O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou ontem que a confirmação do resultado de tipificidade do caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) ocorrido, em Mato Grosso, deverá ocorrer no dia 8 de maio, data prevista para conclusão dos testes complementares. Entretanto, as evidências epidemiológicas apontam para um caso atípico de EEB, que ocorre de forma esporádica e espontânea, não relacionada à ingestão de alimentos contaminados.
Ainda conforme o Mapa, as evidências demonstram que se trata de um caso atípico, pois o animal foi criado exclusivamente em sistema extensivo, 12 anos de idade, ou seja, nunca ingeriu ração que pudesse levar ao desenvolvimento da EEB.
O laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Weybridge, na Inglaterra, ratificou na noite da última quinta-feira (1º) o resultado do exame realizado pelo Laboratório Nacional Agropecuário de Pernambuco (Lanagro-PE), cujo laudo deu positivo para marcação priônica, ou seja, que há traços da doença, restando classificar corretamente.
Como relembra o Mapa, em 14 de abril deste ano, o Laboratório Nacional Agropecuário em Pernambuco (Lanagro-PE), referência nacional para o diagnóstico de Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, emitiu laudo positivo para marcação priônica em amostra de tecido nervoso bovino oriunda do Estado. “Imediatamente, o serviço veterinário oficial do Brasil iniciou as investigações de campo e providências para o envio da amostra ao laboratório de referência da OIE em Weybridge, Reino para teste confirmatório e demais testes complementares que permitam a sua tipificação, conforme os protocolos estabelecidos.
As averiguações indicaram tratar-se de uma vaca de 12 anos de idade, nascida e criada na mesma fazenda, em sistema extensivo de produção a pasto e sal mineral, e enviada para abate no dia 19 de março, devido a problemas reprodutivos ocasionados pela idade avançada.
A vaca chegou ao matadouro em decúbito esternal e com sinais de fadiga muscular, devido ao longo tempo de viagem em função das condições inadequadas da estrada. Com esse quadro, o animal foi direcionado ao abate de emergência e submetido à colheita de amostras para teste laboratorial no Lanagro-PE, conforme protocolo de vigilância para EEB.
A carne e outros produtos do animal não ingressaram na cadeia alimentar e o material de risco específico foi incinerado no matadouro.
Em relação à amostra enviada ao Reino Unido, se confirmou o resultado positivo na prova de imunohistoquímica, sendo a OIE e, consequentemente, seus 178 países membros, informados oficialmente pelo delegado do Brasil perante aquela organização.
PROTOCOLOS - Em 2005, a OIE extinguiu o termo “livre de EEB” de seu Código Sanitário de Animais Terrestres. A avaliação atual da entidade em relação à doença elenca as seguintes categorias: insignificante, controlado e indeterminado, em ordem crescente de grau de risco. Ou seja, nenhum país do mundo está isento da ocorrência de casos esporádicos da enfermidade.
A DOENÇA - A EEB é uma enfermidade degenerativa não-contagiosa que afeta o sistema nervoso central de bovinos, causada por uma proteína infectante chamada “príon”.
Existem dois tipos conhecidos de EEB em bovinos, que são as formas clássica e atípica. É importante distinguir estes dois tipos, devido às diferentes características epidemiológicas de cada uma.
A EEB clássica é transmitida por alimentos contaminados com o príon por terem sido confeccionados com produtos obtidos a partir de animais infectados. Os sinais clínicos da enfermidade são nervosismo, reação exagerada a estímulos externos e dificuldade de locomoção, queda na produção de leite e diminuição de apetite. É uma doença crônica, cujos sinais clínicos se agravam com o passar do tempo, podendo perdurar por meses. Além disso, a situação clássica apresenta longo período de incubação (tempo entre o momento da infecção e o início da doença), que em média é de 4 a 5 anos.
A EEB atípica é causada por príons ligeiramente diferentes da causa clássica. A diferença é relacionada à massa molecular do príon, que pode ser menor (conhecido como L-EEB) ou maior (H-EEB). Ocorre em animais mais velhos acima de 9 anos. Trata-se de uma manifestação rara, cuja origem não está totalmente esclarecida. Ainda assim, a teoria mais aceita é que esta apresentação é uma forma espontânea da doença, não sendo relacionada com a ingestão de alimentos contaminados. Segundo a OIE, no entanto, o leite, a gelatina e a carne produzidos, não apresentam risco de transmissão. (MP com Mapa)