Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
De acepção da palavra
Por por Eduardo Gomes
08/09/2014 - 14:06

Foto: arquivo

Final de tarde. Céu avermelhado. Temperatura em queda brusca. O chapadão treme uivando com a ventania do Cachorro Louco. Um rasgo no cerrado abre passagem aos carros que se aventuram pela BR-364. Ao volante da Toyota, tenho os pés em brasas com o vapor que entra pelo assoalho. A poeira impregnada no corpo e na roupa é companhia naquela trilha ainda sem asfalto, que liga Minas a Rondonópolis. 

Paro na Pensão do Bento, no município de Alto Garças. Garanto o pouso. Enfrento o frio com uma coberta peleja e duas talagadas da branquinha. No lusco-fusco clareando o dia 12 de agosto do ano 1973 retomo a viagem. Entre a cinza e o rebroto vejo gado gordo, com o pelo liso e sem berne. Penso: “que solo surpreendente. Se alguém encontrar sua vocação agrícola ninguém segurará Mato Grosso”. 

Naquele mesmo ano, não muito distante da Pensão do Bento, mas no município de Rondonópolis, num gesto ousado dos visionários, o gaúcho e ex-morador no Paraná, Adão Riograndino Mariano Salles, literalmente lançava a semente da mudança econômica regional cultivando na fazenda São Carlos a primeira lavoura de soja mato-grossense. Com paciência, pesquisa e investimentos Adão serviu de espelho para que a leguminosa se espalhasse por onde até Deus duvida. Ele e sua mulher dona Albina cultivavam com a participação dos filhos Rogério Salles, Álvaro, Luís, Cleonice, Maria do Carmo, Salete e Neuza. 

A escadinha dos Salles se desdobrava no serviço. Rogério Salles também pegava no pesado, mas mantendo um olho no campo e outro na política. 

Lugar melhor que Rondonópolis para Rogério Salles desenvolver a agricultura e se enveredar pela política, impossível. A vida e os exemplos paternos moldaram sua têmpera e a faculdade o burilou. 

A Pensão do Bento não mais existe. O cerrado ganhou função econômica. 

Rogério Salles alcançou a maturidade plena, foi prefeito de Rondonópolis e governador, participou da fundação de entidades, arejou mais seus horizontes e, no apagar das luzes, entrou na disputa ao Senado pelo PSDB. 

A lei não nos obriga a voto vinculado e garante seu sigilo, mas faço questão de afirmar que além de votar em Rogério Salles, também votarei em seus correligionários Aécio Neves e Nilson Leitão. 

No passado, ao lado do pai, Rogério Salles trouxe a soja pra cá. Agora, com o olho político vislumbra o Senado. Torço por sua eleição. 

Sei que o perfil econômico e os problemas sociais de Mato Grosso precisarão de sua voz firme e lucidez. 

Fui contemporâneo de juventude de Rogério Salles. Sei que ele tem a prudência dos sábios para não radicalizar e a habilidade dos mestres para superar desafios. Tenho certeza que exercerá o mandato sem submissão, independentemente de quem seja presidente e governador. Será senador na acepção da palavra. 



Eduardo Gomes é jornalista 

eduardo@diariodecuiaba.com.br 

 

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