A médica Eloisa Curvo, que atua como cirurgiã geral no Pronto Socorro de Cuiabá, usou sua página no Facebook para expor as condições precárias de trabalho no local.
Entitulada "Carta Aberta", ela diz não se conformar em um ambiente hostil, com falta de materiais simples, como esparadrapo e agulha. Ao final da carta, ela relaciona todos os materiais que faltavam em um de seus plantões, o do dia 23 de fevereiro (confira abaixo).
"É estarrecedor o descaso e a falta de compromisso que existe em relação às necessidades primordiais do ser humano que porventura necessite dos serviços de saúde no Pronto Socorro de Cuiabá. Falta praticamente tudo, desde uma lâmpada de laringoscópio (para entubar paciente usa-se flash de celular), bolsa de colostomia, lâminas de bisturi, drenos, etc até materiais mais simples como esparadrapo e micropore. A lista é enorme", disse.
No "desabafo", ela também faz um alerta: "É bom que se saiba que todos estão sujeitos a serem encaminhados para o Pronto Socorro, caso tenham a desventura de sofrer um acidente na rua e forem atendidos por uma das ambulâncias do SAMU", diz.
"Por isso, ricos e pobres, autoridades ou pessoas do povo, todos estão sujeitos a sofrer as agruras de um hospital que se encontra em condições materiais lamentáveis", afirma Eloisa Curvo, na carta.
Confira a íntegra do post da médica no Facebook:
"Carta Aberta para a população e autoridades de Cuiabá e a quem mais possa interessar.
Como membro do grupo de cirurgia geral do Pronto Socorro de Cuiabá, MT, quero divulgar uma vez mais o que já é do amplo conhecimento das autoridades e da população dessa Capital.
Faço isso porque não me conformo e não vou me conformar nunca (nunca serei acomodada ou conivente) em trabalhar num ambiente tão hostil no que se refere às condições para o bom desempenho do meu trabalho.
Só para fazer um idéia, segue abaixo lista dos materias, que no dia 23 de fevereiro (meu plantão), não existia naquele local.
A falta desses materiais compromete em demasia o atendimento aos pacientes, principalmente quando se trata de urgência e/ou emergência, o que é a maioria dos casos que chega àquele local.
É estarrecedor o descaso e a falta de compromisso que existe em relação às necessidades primordiais do ser humano que porventura necessite dos serviços de saúde no Pronto Socorro de Cuiabá.
Falta praticamente tudo, desde uma lâmpada de laringoscópio (para entubar paciente usa-se flash de celular), bolsa de colostomia, lâminas de bisturi, drenos, etc até materiais mais simples como esparadrapo e micropore. A lista é enorme.
A sala A está desativada por falta de carrinho de anestesia, mesa cirúrgica, monitor, oxímetro e o aparelho de ar condicionado está com vazamento e a sala D está com foco queimado. Falta óculos de proteção para diminuir os riscos de contaminação, uma exigência primordial no atendimento a um paciente portador de HIV, por exemplo.
Como plantonista da cirurgia sinto-me agredida por, muitas vezes, não poder oferecer o tratamento mais adequado ao paciente por falta de condições. Sinto-me agredida como médica e como pessoa, ter que submeter o paciente a uma conduta de maior risco por falta de material, além do estresse que isso ocasiona em toda a equipe.
É bom que se saiba que todos estão sujeitos a serem encaminhados para o Pronto Socorro caso tenham a desventura de sofrer um acidente na rua e forem atendidos por uma das ambulâncias do SAMU. Mesmo que tenham plano de saúde e acesso à rede hospitalar privada, o primeiro local de atendimento é o Pronto Socorro Municipal.
Por isso, ricos e pobres, autoridades ou pessoas do povo, todos estão sujeitos a sofrer as agrúras de um hospital que se encontra em condições materiais lamentáveis, como tem sido há muito tempo a realidade do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá.
Portanto, o problema é de todos: dos profissionais da saúde, das autoridades e de toda a população.
Relação de materiais em falta no Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (levantamento realizado pela equipe médica e de enfermagem em todos os setores do hospital no dia 23/02/2014):
Esparadrapo
Micropore
Gaze estéril
Bolsa para colostomia
Coletor de urina sistema fechado
Tubo endotraqueal número número 8, 8,5 e 9
Sonda de foley número 16 duas vias
Agulha 25 x 8
Óculos de proteção
Lâmina de bisturi número 23
Lâmina de bisturi número 24
Pilha média
Pilha grande
Dreno penrose números 1,2 e 3
Omeprazol 40 miligramas injetável
Gentamicina 80 miligramas injetáveis
Neocaina isobárica ampola
Descarpack 13 litros
Fios: mononylon 2.0 agulhado, mononylon 0 duplo agulhadO, vicryl 1 e 2 para fechamento aponeurose
Dreno de tórax número: 26, 28, 30, 32, 34, 36 e 38
Tela de prótese (para correção de hérnias)
Água destilada 1000ml
Ranitidina injetável
Lâmpada para laringoscópio
No Centro cirúrgico:
Sala A: sala desativada por falta de: carrinho de anestesia, mesa cirúrgica, monitor e oxigênio. O ar condicionado está com defeito apresentando goteira com água suja proveniente do telhado, quando ligado contamina o local da mesa cirúrgica.
Sala D: foco queimado
Faltam frasco aspira eficiente em todas as salas
As canetas dos bisturi elétricos não encaixam adequadamente nos aparelhos sendo necessário "gambiarras" em todas as cirurgias para o seu funcionamento, expondo tanto a equipe médica, de enfermagem quanto os pacientes a risco de choque elétrico.