Na semana que se passou, estivemos na Academia Mato-Grossense de Letras e, somente ouvidos, conhecemos mais um pouco da biografia de Rubens de Mendonça pela brilhante exposição da acadêmica, e professora, Marília Beatriz de Figueiredo Leite. No final, o governador Pedro Taques afirmou, sem mais rodeios: “O que será que Rubens diria dos políticos de hoje?”. E complemento, do momento político atual.
Estamos a viver um momento agitado na politica nacional, do qual o movimento dos caminhoneiros parece ser somente o começo. Não ajuda, em nada, discurso de ex-presidente conclamando, como em Quixote, a tal e tal resistência ou coisa parecida. Primeiro, resistir a quê? Segundo, se é certo que o consenso se consegue na luta, também o é que a luta se dá em vários campos, que não necessariamente no tilintar do aço ou do chumbo.
Mais do que nunca precisamos dos pensadores, o momento exige reflexão. Não se faz escutar em Carta Manifesto de Intelectuais. O que ali se resume, não resume sentimento e nem vontade, a complexidade exige mais responsabilidade. Traçar metas e caminhos, aglutinar em pensamento, unir pelas pontas, exige desprendimento.
A democracia deve ser maior que a República, pois lhe funda, apesar de que o esteio, aqui, se escreve em minúscula e o sustentado em maiúscula. Parece ironia das coisas de gala, de convenção. Explico a inquietação.
Nunca se viu a um ministro da justiça alertar um procurador-geral, mais ainda sobre possível risco pessoal, sem que haja ruptura na ordem política. Um e outro são órgãos institucionais. As coisas não andam bem, algo está acontecendo, e muito grave. Precisamos decifrá-lo, e aqui se exige a imediata intervenção dos intelectuais. Coerência científica, pensamento sólido e eficaz, eis o antidoto. O que Rubens de Mendonça nos diria?
Parece estar havendo divisões ideológicas profundas na nação. Somente no Brasil? Não. A Rússia de Putin afirmou que vai se rearmar. O extremismo no Oriente Médio vem afastando da mesa de diálogos os lideres mundiais. O cenário não é de calmaria. Rubens, e os seus iguais, nos dizem o quê?
Perdemos um pouco de paciência auditiva. A História e a Sociologia nos passam despercebidas. A política se tornou direita e esquerda, e a Filosofia se serve de manifesto assinado por cor partidária e não pelo pensamento acadêmico. Rubens, precisamos de sua ironia.
Aqui entre nós, sei o que Rubens diria. Seria algo mais ou menos, assim – quando a noiva deixa de ser importante, o encardido em suas vestes não aprisiona a moralidade, antes, casa-se com a indiferença, afastando a honra-.
De minha parte, tento buscar sentido nisso tudo, no movimento dos caminhoneiros, no conservadorismo que reapareceu e vem se agrupando, no liberalismo que, dantes fingido, agora atrevido, enfim, estou a pensar em ter lado. Mas, antes - afaste de mim esse cálice, pai-. É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (antunesdebarros@hotmail.com)