Suspeita está sendo considerada atípica, pois acometeu animal criado a pasto. Setor pede cautela
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirmou ontem que está investigando um caso de suspeita do mal da vaca louca, cientificamente chamada de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), na região de fronteira entre Cáceres e a Bolívia, no oeste de Mato Grosso. A doença nunca foi confirmada no Estado e é considerada a segunda maior barreira sanitária do mundo, atrás da febre aftosa.
O órgão federal acionou o sistema de defesa animal para averiguar o caso provável da doença, que se confirmada e diante das circunstâncias em que se desenvolveu, pode impor sanções econômicas ao Estado e ao país, em decorrência de embargos aos produtos de origem bovina.
Mato Grosso detém o maior rebanho de bovinos do Brasil, com cerca de 29 milhões de cabeças, e as exportações de carne são um dos principais produtos da pauta local. Neste primeiro trimestre, por exemplo, os cortes bovinos foram os produtos de segunda maior movimentação depois do complexo soja.
Nestes primeiros três meses as vendas externas somaram receita de US$ 252,37 milhões, alta de 33,95%, em relação a igual intervalo de 2013. Além de afetar o comércio exterior, a doença pode interromper um bom momento da pecuária, no qual a arroba vem se sustentando acima de R$ 100 há várias semanas. O segmento produtivo está em alerta e aguarda os resultados das análises com preocupação e cautela e razão dos impactos que poderão atingir a atividade.
Até o momento, conforme o Mapa, as investigações indicam que se trata de uma única suspeita de caso atípico de EEB, já que o animal foi criado exclusivamente em sistema extensivo (a pasto e sal mineral) e foi abatido em idade avançada, com cerca de 12 anos de idade. Essas são as principais características de um caso atípico de EEB, pois ocorre de forma esporádica e espontânea, não relacionada à ingestão de alimentos contaminados, como é mais comum para esta enfermidade.
Os produtos derivados desse bovino não ingressaram na cadeia de alimentação humana ou animal e o material de risco foi incinerado. Por precaução, todos os animais contemporâneos ao caso foram identificados individualmente e interditados.
O bovino analisado foi enviado para abate no dia 19 de março de 2014, em virtude de problemas reprodutivos ocasionados pela idade avançada e sem sintomas de distúrbios neurológicos. Durante a inspeção ante mortem, o fiscal federal agropecuário responsável pela fiscalização no frigorífico observou que havia um animal caído, ou seja, em “decúbito forçado”, deitado e com aparente desconforto neurológico. Com esse quadro, o animal não foi considerado apto ao abate de rotina, sendo direcionado ao descarte de emergência e submetido à colheita de amostras para o teste de EEB.
O resultado final dos exames realizados em laboratório nacional agropecuário detectou a marcação priônica, ou seja, deu positivo para doenças que afetam as estruturas cerebrais.
Conforme os protocolos brasileiros foram deflagradas atividades imediatas no sentido de realizar investigação epidemiológica a campo e providências para o envio da amostra ao laboratório de referência internacional da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Weybridge, na Inglaterra, para confirmação da suspeita.
De acordo com o Mapa, o sistema de defesa sanitária animal brasileiro relacionado à EEB já está consolidado há décadas e permitiu ao Brasil ser classificado como país com risco insignificante para a doença perante a OIE. Essa classificação é a melhor que existe no mundo. Todas as informações sobre o caso já foram repassadas pessoalmente por representantes do Mapa à OIE, que enalteceu a transparência e competência brasileira, colocando inclusive sua estrutura à disposição, assim como seus laboratórios de referência. A notificação oficial e novas informações sobre o caso serão repassadas quando sair o resultado final da avaliação do laboratório da OIE, na próxima semana.
EM 2011 - Trezentos e cinquenta bovinos tiveram o abate declarado em 2011, após uma fiscalização conjunta do Mapa e do Instituto Mato-grossense de Defesa Agropecuária (Indea/MT). Esses animais foram alimentados com proteína animal, o que representa um risco para a disseminação de doenças, entre elas a da 'vaca louca'. De acordo com as autoridades sanitárias, a utilização de qualquer proteína de origem animal, exceto produtos lácteos, na alimentação, é proibida, mas esses bovinos estavam fazendo uso da cama de aviário formada de restos de ração, penas, substratos e fezes. Na Europa, a vaca louca surgiu em 1986 e até hoje eles não conseguiram eliminar, porque a doença é uma incógnita. A proibição do uso da cama de aviário foi determinada em 1996, quando a doença atingiu a Europa.