóvan Buarque é professsor da UNB e senador da República
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