Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
De dizer
Por por Eduardo Gomes de Andrade
02/11/2014 - 22:37

Foto: arquivo

"faço deste artigo uma denúncia ao MPF"

Roosevelt, Serra Morena, Parque Aripuanã e Aripuanã formam um conglomerado de reservas indígenas contíguas, da etnia Cinta-larga, com 2,7 milhões de hectares, que se espalha por municípios do noroeste de Mato Grosso e Rondônia.

Na semana passada, durante uma operação na vastidão territorial dos cintas-largas, para impedir desmatamento e prender seus autores, o Ibama cometeu um grave crime, que somente veio a público por iniciativa dos servidores daquele órgão, que em Mato Grosso é chefiado por Marcus Keynes Santos Lima. Faço deste artigo uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) para que investigue tal crime.

O crime não chegaria ao conhecimento dos moradores fora da área dos indígenas se não fosse pelas notas e as fotografias distribuídas aos meios de comunicação pelo Ibama. Uma das fotos mostra um trator em chamas. Em parte dos textos, Marcus Keynes ratifica aquilo que a imagem mostra com clareza e entre aspas justifica tal ato temerário.

Ao botar fogo no trator, o Ibama cometeu uma série de desvarios funcionais. Colocou em risco a imensidão da floresta, que nesta época do ano se torna vulnerável às chamas, pela estiagem prolongada, pela baixa umidade relativa do ar e pelos ventos fortes. O fogo também mostrou o despreparo dos servidores em vários sentidos e, sobretudo, se levado em conta que o bem poderia ser doado a algum projeto de assentamento do Incra, prefeitura ou entidade ambientalista.

Mato Grosso é vítima permanente de ações pirotécnicas na esfera ambiental. A prática de fiscalização nos municípios mato-grossenses em alguns casos fere até o princípio federativo e não se vê o mesmo tipo de procedimento em estados com maior peso político.

A pirotecnia em Mato Grosso acontece pela incapacidade de reação das autoridades estaduais, que se curvam, se calam e se omitem diante da prepotência da União. Porém, independentemente do silêncio oficial mato-grossense é dever da imprensa denunciar e protestar contra abusos funcionais e excessos de zelo.

Espero que o caso do trator na terra Cinta-larga não seja mais um ato pirotécnico – também na acepção da palavra. Quero que o MPF aja como manda a lei e como deseja o cidadão mato-grossense que se sente aviltado com o destempero do Ibama.

Não há lirismo naquelas terras. Em 19 de dezembro de 2001 o índio Carlito Cinta-larga foi assassinado a tiros em Aripuanã. Carlito negociava madeira e sua morte é um dos dentes do mistério que envolve um milionário esquema de indígenas com madeireiros. É preciso passar a limpo o mercado da madeira dentro e fora da reserva, mas independentemente disso é hora de o MPF dizer a Mato Grosso se o crime do trator ficará impune.

Eduardo Gomes de Andrade é editor do site e da Revista MTAqui e escreve artigo dominical no Jornal  Diário de Cuiabá

 

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