Primeiro, em relação à economia.
O primeiro mandato da Dilma aplicou políticas públicas para conter a crise internacional no Brasil e conseguiu isso com injeção de recursos públicos na economia e desoneração de impostos para diversos setores da economia, assegurando a ampliação dos níveis de emprego e renda da população brasileira.
Nesse segundo mandato, a opção inicial do governo Dilma vai no caminho inverso com o ajuste fiscal anunciado que restringe o acesso a direitos trabalhistas, reverte parte das desonerações do período anterior e busca a redução de gastos públicos. Estou entre os que discordam desse caminho atual. Defendo no PT e no debate da crise que devemos avançar em uma política tributária progressiva e redistributiva da renda nacional, por exemplo, com a adoção do imposto sobre as grandes fortunas, com o reordenamento da tabela do imposto de renda, criando novas alíquotas, menores para os que ganham menos e maiores para os que ganham demais, além da taxação do sistema financeiro.
Segundo, em relação à corrupção.
Defendo a punição de todos os corruptos e corruptores na Petrobrás e em qualquer instituição pública. A corrupção na Petrobrás é do tipo que os estudiosos chamam de corrupção estrutural e não nasceu no governo do PT, embora infelizmente tenha se mantido no período em que o PT governa o Brasil. Por outro lado, tem sido durante os governos petistas que a corrupção está sendo investigada. Episódios como o 'mensalão' não teriam sido investigados e punidos na vigência de governos anteriores aos governos petistas.
Terceiro, em relação à política.
É fato que as forças políticas de direita derrotadas na eleição presidencial de 2014 estão se aproveitando do mal momento da economia, das investigações da corrupção na Petrobrás e das medidas impopulares anunciadas pelo governo Dilma para flertar com o golpismo. Perderam no voto e agora alimentam a ideia do impeachment. De duas, uma: sangrar o governo e deixá-lo de joelhos em definitivo para o neoliberalismo ou tirar o PT do governo federal para eles mesmos aplicarem o receituário conservador (combate à corrupção, que nada).
Quarto: uma das principais raízes da corrupção em nosso país é o financiamento privado de campanhas eleitorais.
Precisamos de uma reforma política com a proibição definitiva do financiamento empresarial de campanha eleitorais. O STF está julgando inconstitucional esse modelo de financiamento (6 a 1 na votação até agora), mas o ministro Gilmar Mendes está há mais de 300 dias com o processo em suas mãos para vistas e o julgamento está paralisado. Precisamos de uma constituinte exclusiva para fazer uma reforma política profunda e verdadeira. E na constituinte, defendo a proposta conjunta da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Confederação Nacional dos BIspos do Brasil (CNBB) e do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) como base para o debate nacional.
Quinto: interesses econômicos dos norte-americanos estão de olho grande no pré-sal e contrários à opção do governo petista em adotar o modelo de partilha para a sua exploração e priorizar uma aliança estratégica geopolítica com a China e a Rússia. Quem puder leia o seguinte artigo:
http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2014/12/eua-ja-agem-para-derrubar-dilma-rousseff.html?spref=tw&m=1
Por fim, se em nossa constituição houvesse a possibilidade do recall dos governantes, esta uma excelente proposta a constar da reforma política, esse seria o caminho correto a ser utilizado no tempo certo para quem não quer mais um governante no poder, pois o povo decidiria soberanamente por meio do voto direto e, com o mandatário afastado, novas eleições seriam convocadas. O impeachment da presidente Dilma hoje só interessa mesmo a quem quer fragilizar o estado brasileiro e provocar instabilidade politica, econômica e social em nosso país, instrumentalizando-se a partir do descontentamento legítimo de uns e do ódio e do preconceito de outros.
Essa é minha leitura da realidade. Aberta ao debate.
Lúdio Cabral é médico sanitarista e filiado ao Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso.