Rede de Agentes Voluntários contra incêndios no Pantanal une instituições e ribeirinhos para resposta mais rápida a primeiros focos de incêndios no período da seca
O ciclo da seca no Pantanal ocorre de junho a setembro e é considerado um período de alerta para os incêndios florestais. Por isso, capacitar e equipar os pantaneiros para o primeiro combate é o principal objetivo da Rede de Agentes Voluntários contra incêndios no Pantanal, que teve início nesta semana, em Poconé (MT). A formação, realizada pelo Polo Socioambiental Sesc Pantanal e o Fundação Pró-Natureza (Funatura), com apoio do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso e a SOS Pantanal, permitirá a rápida resposta aos pequenos focos para que não se alastrem pelo bioma.
Cada participante recebeu um kit com Equipamentos de Proteção Individual (EPI), contendo luva, balaclava, óculos, bota, perneira, bomba costal e abafadores. Ao todo foram capacitados 60 moradores no entorno da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal) do Brasil, localizada em Barão de Melgaço. A unidade de conservação está entre as áreas atingidas pelo fogo em 2020, com 93% dos seus 108 mil hectares impactados.
Entre os temas abordados na formação estão: período proibitivo, triângulo do fogo, métodos de extinção, triângulo do incêndio florestal, propagação do fogo, métodos de combate, etapas do combate, segurança na área de incêndios florestais, instruções sobre vento, fumaça, frente de fogo, rota de escape e zona de segurança. Durante todas as instruções os voluntários puderam conhecer, ainda, o uso de equipamentos para combate, como mochilas costais, pás, enxadas, machados e foices.
Nenhum incêndio florestal começa grande, sempre existe a primeira fagulha, que pode ser extinta pelos moradores pantaneiros, ponderou o coordenador de projetos da Funatura, César Victor do Espírito Santo. “Combater as chamas enquanto o fogo ainda está pequeno pode evitar que o incêndio se torne incontrolável. Por isso, o papel dos voluntários é muito importante, pois, na maioria das vezes, são eles que chegam primeiro ao local de combate. Avalio esse primeiro contato como muito positivo, porque é a oportunidade de criarmos laços com as comunidades”, disse. A superintendente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Christiane Caetano, reiterou que a principal estratégia de prevenção aos incêndios é a união.
“Após dois anos de seca prolongada, vemos muitas áreas verdes, que inundaram, e isso dá a impressão equivocada de que está tudo bem. O Pantanal ainda levará anos para se recuperar e o nosso trabalho é contínuo para a prevenção a novos incêndios. Por isso, as capacitações para pantaneiros e ribeirinhos são tão relevantes. Somente atuando de forma articulada é possível proteger esse Patrimônio Natural da Humanidade”, declara.
O coordenador técnico das Brigadas Pantaneiras do projeto SOS Pantanal, Paulo Barroso, disse que quanto mais rápido houver informações precisas dos moradores sobre os focos de incêndio, mais ágil será a possibilidade de controlar o incêndio. “Percorremos três comunidades, sendo uma área de 19 mil hectares com 600 famílias, outra de 5 mil hectares e com 73 famílias e por último uma de mil hectares e 20 famílias.
Todas essas pessoas estão em locais que podem ser atingidos por incêndios florestais. Quando as preparamos com informações básicas e formamos essa rede de comunicação, podemos reduzir sobremaneira o tempo de resposta para o combate ao foco de incêndio”, reiterou.
A criação da Rede está entre as diversas ações para prevenção e combate a incêndios realizados pelo Sesc Pantanal, que atua com sua brigada há mais de 20 anos no bioma, destaca a superintendente. “Treinamentos anuais, participação na formação de novas brigadas no Pantanal e uso de tecnologias para monitoramento estão entre as principais ações realizadas pelo Sesc Pantanal, em parceria com diversas instituições. Com a pesquisa em andamento sobre o Manejo Integrado do Fogo, também damos passos importantes para entender qual o impacto do fogo no bioma e como seu uso pode ser um aliado na prevenção a incêndios florestais”, declara Christiane.
O Polo Socioambiental possui um Comitê Interno de Combate e Prevenção a Incêndios Florestais do Sesc Pantanal e integra o Comitê Estadual de Gestão do Fogo, conduzido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT), e o Comitê Temporário Integrado Multiagências de Coordenação Operacional de Mato Grosso (Ciman/MT).
Comunidade unida contra incêndios
O morador da comunidade do Piraim, Salvador Conceição Alves de arruda, relembrou que em 2020, os incêndios foram devastadores. “A gente via o fogo pulando de um lado ao outro do rio. Foram cenas muito difíceis de se verem. O pantaneiro tem coragem e disposição e juntos nós podemos ajudar a evitar que isso aconteça de novo”, explica.
Moradora há mais de dez anos, dona Margarida, também participou da capacitação e rememorou que em 2020 os moradores enfrentaram as chamas com ‘a cara e a coragem’. “O fogo chegou perto de muitas casas. Então, receber esse treinamento é muito importante para toda a comunidade. Esse ano iremos batalhar para não correr o risco que corremos no ano 2020”.
A iniciativa da Rede antecede o período proibitivo do fogo no Estado, que começa no dia 1º de julho e vai até 30 de outubro. O Governo de Mato Grosso declarou, ainda, emergência ambiental entre maio e novembro de 2022. As normas estão dispostas no decreto nº 1.356, de 13 de abril de 2022.A Rede de agentes voluntários contra incêndios no Pantanal é realizado pelo Polo Socioambiental Sesc Pantanal e a Fundação Pró-Natureza (Funatura), com apoio das Ongs Mulheres em Ação no Pantanal (Mupan) e Wetlands International, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Áreas Úmidas (INAU), Instituto SOS Pantanal, Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) por meio do Projeto Estratégias de Conservação, Recuperação e Manejo para a Biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com as agências Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como implementador e o Fundo Brasileiro de Biodiversidade (FUNBIO) como executor.