Leite para alérgico custa R$ 580
Por Diário de Cuiabá
15/07/2012 - 10:49
Com um filho de quatro meses e processos de diagnósticos ainda muito imprecisos e pouco desenvolvidos, a professora Janaína Capobianco recebeu a notícia de que seu primogênito sofria de alergia à proteína do leite de vaca (APLV). “A recomendação da médica foi pra continuar com a amamentação, mas eu não poderia mais ingerir nenhum produto que contivesse a proteína alergênica”. Para complementar a alimentação do filho, a pediatra sugeriu o Neocate, leite a base de aminoácidos e totalmente isento da proteína responsável pela APLV.
Apesar de ter seguido à risca as recomendações da médica, a professora não notou melhora significativa em seu bebê. Ela conta que só depois de ter cortado completamente a amamentação e continuar a alimentação do filho exclusivamente com Neocate, que os sintomas e o mal-estar da criança desapareceram.
Com o tempo, conforme seu primogênito crescia e ficava com o sistema imunológico mais maduro, a resistência aos sintomas causados pela APLV aumentou.
A resposta para casos como o da professora Capobianco parecem muito simples: substituir ou complementar a alimentação da criança com o leite hipoalergênico. No entanto, a solução não é tão fácil assim. Uma lata de 400 gramas, que dura, dependendo da idade do bebê, até três dias, chega a custar R$ 580.
Para as mães que não têm condições financeiras para arcar com o alto custo do Neocate, há a possibilidade de se entrar com uma ação judicial e consegui-lo totalmente financiado pelo Estado. Outra alternativa é entrar no site do Neocate e participar do programa Sabor de Viver, onde uma parcela do preço do leite é pago pela empresa que o fornece. Contudo, esse programa ainda não está disponível em todos os municípios, sendo Cuiabá um dos que estão fora da lista de atendimento.
A reportagem do Diário ligou em diversas farmácias e drogarias da capital atrás do Neocate. Nenhuma delas tinha o produto à venda.
De acordo com artigo do Instituto da criança “Prof. Pedro de Alcântara” do Hospital das Clínicas da USP, da autoria de Yu Kar Ling e Dorina Barbieri, a alergia alimentar se deve a sensibilização de um indivíduo a uma ou mais proteínas alimentares. No caso da APLV, a proteína responsável por 66% a 82% dos casos é a beta-lactoglobulina.
Este tipo de alergia atinge mais intensamente recém-nascidos e jovens lactantes, pois a permeabilidade intestinal de crianças nesta faixa etária ainda é grande e elas não atingiram a maturidade imunológica, ficando assim mais suscetíveis às manifestações clínicas causadas pela proteína em questão.
No entanto, apesar de estar presente no leite de vaca e ser responsável pela grande maioria dos casos de APLV, a beta-lactoglobulina não é encontrada no leite materno. Por isso a amamentação de bebês com quadros alérgicos a este tipo de proteína é de extrema importância, porque além de possuir os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento da criança, possui também os anti-corpos que são responsáveis pela maturação imunológica, fazendo com que a resistência aos sintomas aumente com o tempo.
Mesmo ausente do leite materno, a mãe que está amamentando uma criança que sofre de APLV não deve ingerir alimentos que possuam a proteína alergênica, pois, de acordo com estudos, a proteína é transferida para o leite materno, chegando até o bebê, que volta a desenvolver os sintomas.
A criança com APLV pode desenvolver diferentes quadros clínicos, dependendo da gravidade da alergia. Na maioria dos casos, os sintomas que se manifestam são gastrointestinais, onde o paciente sofre de dores abdominais, azia, gases, diarréia, entre outros.