Depois do aparecimento dos sintomas, mais de 95% dos casos de câncer de próstata já se encontram em fase avançada. Daí a importância da realização do exame regular através do toque retal e do PSA, orienta o presidente da SBU, Carlos Corradi Fonseca.
De acordo com ele, o câncer de próstata rouba do homem 7,3 anos de vida na comparação com as mulheres e isso ocorre porque eles não se cuidam.
“Pessoas do sexo masculino não costumam ir ao médico porque acham que são super-homens, e o câncer de próstata, quando não é detectado no início, raramente tem cura”, sustenta. O urologista recomenda que, a partir de 50 anos, todo homem deve fazer o exame periódico. Se houver histórico familiar e se a pessoa for negra ou obesa, a recomendação é procurar um urologista a partir dos 45 anos.
Fonseca alerta que o câncer de próstata é assintomático em sua fase inicial. “O exame de toque e o PSA, feito por meio da coleta de sangue, detectam a maior parte dos tumores em fase inicial, e, nesses casos, as chances de cura são de 90%”, avisa.
Segundo ele, os tumores variam entre os pouco, os medianos e os muito agressivos. “No caso de ser diagnosticado um câncer pouco agressivo, é possível pensar num tratamento inicial a partir de uma observação vigilante. Se ele é médio ou muito agressivo, o tratamento deve ser iniciado logo que é dado o diagnóstico, principalmente com cirurgia ou radioterapia”, explica.
A cirurgia, assegura, é o tratamento com maior índice de cura. Quando a doença se espalha, a saída é a hormonoterapia, por meio da qual a produção de testosterona no organismo é inibida, mas isso só ocorre nas fases mais avançadas.
Para o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e urologista do Instituto Biocor, Daniel Xavier Lima, a boa notícia é que muitos tabus já caíram no que se refere à disposição dos homens de enfrentarem seus medos e preconceitos quanto ao exame de toque, essencial para o diagnóstico da doença.
"O que existe, ainda, são informações desencontradas”, garante. De acordo com ele, um estudo norte-americano sustentou que não houve redução da mortalidade por câncer de próstata em função do rastreamento. “Trata-se de um estudo isolado que, infelizmente, teve muita repercussão porque muitos médicos generalistas interpretaram que não seria mais preciso fazer os exames”, explica.
Por causa disso, o próprio Ministério da Saúde retirou o exame de próstata da rotina obrigatória. Assim, a dificuldade de conscientizar as pessoas aumentou, principalmente na rede pública, onde o paciente é, em geral, menos esclarecido (ou recebe menos esclarecimentos).
“Leciono no Hospital das Clínicas e observo que os pacientes já não estão sendo encaminhados para o rastreamento. Isso vai levar, daqui a alguns anos, a um aumento no número de tumores avançados”, garante Lima.
De acordo com ele, o rastreamento é responsável por 40% da redução das mortes por câncer de próstata de 1990 para cá. “Esse procedimento ficou mais popularizado a partir de meados da década de 90, com a realização do PSA e do toque. Nada pode justificar essa redução na procura a não ser a sua diminuição, até porque o número de diagnósticos aumentou”, alerta.
Bruno Ferrari, oncologista e presidente do conselho administrativo da rede Oncoclínicas do Brasil, chama atenção para outro problema: o câncer de próstata não acomete apenas os idosos, mas é a partir dos 50 anos que sua frequência começa a aumentar.
Depois da cirurgia, as duas maiores sequelas, segundo ele, são a incontinência urinária e a disfunção erétil. Ambas têm tratamento e podem ser revertidas. “São essas duas coisas que afastam o homem do diagnóstico. Mas é preciso lembrar que, quanto mais precoce é o tratamento, menos mutilante ele é.”
A campanha Novembro Azul é realizada há cinco anos e, de lá para cá, de acordo com o oncologista, houve um pequeno aumento no número de diagnósticos precoces. “Precisamos envolver toda a sociedade, e não apenas os médicos. A gente vê poucos casos sobre a doença na mídia. As celebridades não aparecem morrendo de câncer de próstata”, lembra.
Fisioterapia
Para ajudar os pacientes na recuperação durante o pós-operatório, uma das recomendações é a fisioterapia para disfunções do assoalho pélvico. De acordo com a fisioterapeuta Maria Cristina da Cruz, responsável pelo serviço no Hospital ds Clínicas, o tratamento consiste em educar o paciente sobre a forma como o corpo vai funcionar depois da cirurgia e sobre qual será o seu papel em sua própria recuperação.
Ela chama a atenção para o fato de que o tratamento difere de pessoa para pessoa. “Não adianta fazer exercícios genéricos. Para haver resultado, as contrações devem ser adequadas e os exercícios, específicos para cada caso”, lembra. De acordo com ela, além de tomar consciência da própria musculatura e de fazer os exercícios, alguns homens precisam passar pela eletroestimulação e biofeedback, que permite ao paciente visualizar a qualidade das contrações.
Não adianta fugir
» Entre 10% e 20% dos casos não são detectados pela dosagem de PSA no sangue. O exame de toque e o PSA são complementares
» Fatores de risco: idade, histórico familiar, raça (maior incidência em negros), alimentação inadequada, sedentarismo, obesidade
» Prevenção: não é possível evitar a doença. Mas pode-se diagnosticá-la precocemente, quando as chances de cura são de cerca de 90%.