Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Um momento parado no tempo
Por por Rosildo Barcellos
04/08/2014 - 10:55

Foto: ILUSTRATIVA

Uma das funções do articulista é transformar o que vivemos em elemento pensante. E fotografar é a transmutação histórica do tempo. Quando olho uma foto, não vejo as cores nem tampouco o ambiente. Vejo o tempo  detido, percebo a memória. As fotografias valorizam e eternizam o momento solene do registro do estado de felicidade.     Foi então que recordei que longe dos  grandes estúdios fotográficos e das máquinas digitais, encontramos uma figura especial, ligada a um passado não muito distante: o fotógrafo lambe-lambe. Assim comecei a indagar  ao redor sobre o tema e constatei que poucas pessoas no mundo conhecem a atividade do fotógrafo lambe-lambe. Todavia urge ressaltar que, na verdade,  a máquina que deu origem a esta profissão foi fabricada  aqui no nosso  Brasil. Surgiu no início do século pela necessidade de um homem, Francisco Bernardi, de transportar com maior comodidade, todo o equipamento necessário para se obter uma foto em preto e branco.      

     Essa atividade  é tão diferente pois consegue aliar  criatividade a uma natural e aguçada sensibilidade tátil, que foi o  ponto de partida para o desenvolvimento do ofício, cuja nomenclatura foi sugerida por abarcar um gesto  incomum no exercício da profissão, isto é, o teste que se faz para verificar de que lado está a emulsão de uma chapa, filme ou papel sensível. Para evitar o erro de colocar a chapa com a emulsão voltada para o fundo do chassis o que deixaria fora do plano focal e portanto com falta de nitidez, costumava-se  molhar com saliva a ponta do indicador e do polegar e fazer pressão com esses dois dedos sobre a superfície do material sensível num dos cantos para evitar manchas.

     Não podemos deixar que esses verdadeiros artistas sejam esquecidos em nossa memória e não podemos apenas  contemplar as imagens desses “desconhecidos íntimos” e apenas guardar em nossa gaveta do passado, devemos, sim lembrar que das milhares de fotografias esmaecidas produzidas pelos lambe-lambes e que hoje estão esquecidas ou desprezadas em velhas caixas; que cada uma delas representam os fios que tecem a história de sua família,de sua juventude, de sua cidade e por fim da sua vida. E quando estamos em uma fotografia, devemos ter a certeza de que quando ela estiver pronta  não podemos enxergar apenas com os olhos; pois necessitamos amiúde do auxílio da alma, pois quando olharmos uma foto com a alma deixamos de ser pessoas para sermos, lágrima, sorriso, história e elementos do cenário da vida. Diante disto resta-me exaltar a importância da fotografia como fator gerador de registros de instantes e momentos; dos liames da vida e precípuamente dos sentimentos que nos permeiam.

*Articulista

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