A greve dos estudantes de Medicina da Unemat completa uma semana nesta quarta-feira, 20, e, para marcar a data, os alunos farão novo protesto, a partir das 17h, no campus Cavalhada. O movimento apartidário tem recebido apoio de entidades da área médica e de estudantes de Medicina de outras universidades. Veículos de imprensa, em especial os estaduais, repercutem diariamente a luta dos estudantes por mais infraestrutura e ensino de qualidade.
Nos últimos dias, os acadêmicos reuniram-se com o Governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, com o Secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, e com reitor da Unemat, Dionei Silva. O governador discorreu sobre orçamentos e, ao final da reunião na segunda-feira, 18, disse desconhecer a greve.
O reitor Dionei Silva, em dois encontros, nos dias 18 e 19, manteve apenas promessas e discorreu sobre entraves que prejudicam a infraestrutura do curso de Medicina da Unemat, mas não divulgou prazos.
Os alunos de Medicina da Unemat, frente ao impasse, reiteram que não estão abertos à negociação dos itens reivindicados em manifesto.
MOVIMENTO É APARTIDÁRIO, E GREVE É POR MELHOR ENSINO
Os alunos declaram que o movimento é apartidário, sem líderes e independente. De acordo com os acadêmicos do curso, desde 2012 a Reitoria da Unemat promete, mas não cumpre. Uma das promessas é a entrega dos blocos de laboratórios, garantida para três datas, todas adiadas. Foram adquiridas apenas algumas peças artificiais de laboratório, e as anatômicas humanas, indispensáveis ao aprendizado médico, continuam inexistentes. Além disso, falta biotério e espaço físico para aulas, e as salas são disputadas entre professores.
Sobre os docentes, mesmo com o concurso público feito este ano, a demanda não foi suprida, e ainda existem disciplinas sem aula. Além disso, parte dos profissionais não recebeu treinamento para a metodologia PBL, o que dificulta o aprendizado. Para os estudantes, este é um exemplo de descaso com o compromisso firmado pela gestão da universidade.
A biblioteca também está defasada, com livros antigos e muitos títulos indisponíveis para atender à demanda do curso, que já conta com cinco turmas.
Os alunos também reclamam que o projeto pedagógico é defasado e incompleto, e a entrega dos planos de ensino muitas vezes não ocorre. Falta planejamento e infraestrutura.
Outra demanda são os convênios. Sem hospital-escola, os estudantes chegaram a ser barrados em atividades nas instituições de saúde, o que gera constrangimento e defasagem no aprendizado. A falta de convênios também impediu aos estudantes o acesso a algumas vacinas, fato que os expõe a riscos.
A gestão da Unemat, que discursa sobre ensino de qualidade e necessidade de pesquisas, não proporciona o mínimo para que os estudantes desenvolvam artigos científicos. Não existe internet wi-fi no campus, e os alunos não têm acesso à base de periódicos da área médica.
Além dessas urgências, os alunos reivindicam, em médio prazo, restaurante universitário e transporte coletivo entre os campi, soluções que beneficiarão também outros acadêmicos da universidade.
LUTA DOS ESTUDANTES É ANTIGA
Desde 2012, a imprensa divulga manifestações e denúncias feitas sobre as irregularidades no Curso de Medicina da Unemat.
Há dois anos, foi divulgado na mídia que o Governo do Estado queria implantar o curso de Medicina para o campus de Cáceres da Unemat com gasto de R$ 9 mi no primeiro ano, com infraestrutura completa.
Em agosto de 2012, ocorreu a aula inaugural do Curso de Medicina da Unemat. À época, o governador do Estado, Silval Barbosa, fez uma declaração marcante ao jornal Diário de Cáceres e disse que “Os novos acadêmicos não precisam temer falta de estrutura. Foi tudo muito bem pensado e organizado”. O governador garantira que o curso nasceria estruturado, com hospitais para estágio, convênios com o Estado e o município.
Tais promessas não foram cumpridas, e deficiências e irregularidades começaram a aparecer já no primeiro semestre. Os alunos fizeram denúncia, fato que repercutiu nacionalmente. Na época, a reitoria prometeu professores, equipamentos e laboratórios, mas a demanda, no entanto, persistiu.
Em 2013, ocorreu nova onda de protestos. Em fevereiro, a imprensa noticiou que 20% dos estudantes desistiram do Curso por falta de estrutura. À época, a gestão da Unemat alegou que equipamentos de laboratório suficientes foram adquiridos e que os laboratórios eram apropriados, fato que não corresponde à realidade.
Em junho daquele ano, depois de quatro meses sem soluções, os estudantes novamente protestaram. A resposta da gestão da Unemat foi a de que aqueles que não estivessem satisfeitos, que se retirassem. A postura foi duramemente criticada na mídia nacional, repercutindo em jornais como O Globo.
Após a crise, foram feitas novas reuniões com os reitores Adriano Silva, em 12 de junho de 2013, e seu sucessor Dionei Silva, em 26 de março de 2014. Nas duas ocasiões, os reitores prontificaram-se em ouvir as angústias dos alunos e garantiram que as irregularidades seriam definitivamente sanadas.
Passados cinco meses após a última reunião, as deficiências persistem. Após dois anos de reivindicações e promessas não cumpridas, os estudantes revoltaram-se e declararam greve por tempo indeterminado na última quarta-feira,13. Eles afirmam que só voltam às atividades quando todos os problemas forem, finalmente, solucionados. Na última semana, o Ministério Público abriu inquérito para investigar o caso.