Chi-chi-chi-le-le-le, viva o Chile! Assim gritavam os torcedores durante os intervalos de um show da banda Los Tres, que se apresentou nesta terça feira num teatro de Cuiabá.
Pude ouvir ao meu lado um chileno conversando com uma brasileira sobre os músicos que iriam se exibir. Além da banda, falava de sua terra, da sua cultura e de seu povo com muito orgulho.
Trajados de vermelho e portando bandeiras do país de origem, eles cantavam e dançavam com muita alegria!
O vermelho do uniforme chileno me fez lembrar do Internacional, que por sua vez me remeteu ao jurista Amilton Bueno de Carvalho, que numa de suas palestras disse que: “a esquerda” não pode chegar ao poder, “a esquerda” tem que “quase” chegar ao poder porque o poder é “de direita”.
Para quem não sabe de quem se trata, cabe uma pequena apresentação desse gaúcho colorado que não sai mais de casa para votar, só se for para eleger o presidente de seu time: _“ porque isso é coisa séria”_, bradou durante sua fala (ainda não tinham lançado o livro: O Lado Sujo do Futebol, que conta tudo sobre o esporte onde os personagens principais são dois brasileiros que dirigiram a CBF e a FIFA).
Amilton Bueno de Carvalho ao lado de Tarso Genro foram grandes divulgadores do Direito Alternativo, um movimento que começou na Europa e chegou ao Brasil na década de 80, cujo objetivo é fazer com que os juízes tomem consciência de seu papel político, ajustando a lei ao direito.
Tarso Genro é advogado, foi prefeito de Porto Alegre por duas vezes e Governador do Rio Grande do Sul pelo PT, Ministro da Educação, Relações Institucionais e da Justiça no governo Lula.
Amilton foi juiz de direito no Estado do Rio Grande do Sul, foi promovido a desembargador, publicou diversos livros entres eles: Direito Penal a Marteladas - Algo sobre Nietzsche e o Direito, uma obra profundamente reflexiva e autocrítica, e acabou se aposentando antes de completar 70 anos assim como acontecerá com o Ministro Joaquim Barbosa.
Bom, dá para concluir que o doutor Amilton está no mínimo decepcionado com a política, mas infelizmente não é só ele. Tenho conversado com alguns amigos, visto as redes sociais e é assunto recorrente: as pessoas não querem votar, não acham em quem votar...
Tudo isso me remete a uma passagem bíblica: Lucas 19,29-31 apresenta a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, na semana derradeira antes de sua morte e ressurreição: Cristo entrou em cima de um burrinho.
O povo de Israel esperava que o Messias fizesse algo além da pregação para libertá-lo da dominação romana e ficou profundamente decepcionado.
Pilatos, após interrogar a multidão sobre quem deveria ser solto, lavou as mãos ao ouvir que o baderneiro e insurgente conhecido como Barrabás foi o escolhido.
Então gente... não é de hoje que o povo vota mal, mas vota... Pior foi Pilatos que lavou as mãos.
Se quisermos justiça social de verdade e não só da boca para fora, temos que continuar tentando, pois, quando elegemos alguém acreditamos que fizemos uma boa avaliação do candidato. E na maioria das vezes fizemos, mas quando os nossos escolhidos chegam ao poder, as coisas mudam: afloram o orgulho e o egoísmo. Cabe-nos fiscalizá-los e, sobretudo fiscalizar a nós mesmos: porque reformas só são boas quando se mexe naquilo que nos incomoda. Se formos nós o incômodo, a gente não quer que tasque a mão.
Tudo que precisamos fazer para viver em paz já nos foi ensinado, mas continuamos esperando a vinda de um salvador.
Lembremos que vivemos no Planeta Terra, num País chamado Brasil e num Estado chamado Mato Grosso, que, aliás, para nós que ficaremos aqui depois dos jogos, só vai sobrar o lê-lê, lê-lê (vamos ter que trabalhar mais que a escrava Isaura para pagar a conta da Copa).
Tânia Regina de Matos
Defensora Pública em Várzea Grande