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Sonhar pra quê?
Por por Gonçalo Antunes de Barros Neto
17/08/2014 - 17:58

Foto: arquivo

Morto é um candidato à presidência da República. Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, encerra capítulos, e um especial deve ser motivo de reflexão: o da liderança construída no exemplo. Foi sem se despedir. Com o avô, que acenou na despedida, nasceu e desenvolveu em si o espirito de lider, de resumir em atitudes a vontade de seu eleitorado. Gigante que se fez pequeno pela estreia na inevitabilidade. A dívida que portamos é de valor, não de lágrimas.

            O pensamento metafísico da unidade e universalidade, o uno no todo, nos faz complacente com a maior da tragédia humana, a morte. Do absoluto, como a religião, não nos ocupemos por ora, pois, ali não há diálogo, somente fé. Aceitemos, portanto, que a realidade depende, sempre, da alteridade, e sua conformação teórica, porpressuposto, da liberdade.

Rompendo com as ciências empíricas, o personagem reflexivo se vê diante de teorias várias a indicar o caminho da felicidade e da resignação, apesar da matéria finda. Crer no fenômeno como algo transcendental, inalcançável pela inteligência da mulher e do homem médios, resguarda-nos do trauma. Não é sem razão que Dostoievski foi amado por Sartre e Simone de Beauvoir – seria ele, segundo o casal de pensadores existencialistas, o pai da novela metafísica.

Como conviver com aquilo que nos priva, de forma sorrateira e às vezes ensurdecedora, dos sonhos? A novela da vida se torna cômica – viver..., e não ter a vergonha de ser feliz (Gonzaguinha) -. Acreditar no significado e não no significador. Do sofrimento, descobrimos o ópio, a anestesia. Somos criativos na adversidade. Bom é gado marcado, é povo feliz (Zé Ramalho) - sem criatividade, pensamento ou nostalgia; nada, a não ser a lógica da sobrevivência.

O filósofo alemão Johann G. Fichte, responde à questão - mas quem ‘sou’, afinal? Isto é, que tipo de indivíduo? -, ‘Sou, a partir do momento em que cheguei à minha consciência, aquele que eu fizer de mim com liberdade, e sou-o porque o fiz de mim’. E a todo dia construímos aquilo que somos, com maior ou menor liberdade, com maior ou menor consciência desse processo de construção. Ou somos só destino?

A opção pelo conhecimento sempre será uma opção pelo sofrimento, dado o maior comprometimento e responsabilidade. A perda da ingenuidade, marca dos simplórios, mas felizes, maltrata e subverte os escolhidos - conhecer a dimensão da perda de um grande líder é sofrer, sem sentir dor (Otacílio Batista).

Lembro-me de ouvir meu pai, Gilson de Barros, elogiando a Miguel Arraes. Liberdade, pura sintonia político-ideológica. Sem rodeios. As amarras que me fazem magistrado tornam-se herdeira e cúmplice de meu alento. Mas ouso desafiar a lei cruel e injusta, que também me obriga a um título de eleitor, abrindo exceção - com carinho e admiração, Eduardo Campos, saiba que você bem liderou um povo, era eu soldado. Vá em paz, grande guerreiro, que por cá permanecemos nós; até quando..., até quando a indiferença for varrida pelos pés com ponta de sabre e bala de metralhadora (Vandré). É por aí...

 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é Juiz de Direito e escreve aos domingos em A Gazeta (e-mail: antunesdebarros@hotmail.com).

 

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