Em 70 cidades o número de habitantes é inferior a 10 mil, em 12 não chega a três mil e 29 ficaram menores nos últimos sete anos
Mato Grosso cresceu 9,26% em sete anos, segundo dados da estimativa populacional divulgada pelo IBGE em 30 de agosto. No período de 2010 a 2017 a população saltou de 3.035.122 para 3.344.544 habitantes. Nos 141 municípios houve aumento em 112, que representam 79,43% do total, e 29 encolheram. Com 590.118 residentes Cuiabá é o maior município e ocupa a 20ª posição entre as capitais. O menor município é Araguainha, com 931 moradores, número esse que lhe deixa na antepenúltima colocação entre as 5.570 cidades brasileiras, à frente apenas de Borá/SP, com 839, e Serra da Saudade/MG, com 812.
O mosaico municipal mostra que o perfil populacional mato-grossense é ancorado por pequenas cidades. Em 12 municípios a população é inferior a 3.000 habitantes e em 58 tem entre 3.000 e 9.999. Essa situação cria um nó para o governo estadual e as prefeituras, pois um dos parâmetros para o Tribunal de Contas da União (TCU) elaborar o índice do Fundo de Participação dos Estados e Municípios (FPE e FPM) é o quantitativo dos moradores.
Dos 12 menores, sete se situam no Vale do Araguaia; quatro na faixa de fronteira; e um na Bacia do Rio Cuiabá. Desse grupo, cinco tiveram redução populacional. Araguainha encolheu 15,06% caindo de 1.096 para 931; também murcharam Luciara, Planalto da Serra, Ponte Branca e Porto Estrela.
Dos 58 municípios com população entre 3.000 e 9.999 habitantes, 19 encolheram: Itaúba, Arenápolis, Dom Aquino, Canabrava do Norte, Nova Guarita, Salto do Céu, Novo São Joaquim, Terra Nova do Norte, Rio Branco, Rosário Oeste, Acorizal, Tabaporã, Apiacás, Torixoréu, União do Sul, Vale de São Domingos, Araguaiana, Figueirópolis D’Oeste e Nova Brasilândia. As maiores reduções aconteceram em Itaúba (16,94%) – maior queda em Mato Grosso -, Novo São Joaquim (16,16%) e Terra Nova do Norte (14,93%).
O grupo acima dos 40 mil habitantes tem 13 municípios e todos registraram crescimento no período: desses, Lucas do Rio Verde, com 25,95% teve o maior crescimento proporcional nessa faixa populacional. No afunilamento desse grupo há quatro com mais de 100 mil: Cuiabá cresceu 6,62%; Várzea Grande (274.013), 7,82%; Rondonópolis (222.316), 12,08%; e Sinop (135.874), 16,77%. Dois são administrados por prefeitas: Lucimar Campos (DEM) em Várzea Grande e Rosana Martinelli (PR) em Sinop.
Entre os 13 maiores sete emanciparam após a divisão territorial ocorrida em 11 de outubro de 1977: Primavera do Leste, Pontes e Lacerda, Sinop, Sorriso, Alta Floresta, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum; os cinco últimos foram criados no eixo de influência da BR-163 a Rodovia Cuiabá-Santarém.
O melhor desempenho de crescimento entre os 141 foi o de Colniza, com 36.161 habitantes, que registrou 28,05%. Esse município da Amazônia Mato-grossense, distante 1.060 quilômetros de Cuiabá, se situa na divisa com o Amazonas e Rondônia, é sede de comarca de primeira entrância e foi instalado em 1º de janeiro de 2001. Sua área territorial de 27.946,126 km² é a maior entre os municípios mato-grossenses.
Considerando-se a data da fundação e não a de emancipação, Mato Grosso tem 34 municípios bicentenários, centenários e às vésperas dos 100 anos. Desse grupo fazem parte Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Tangará da Serra, Cáceres, Barra do Garças, Ponte Branca, Luciara, Araguainha, Araguaiana (3.036), Santo Afonso (3.050), Nova Marilândia (3.159), Torixoréu (3.576), Tesouro (3.682), Acorizal (5.269), Nortelândia (5.895), Barão de Melgaço (7.872), Arenápolis (9.455), Alto Paraguai (10.921), Alto Garças (11.532), Nossa Senhora do Livramento (12.484), Guiratinga (14.615), Nobres (14.917), Poxoréu (15.985), Alto Araguaia (18.164), Santo Antônio de Leverger (18.392), Rosário Oeste (18.908), Chapada dos Guimarães (19.049), Nova Olímpia (19.465), Diamantino (21.294), Paranatinga (21.612), Vila Bela da Santíssima Trindade (24.835), Poconé (32.241) e Barra do Bugres (33.644).
Ipiranga do Norte com 7.171 habitantes e Itanhangá (6.396) são os dois municípios mais novos de Mato Grosso. Ambos foram instalados em 1º de janeiro de 2005. Ipiranga e Itanhangá são vizinhos e se situam no Médio-Norte.
CUIABÁ – O maior e mais antigo município é Cuiabá, com 298 anos. Sua taxa populacional nos últimos anos foi pequena, dentro da média estadual, mas há algumas décadas o crescimento foi desordenado. De 1980 para 1990 a população saltou de 212.984 para 402.813 habitantes, o que significou um aumento percentual de 89,13% no período.
Em Cuiabá o aumento populacional desenfreado acontecia em razão da migração de levas e mais levas de sulistas, nordestinos, mineiros, paulistas e brasileiros de outras regiões em busca de oportunidade de vida em Mato Grosso. À época aconteciam invasões de áreas urbanas particulares e pública, o que resultou no surgimento de muitos bairros; o número de casos foi tão expressivo que esse tipo de ação passou a ser chamado de indústria do grilo. A balbúrdia agrária urbana no ontem reflete no mosaico fundiário de Cuiabá. O Prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) não arrisca citar a quantidade de terrenos sem titulação na cidade, mas a prefeitura avalia que existam em torno de 15 mil. Os únicos números oficiais sobre a ocupação urbana revelam que a capital tem 281 mil lotes sendo 226 mil com construções prediais e 55 mil vazios.
A redução da taxa de crescimento populacional em Cuiabá acontece há 18 anos e oscila em torno de 1% ao ano, porque a demanda migratória é praticamente zero. Somem-se a isso o surgimento em todas as regiões mato-grossenses de cidades com boa qualidade de vida e elas passaram a receber parte da pequena migração remanescente.
Além da população residente, à época das altas taxas de crescimento Cuiabá tinha grande população flutuante, pois era praticamente a única cidade para atendimento de medicina de especialidade, campus universitário e centro de prestação de serviço público. A estruturação de Rondonópolis, Sinop, Sorriso, Alta Floresta, Primavera do Leste, Cáceres, Tangará da Serra, Barra do Garças e outras cidades criou polos regionais, o que esvazia o chamado turismo de saúde, cria zoneamento regional para estudantes universitários e permite ao cidadão encontrar uma gama de serviços públicos burocráticos em seu município ou próximo a ele.
DUALIDADE – Mato Grosso tem pequena população, mas em compensação algumas de suas demandas vão além da capacidade do governo em atendê-las com a devida urgência.
A densidade demográfica mato-grossense é de 3,36 habitantes por quilômetro quadrado. O quê da questão para a prestação de serviço público em dezenas de municípios é a distância de Cuiabá. Os 36.161 habitantes de Colniza precisam de pelo menos um acesso rodoviário pavimentado, mas para que isso aconteça o governo terá que asfaltar 335 quilômetros de rodovia, que oficialmente é federal (BR-174), mas na prática é estadualizada.
O ensino superior à distância supre parte da demanda nos pequenos municípios, mas ainda assim há vácuo universitário em todas as regiões, por mais que as prefeituras disponibilizem ônibus para o transporte diário à faculdade da cidade mais próxima. Essa situação é considerada irreversível, pois não é possível criar e instalar cursos em todas as cidades.
A população indígena mato-grossense tem censo próprio. Estima-se que entre aldeados e residentes nas cidades existam 45 mil indivíduos de 48 etnias; esse número não inclui os índios arredios e não contatados.
A relação entre os povos indígenas e a sociedade que vive em seu entorno é considerada harmônica, mas é visível o choque cultural, que em alguns casos arrasta indivíduos ao alcoolismo e os expõem ao risco de doenças sexualmente transmissíveis; esses males afetam principalmente ao aldeados em áreas indígenas próximas aos núcleos urbanos a exemplo de Tadarimana, dos bororos, em Rondonópolis, e Umutina, do povo do mesmo nome, em Barra do Bugres.