Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Com uma semana de greve, Medicina da Unemat faz novo protesto hoje,20
Por http://sosmedicinaunemat.blogspot.com.br/
20/08/2014 - 08:24

Foto: http://sosmedicinaunemat.blogspot.com.br/

A greve dos estudantes de Medicina da Unemat completa uma semana nesta quarta-feira, 20, e, para marcar a data, os alunos farão novo protesto, a partir das 17h, no campus Cavalhada. O movimento apartidário tem recebido apoio de entidades da área médica e de estudantes de Medicina de outras universidades. Veículos de imprensa, em especial os estaduais, repercutem diariamente a luta dos estudantes por mais infraestrutura e ensino de qualidade.

Nos últimos dias, os acadêmicos reuniram-se com o Governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, com o Secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, e com reitor da Unemat, Dionei Silva. O governador discorreu sobre orçamentos e, ao final da reunião na segunda-feira, 18, disse desconhecer a greve.

O reitor Dionei Silva, em dois encontros, nos dias 18 e 19, manteve apenas promessas e discorreu sobre entraves que prejudicam a infraestrutura do curso de Medicina da Unemat, mas não divulgou prazos.

Os alunos de Medicina da Unemat, frente ao impasse, reiteram que não estão abertos à negociação dos itens reivindicados em manifesto.

MOVIMENTO É APARTIDÁRIO, E GREVE É POR MELHOR ENSINO

Os alunos declaram que o movimento é apartidário, sem líderes e independente. De acordo com os acadêmicos do curso, desde 2012 a Reitoria da Unemat promete, mas não cumpre. Uma das promessas é a entrega dos blocos de laboratórios, garantida para três datas, todas adiadas. Foram adquiridas apenas algumas peças artificiais de laboratório, e as anatômicas humanas, indispensáveis ao aprendizado médico, continuam inexistentes. Além disso, falta biotério e espaço físico para aulas, e as salas são disputadas entre professores.

Sobre os docentes, mesmo com o concurso público feito este ano, a demanda não foi suprida, e ainda existem disciplinas sem aula. Além disso, parte dos profissionais não recebeu treinamento para a metodologia PBL, o que dificulta o aprendizado. Para os estudantes, este é um exemplo de descaso com o compromisso firmado pela gestão da universidade.

A biblioteca também está defasada, com livros antigos e muitos títulos indisponíveis para atender à demanda do curso, que já conta com cinco turmas. 

Os alunos também reclamam que o projeto pedagógico é defasado e incompleto, e a entrega dos planos de ensino muitas vezes não ocorre. Falta planejamento e infraestrutura.

Outra demanda são os convênios. Sem hospital-escola, os estudantes chegaram a ser barrados em atividades nas instituições de saúde, o que gera constrangimento e defasagem no aprendizado. A falta de convênios também impediu aos estudantes o acesso a algumas vacinas, fato que os expõe a riscos.

A gestão da Unemat, que discursa sobre ensino de qualidade e necessidade de pesquisas, não proporciona o mínimo para que os estudantes desenvolvam artigos científicos. Não existe internet wi-fi no campus, e os alunos não têm acesso à base de periódicos da área médica.

Além dessas urgências, os alunos reivindicam, em médio prazo, restaurante universitário e transporte coletivo entre os campi, soluções que beneficiarão também outros acadêmicos da universidade.

LUTA DOS ESTUDANTES É ANTIGA

Desde 2012, a imprensa divulga manifestações e denúncias feitas sobre as irregularidades no Curso de Medicina da Unemat.

Há dois anos, foi divulgado na mídia que o Governo do Estado queria implantar o curso de Medicina para o campus de Cáceres da Unemat com gasto de R$ 9 mi no primeiro ano, com infraestrutura completa.

Em agosto de 2012, ocorreu a aula inaugural do Curso de Medicina da Unemat. À época, o governador do Estado, Silval Barbosa, fez uma declaração marcante ao jornal Diário de Cáceres e disse que “Os novos acadêmicos não precisam temer falta de estrutura. Foi tudo muito bem pensado e organizado”. O governador garantira que o curso nasceria estruturado, com hospitais para estágio, convênios com o Estado e o município.

Tais promessas não foram cumpridas, e deficiências e irregularidades começaram a aparecer já no primeiro semestre. Os alunos fizeram denúncia, fato que repercutiu nacionalmente. Na época, a reitoria prometeu professores, equipamentos e laboratórios, mas a demanda, no entanto, persistiu.

Em 2013, ocorreu nova onda de protestos. Em fevereiro, a imprensa noticiou que 20% dos estudantes desistiram do Curso por falta de estrutura. À época, a gestão da Unemat alegou que equipamentos de laboratório suficientes foram adquiridos e que os laboratórios eram apropriados, fato que não corresponde à realidade.

Em junho daquele ano, depois de quatro meses sem soluções, os estudantes novamente protestaram. A resposta da gestão da Unemat foi a de que aqueles que não estivessem satisfeitos, que se retirassem. A postura foi duramemente criticada na mídia nacional, repercutindo em jornais como O Globo.

Após a crise, foram feitas novas reuniões com os reitores  Adriano Silva, em 12 de junho de 2013, e seu sucessor Dionei Silva, em 26 de março de 2014. Nas duas ocasiões, os reitores prontificaram-se em ouvir as angústias dos alunos e garantiram que as irregularidades seriam definitivamente sanadas.

Passados cinco meses após a última reunião, as deficiências persistem.  Após dois anos de reivindicações e promessas não cumpridas, os estudantes revoltaram-se e declararam greve por tempo indeterminado na última quarta-feira,13. Eles afirmam que só voltam às atividades quando todos os problemas forem, finalmente, solucionados. Na última semana, o Ministério Público abriu inquérito para investigar o caso.

 
 
 

MANIFESTO DE GREVE DOS ESTUDANTES DE MEDICINA DA UNEMAT

 
 
Nós, estudantes de Medicina da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), vimos, por meio deste documento,

CONSIDERANDO que o artigo 205 da Constituição Federal estabelece que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho;

CONSIDERANDO que o artigo 206, inciso VII, da Constituição estipula que é princípio do ensino brasileiro a garantia do padrão de qualidade;

CONSIDERANDO que o artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal estipula que é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; e

CONSIDERANDO que, segundo o artigo 299 do Código Penal, constitui crime de falsidade ideológica omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, cominando-se ao infrator da norma pena de reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público;

exigir de imediato:
  • Qualificação de todos os professores para a metodologia PBL e educação continuada; 
  • Docentes com requisitos mínimos para cumprimento de carga horária;
  • Contratação de recursos humanos administrativos;
  • Disponibilização na biblioteca de bibliografia mínima recomendada – mínimo de três bibliografias com títulos de todas as áreas temáticas publicados em até cinco anos, excetuando-se os clássicos, atendendo adequadamente aos programas das disciplinas do Curso de Medicina, na proporção de 1 (um) exemplar para mais de 6 e até 8 alunos por turma;
  • Regularização de convênios com instituições de saúde e prefeitura;
  • Aquisição de peças anatômicas humanas;
  • Cumprimento e reposição de aulas; 
  • Apresentação de projeto pedagógico completo e coerente; 
  • Disponibilização de identificação estudantil para atividades práticas; 
  • Oferta de vacinas para estudantes; 
  • Entrega e seguimento de plano de ensino; 
  • Revisão de critérios para seleção de vagas remanescentes; 
  • Criação da Faculdade de Ciências Médicas; 
  • Oficialização do Hospital Universitário; 
  • Acesso à base de dados acadêmicos e periódicos na área de Saúde; 
  • Disponibilização de internet wi-fi na Cidade Universitária; e
  • Construção de Biotério.
Cobramos, também, para o cumprimento em até 90 dias,
  • A construção do bloco do Curso de Medicina e do Restaurante Universitário; e
  • A disponibilização de transporte coletivo entre os campi de Cáceres.
A interrupção total das atividades do primeiro ao quinto semestre foi a única alternativa encontrada pela maioria dos alunos e decidida em Assembleia Geral Estudantil em 13 de Agosto de 2014, conforme o Estatuto do Centro Acadêmico Livre de Medicina, Artigo 19.

Não retomaremos as aulas até que todas as reivindicações imediatas citadas sejam atendidas. Apesar dos transtornos prováveis envolvendo o transcorrer do semestre, a carga horária, o tempo de formação e a exposição dos estudantes, não desistiremos e insistiremos para que as nossas solicitações sejam atendidas.

Há mais de dois anos reivindicamos tais melhorias. Foram diversas reuniões, e as soluções não passaram de promessas. Exemplos são as reuniões dos dias 12 de junho de 2013 e 26 de março de 2014, que contaram com a presença do reitor e dos coordenadores de curso e do campus. Nesses encontros, foram prometidos em caráter emergencial mais professores, laboratórios e melhorias no projeto pedagógico. Essas demandas, infelizmente, permanecem.

Ainda na reunião de junho de 2013, foi comunicado pelo reitor da UNEMAT à época que o prazo de entrega dos blocos de Medicina era para março de 2014. O então reitor, ainda afirmou, sobre o curso e sua imagem, que não tinha preocupação frente ao Ministério Público, e as demandas seriam ajustadas. A entrega do prédio não foi concretizada, e as demandas persistem.

Pelas deficiências citadas, é com pesar que nós, acadêmicos de Medicina da UNEMAT, tenhamos que tomar uma atitude enérgica, pois não vislumbramos a solução dos problemas atuais. Esperamos a compreensão da sociedade e dos órgãos competentes sobre nossa angustiante situação e enfatizamos que nossa luta é por uma formação de qualidade. Apesar dos desafios, dedicamo-nos com afinco aos nossos estudos e acreditamos que é possível, com comprometimento e planejamento, construir uma Universidade de excelência.
 
Discentes do Curso de Medicina da Universidade do Estado de Mato Grosso

 

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