Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Nossos heróis.
Por por Gonçalo Antunes de Barros Neto
26/04/2015 - 09:01

Foto: arquivo

O que há de terrível na morte é que transforma a vida em destino (Malraux). Do fenômeno irreversível, vimos que dela não se chamou para o consenso. Castigo da humildade, necessário referencial de purificação ou reprimenda do Ser infinito? Se nascer é começar a morrer, por que nascemos?

            A religião explica muitas coisas. Nesse campo do absoluto, não há reflexão possível. Somente fé. Crer não basta para a inquietação filosófica. Há um fato, um termo ‘ad quem’, e por quê? O caminho do pecado na sua explicação nos faz ter raciocínio circular, também incontestável.

             O passado é fundamentado no presente. Os mortos que não puderam ser salvos e transportados a bordo do passado concreto de um sobrevivente não são passados; eles e seus passados estão aniquilados (Sartre). É o dilema do esquecimento para os ausentes, se no presente não viverem nos sobreviventes.

            Para Epicuro, uma das funções fundamentais da filosofia é libertar os homens do temor da morte. A matéria é eterna, quem morre é o espírito, pois, o material se transformará. Quem come será comido. Para ele, a própria dor é provisória, tudo passa.

            Não sei se Epicuro ajudou a explicar tal estado de aflição, ou pôs mais premissas na dialética sobre a morte. Mas ele e Sartre acabaram por estabelecer determinada causa, ainda que não intencionalmente, da busca pela glória, pela imortalidade através dos legados. ‘Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos’ (Cora Coralina).

            Então, leitores, Joaquim José da Silva Xavier não morreu. Renasce todas as vezes que a ele rendemos consideração. Ele não tem o seu passado, o é, sobrevive nos sobreviventes. A matéria que se apelidou de Tiradentes tão somente transformou-se de concreto para abstração, de corpo para pensamento.  

            Nos 21 de abril, nele somos – libertários, revolucionários, corajosos e destemidos. Com ele, pela glória, perdemos o medo da morte. Quando de tudo valeu a pena, do capitulo final não se entrega ao temor.

            Novamente, Sartre: ‘É, por fim, o que aterroriza o crente quando ele constata com pavor que, no momento da morte, a sorte está lançada, já não resta uma só carta a jogar. A morte nos reúne conosco mesmo, assim como a eternidade nos transformou em nós mesmos. No momento da morte, somos, ou seja, somos sem defesa frente aos juízos do próximo... No extremo limite, no instante infinitesimal de minha morte, não serei mais que meu passado. Somente ele me definirá.’ (O Ser e o Nada).

            O que pensou e realizou, define a Tiradentes. Assumindo o seu grilhão, desempenhou o que lhe bastava. Encarou o seu presente, assim como a própria Fortuna (deusa romana da sorte), com a pureza das crianças e a firmeza dos que fazem da vida, o próprio destino.

Seria somente Joaquim ou José, um Silva ou Xavier, se nele não somasse os atributos do guerreiro. De seu exemplo nos lançamos em miríades de incontáveis acontecimentos, força e honra para todos nós.

É por aí...

 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com).

 

 

 

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