A secretaria estadual de Educação (Seduc), sob o comando do secretário Permínio Pinto (PSDB), está adotando providências contra o método de ensino aplicado nas escolas da rede pública ligadas ao MST. O gestor já fez contato com o Ministério Público Estadual (MPE), com objetivo de encontrar os meios legais para que os estabelecimentos de ensino deixem a orientação ideológica e utilizem os métodos estabelecidos pela própria Seduc e pelo Conselho Estadual de Educação (CEE), sem prejuízos aos alunos.
“Estou tomando as providências necessárias. O ensino é publico e o sistema da Seduc tem que ser obedecido. As bandeiras de movimentos não voltados ao ensino têm que ser banidas. As escolas não podem ter viés ideológico”, declara Permínio em entrevista ao Rdnews.
Em Mato Grosso, duas escolas estaduais são ligadas ao MST. A Escola Ernesto Che Guevara, em homenagem ao guerrilheiro argentino que ajudou os irmãos Castro a tomar o poder em Cuba, está localizada no Assentamento Antônio Conselheiro, em Tangará da Serra. Em Cláudia, no Assentamento 12 de Outubro, funciona a Escola Florestan Fernandes, homenageando o sociólogo de esquerda, que contribuiu para fundação do PT.
As escolas Ernesto Che Guevara e Florestan Fernandes são vistas pelas lideranças dos sem-terra como uma alternativa à educação “capitalista” e uma maneira de transmitir aos jovens os valores cultivados pelo movimento. Além disso, sustentam que a pedagogia está em conformidade com a chamada Educação do Campo, que respeita a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional implantada pelo Ministério da Educação (MEC).
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Secretário Permínio Pinto diz que não discutirá com prefeitos e situação agora está sob a responsabilidade do Ministério Público
Segundo Lucinéia Freitas, da coordenação estadual do MST, a Seduc demonstra falta de conhecimento da Educação do Campo, ao falar que existe doutrinação ideológica nas escolas ligadas ao MST. “Estamos tranquilos quanto à legalidade das nossas ações. O que pode estar acontecendo é retaliação política do secretário, que é militante do PSDB”.
Lucinéia também afirma que o MST está pronto para debater com a Seduc e com a sociedade o que é doutrinação ideológica. Conforme a dirigente, Permínio só questiona valores em desacordo com o pensamento do PSDB. “Se a Famato faz uma revista exaltando o agronegócio e o uso de veneno nas lavouras e distribui nas escolas, não tem problema. Na Capital tem uma escola chamada Presidente Médici, um dos assassinos da ditadura militar, mais isso o secretário não questiona”.
Mato Grosso não é o primeiro Estado a agir contra a ligação de escolas públicas com o MST. Em 2009, o Governo do Rio Grande do Sul, em acordo com o MP desativou 13 escolas ligados ao movimento. A argumentação se fundamentou na interpretação de que a entidade abdicou da luta pela terra, para buscar a transformação da sociedade brasileira lançando mão de meios não-pacíficos.
Ônibus escolar
A atenção da Seduc se voltou às escolas ligadas a MST a partir do episódio do ônibus escolar cedido pela Prefeitura de Tangará da Serra, que foi flagrado no encontro do sem-terra, em Cuiabá. O episódio resultou em sindicância contra a secretária municipal de Educação Iolanda Garcia (PT), que permanece em “férias” até conclusão das investigações.
O prefeito de Tangará, Fábio Junqueira (PMDB), afirma que autorizou a cessão do ônibus escolar com base em informações fornecidas pela Escola Che Guevara e afirma que a Seduc precisa controlar melhor os estabelecimentos da rede estadual. Permínio, por sua vez, diz que o assunto está sob responsabilidade do MPE e que não bate-boca com prefeitos. “Não trato mais desta questão. Registrei o fato e encaminhei ao MP. O Fábio é um homem inteligente, polido e responsável. Ele sabe que o erro não foi da Seduc”, conclui.