Sindicato entra com ação cobrando reposição de policiais rodoviários federais
Posto da PRF no Trevo do Lagarto é o maior de Mato Grosso
Foto: ÁDIA BORGES
EDUARDO GOMES - Postos de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) fechados e efetivo minguando em Mato Grosso. Essa situação levou o Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais (SINPRF) e entrar na justiça com uma ação cobrando a recomposição de seus quadros operacionais.
PRF Sandro, da diretoria do SINPRF, revela que sindicato entrou na justiça por reposição de efetivo
Foto: ÁDIA BORGES
Mato Grosso tem 5 mil quilômetros de malha rodoviária federal. Em 2009 a PRF tinha 461 policiais no Estado e agora esse efetivo despencou para 368. Esse encolhimento representa uma redução de 20,17% dos quadros. “E isso aconteceu enquanto a frota aumentou sensivelmente”, observa o policial e diretor do SINPRF, Sandro Renzetti. Pior: no período o posto rodoviário na BR-070 na área urbana de Campo Verde foi desativado; o posto na BR-163 na cidade de Sinop também foi riscado do mapa; e no final deste mês o posto na BR-364, no alto da Serra de Petrovina, terá o mesmo destino. Antes a corporação baixou as portas dos postos na BR-174, em Comodoro, e na BR-070 no município de Cáceres, no acesso à cidade boliviana de San Matias.
Situação da PRF nas rodovias em Mato Grosso
Infografia: ÉDSON XAVIER
Posto da PRF na rodovia BR-158 em Água Boa
Foto: AIRTON IAPPE (LARANJINHA)
Sem considerar o posto da Serra da Petrovina, que tem as horas contadas, em Mato Grosso existem apenas 15 postos da PRF e a sede de sua Superintendência em Cuiabá, e eles se localizam em Alto Garças (BR-364); Rondonópolis (BR-163/364); Mineirinho, município de Itiquira (BR-163); Serra de São Vicente, município de Campo Verde (BR-163/364); Primavera do Leste (BR-070), Barra do Garças (BR-158); Água Boa (BR-158), município de Cuiabá (BR-070/163/364); Trevo do Lagarto em Várzea Grande (BR-070/163/364); Posto Gil, município de Diamantino (BR-163/364); Rio Teles Pires, município de Sorriso (BR-163); município de Nova Santa Helena (BR-163); Posto 120, município de Poconé (BR-070); Cáceres (BR-070/174); e Pontes e Lacerda (BR-174).
O SINPRF move uma ação cível pública que tramita na Justiça Federal. O sindicato quer a recomposição do efetivo com a transferência de 147 policiais para Mato Grosso, para cobrir igual número de vagas abertas com remoções para vários estados com destaque para o Paraná, que foi o destino de 65, seguido pelo Rio de Janeiro com 13 e Goiás com 12.
O assunto é tabu, mas uma fonte ligada à PRF revelou que viaturas modernas, bem equipadas e com modernos sistemas de comunicação ficam entregues às moscas por falta de policiais para utilizá-las.
Posto desativado da PRF na rodovia BR-070 na cidade de Campo Verde
ARQUIVO
As rodovias federais de Mato Grosso têm intenso tráfego pesado, porque não há hidrovias operando para o transporte de grãos. Bitrens e carretas também respondem pelas cargas que chegam aos terminais de embarque de commodities agrícolas nos vagões dos trens da companhia América Latina Logística (ALL) em Alto Taquari, Alto Araguaia, Itiquira e Rondonópolis. Em termos de segurança, essa logística fica seriamente comprometida pelo acanhado número de balanças rodoviárias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT).
Além da intensa movimentação dos pesados, Mato Grosso ainda enfrenta um sério problema com o narcotráfico, que cruza suas rodovias transportando cocaína boliviana para o consumo interno, para o mercado nacional e destinos no exterior. A Bolívia, que é um dos principais fornecedores mundiais dessa droga, tem quase mil quilômetros de fronteira com os municípios de Cáceres, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro. Abordagens da PRF resultam num grande volume de drogas apreendido, mas essa atuação seria mais expressiva caso houvesse maior efetivo.
Por falta de postos, Mato Grosso fica vulnerável. É possível cruzá-lo no sentido leste-oeste, entre Vila Rica e Guarantã do Norte, via Confresa e Matupá, pela malha rodoviária ancorada pela BR-080 (também chamada de MT-322) sem se deparar com a PRF. Essa rota liga estados nordestinos ao Pará e vice-versa. A vila Posto Gil, distante 150 quilômetros de Cuiabá rumo norte, tem o último posto da PRF em Mato Grosso na rota que liga a capital a Porto Velho (RO) pela BR-364 cruzando o Chapadão do Parecis. No trajeto de 540 quilômetros entre Cáceres e Vilhena (RO) pela BR-174 e em seu trecho remontado com a BR-364 existem somente dois postos da PRF no território mato-grossense: em Cáceres e Pontes e Lacerda; esse trecho é feito em paralelo à fronteira, numa das áreas mais vulneráveis ao narcotráfico no Brasil.
Em Cuiabá, na entrevista que se segue o policial e chefe do Núcleo de Comunicação Social da 2ª Superintendência Regional da PRF em Mato Grosso, José Hélio Macedo, falou sobre o assunto, revelou que espera receber novos policiais ainda neste semestre e explicou as razões para os últimos fechamentos de postos.
Entrevista
Superintendência reconhece problemas e anuncia novos policiais
EDUARDO GOMES
Foto: ÁDIA BORGES
Não há como negar o fato, mas o policial rodoviário federal e chefe do Núcleo de Comunicação Social da 2ª Superintendência da PRF em Mato Grosso, José Hélio Macedo, explica os motivos que levaram ao fechamento mais recente de postos e anuncia que policiais serão enviados para o estado ainda neste semestre. José Hélio também aborda a participação de sua corporação no esquema de segurança para a Copa do Mundo no mês de junho, em Cuiabá.
MTAqui - Qual a malha rodoviária federal em Mato Grosso?
JOSÉ HÉLIO - São mais de 5 mil quilômetros. Cinco rodovias federais cortam o estado: BR-070, BR-158, BR-163, BR-174 e BR-364.
MTAqui - Quantos postos e delegacias a PRF tem em Mato Grosso?
JOSÉ HÉLIO - Contamos com 16 unidades em oito delegacias, as quais ficam localizadas em Cuiabá, Rondonópolis, Cáceres, Diamantino, Primavera do Leste, Sorriso, Pontes e Lacerda e Barra do Garças.
"Nosso principal desafio é a BR-364, por ser a
de maior extensão e com maior fluxo
de veículos de carga"
MTAqui - Qual o efetivo?
JOSÉ HÉLIO - Temos cerca de 370 policiais rodoviários federais lotados em Mato Grosso.
MTAqui – Esse efetivo é suficiente?
JOSÉ HÉLIO - O estado tem dimensões enormes, contando com uma das maiores malhas rodoviárias do país, o que aumenta o nosso desafio. O efetivo ainda não é o ideal, mas existe um concurso em andamento com 1.000 alunos no Curso de Formação Profissional, que está sendo realizado em Florianópolis, e esperamos receber novos policiais em Mato Grosso ainda no primeiro semestre, de acordo com o cronograma do certame.
MTAqui - E sobre o fechamento de postos...
JOSÉ HÉLIO - Há pouco mais de um ano desativamos a unidade operacional de Campo Verde por questões estratégicas operacionais. O posto pertencia à Delegacia de Cuiabá, junto com as unidades da capital e da Serra de São Vicente, as quais têm um volume de tráfego de veículos de carga acima de 30 mil por dia. Portanto, distribuímos o efetivo de Campo Verde entre os postos de Cuiabá e São Vicente, o que nos possibilitou reforçar as rondas no trecho e ter um policiamento mais efetivo. Sobre a unidade operacional da Serra da Petrovina, na região sul, a infraestrutura no local foi determinante. O posto foi construído há cerca de 40 anos, em localização defasada, com dificuldades de comunicação e transmissão de dados, o que prejudicava a eficácia do serviço.
MTAqui - Em relação aos equipamentos e viaturas?
JOSÉ HÉLIO - Estamos bem aparelhados, com viaturas operacionais novas, motocicletas, radares fotográficos, etilômetros, entre outros equipamentos.
MTAqui - E a capacitação e treinamento dos policiais?
JOSÉ HÉLIO - Tivemos um calendário extenso de treinamentos e cursos de capacitação nos últimos meses visando à preparação para os grandes eventos. Diversos policiais foram capacitados em cursos de motociclistas batedores, atendimento pré-hospitalar, controle de distúrbios, entre outras atualizações.
MTAqui - Como será o trabalho da PRF durante a Copa do Mundo?
JOSÉ HÉLIO - Realizaremos a escolta de diversas autoridades e personalidades envolvidas no evento Copa do Mundo. Nossos policiais são especialistas no assunto quando se trata de escolta de autoridades e motociclistas batedores. Além disso, reforçaremos o policiamento em nossa fronteira, nas divisas e faremos um cinturão metropolitano na capital, onde policiais especializados em fiscalização e combate ao crime estarão prontos para qualquer situação. Receberemos novos policiais rodoviários federais que serão lotados no estado, ainda no primeiro semestre, além de um reforço vindo de outras regionais durante a Copa do Mundo.
MTAqui - Existem grupos especializados na PRF em Mato Grosso?
JOSÉ HÉLIO - Temos o Núcleo de Operações Especiais (NOE), responsável pela maior parte das ações realizadas quando o assunto é combate ao crime. Também contamos com um Corpo de Motociclistas Batedores, com vasta experiência em diversos eventos nacionais, um Grupo de Operações com Cães (GOC), que atua na repressão ao tráfico de entorpecentes, e uma Força de Choque, que é prontamente acionada sempre que necessário.
MTAqui - A fiscalização de trânsito é uma das principais atribuições da PRF. Quais são os locais considerados mais perigosos? E as principais causas de acidentes?
JOSÉ HÉLIO - Nosso principal desafio é a BR-364, por ser a de maior extensão e com maior fluxo de veículos de carga. A BR-163 vem logo em seguida, responsável, ao lado da 364, pelo escoamento da maior parte da produção de grãos de nosso país. Com o desenvolvimento agrícola – o que levou a um crescimento considerável da região e consequente aumento do número de bitrens nas rodovias –, os acidentes de grandes proporções e de maior gravidade também aumentaram. O trecho da BR-364 entre Cuiabá e Rondonópolis registra um grande número de acidentes envolvendo veículos carregados com grãos. Todo o eixo da BR-163, entre Várzea Grande e Sinop, também apresenta estatísticas preocupantes quando o assunto são acidentes envolvendo veículos de carga. Mesmo com rodovias ainda sem condições ideais de trafegabilidade, agravadas pelo fluxo intenso, a conduta do motorista é determinante para os acidentes. A maior parte deles é causada pela falta de atenção, ultrapassagens indevidas e excesso de velocidade. Trabalhamos com uma fiscalização forte no combate às infrações consideradas potenciais causadoras de acidentes graves, mas o motorista precisa ter mais responsabilidade, respeitar as leis de trânsito e entender que em uma rodovia qualquer descuido pode ser fatal.