Estamos a viver num mundo virtual. De mensagens instantâneas, escravizados, talvez, pela necessidade de conhecer. Conhecer cultura? Na maior parte das vezes, não. Vivemos na era da superficialidade, onde a mediocridade reina e clama pela objetividade. Textos curtos, sem exageros acadêmicos, bastam para o ‘internauta’.
As grandes teses jurídicas, as sentenças judiciais que, além de fazer justiça, já nos embebeciam de talento literário e inovação, ficaram no passado. As ‘obras culturais’ são reprovadas pela Academia Brasileira de Letras por insuficiência. Os jornais vêm perdendo espaço para as mídias de manchetes. O conteúdo não interessa mais.
Mas a novidade disso tudo está na inserção livre dos comentários. Têm de todo tipo: ideológicos, com erros de grafia, maldosos, elogiosos etc. Por eles, nitidamente, percebe-se a estatura moral e intelectual de seus assinantes, aliás, anônimos na maioria.
O povo não está obrigado a entender de tudo - medicina, direito, engenharia, literatura... -, mas a obrigação reside na civilidade. Como Jesus disse, a chibatada quebra os ossos, mas a língua fere a alma. Todos estão a julgar a todos, não importa mais o sentimento, o dever de solidariedade.
Recentemente, Umberto Eco, dialogando com um público de formandos de comunicação e cultura, afirmou: ‘A mídia social dá o direito de falar a legiões de idiotas que antes conversavam apenas no bar depois de um copo de vinho, sem prejudicar a comunidade. Eles eram rapidamente silenciados, e agora eles têm o mesmo direito de falar de um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis’.
A crítica faz parte da obra de quem escreve, aliás, da própria sociedade. Embasada em fundamento racional, somente eleva e aperfeiçoa. Mas quando permeada por ignorância ou má-fé, o remédio acaba sendo o ‘cala-te’ mediante ação judicial. Mas resolve?
Prefaciando o livro de Mário Rosa, ‘A Era do Escândalo’, Nizan Guanaes escreve: ... ‘Ninguém está imune a um acidente ou incidente. São estresses da vida moderna, facetas da vida das pessoas... Todos estão expostos ou querem se expor. Nunca houve tanta exposição da vida das pessoas, da sexualidade às opiniões. Qualquer erro, por menor que seja, pode ganhar proporções inimagináveis’... .
O mundo está cada vez mais ligado no politicamente correto. O padrão de virtude tende a se perder do que era para o que será. O ser como imagem está aniquilando o ser em essência. Os bons devem reagir e quebrar paradigmas, senão acabarão por se afastar das convenções sociais e da própria sociedade, ou mesmo serem afastados.
Chegamos a um patamar alto de excelência tecnológica, das ciências exatas e humanas. Contudo, carecemos de mais compreensão, amizade e sinceridade.
A vida passou a ser dos que se arriscam, enfrentam as adversidades, protagonizam os acontecimentos e se adiantam na solução dos conflitos. Viver tem sido sinônimo de lutar; lutar contra a hipocrisia social e as ‘verdades’ dos imbecis, também contra as ‘certezas’ dos anônimos.
É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com).