Elefantes cativos na América do Sul podem ganhar um novo habitat em meio à natureza de Chapada dos Guimarães (65 km de Cuiabá). Com o cerco ao uso dos animais em espetáculos de circo e a monotonia dos zoológicos, a ideia é colocá-los em um ambiente onde seu bem-estar seja priorizado. O co-fundador da ONG The Elephants Sanctuary, Scott Blais, está em Mato Grosso em busca do espaço ideal para a instalação do Santuário de Elefantes. E seu alvo agora é a Chapada dos Guimarães.
Em meio às pesquisas de campo no município, Scott contou ao Diário que ele e Kat Blais (co-fundadora) estão há mais de sete meses no Brasil procurando pela terra ideal para os animais. O requisito é haver abundância de água doce, pastagens e árvores. “O ideal seriam mil hectares de terra diversificada que servirão como um minirrefúgio em meio à vida selvagem”, explica.
De início, o grupo estava procurando terras no Norte de Mato Grosso, e encontrou um mundo quase perfeito para os animais. Porém se deparou com um problema. “A maioria das terras disponíveis e com preços razoáveis não tem documentação adequada”.
No santuário fundado com Scott, no Tennessee, Estados Unidos, os elefantes vivem em meio à vida selvagem e não são nem predadores nem presas. “Nós não estamos liberando o elefante à vida selvagem, eles são gerenciados dentro de um habitat expansivo com cercas”, lembra.
A alimentação dos animais é parecida com a dos cavalos. Eles pastam, comem frutos silvestres, folhas e ramos. A principal preocupação é com a estimulação psicológica. “Não importa se no espaço terá um elefante ou dez, eles precisam do mesmo ambiente para estimular de forma diversificada o psicológico”, explica.
Conforme foram ampliando as buscas por terras, um amigo de Cuiabá sugeriu à Scott a região em torno de Chapada dos Guimarães. “É um pouco diferente de Guarantã do Norte, mas ainda é ideal para os elefantes”.
Segundo Scott, na área em Chapada há várias opções de terra e ele acredita que vai funcionar muito bem. Porém, antes de comemorar o encontro de uma terra ideal, é necessário resolver as questões mais burocráticas.
“Estamos esperançosos de que nossa pesquisa vai acabar aqui, o que nos permite construir rapidamente o santuário para os elefantes que estão desesperadamente à espera”, conta.
Na visão do Santuário de Elefantes Brasil, a intenção é proporcionar um ambiente nutritivo, grande, onde os elefantes poderão socializar com outros da sua própria espécie, migrando e pastando, nadando e se divertindo em lagoas.
“Podemos oferecer a eles um lar onde possam aprender a confiar em pessoas ao seu redor, permitindo-lhes uma sensação de paz que abra uma oportunidade pra curar feridas e cicatrizes emocionais”.
O santuário, no entanto, não será aberto ao público, embora exista possibilidades de o espaço ser aberto para grupos de universidades e equipes de pesquisa do mundo todo. A ideia ainda visa instalar um sistema de câmeras discreto, onde pessoas ao redor do globo poderão assistir a recuperação dos animais.
PROTEÇÃO – A luta no Tennessee começou em 1995. O projeto se tornou um modelo que é reverenciado e que está sendo emulado como o futuro progressivo para os cuidados de elefantes em cativeiro. Em 2013 uniu forças com outros especialistas em elefantes, Joyce Poole e Petter Granli da ElephantVoices, e com a brasileira Junia Machado, para criar a Global Sanctuary for Elephants, uma instituição sem fins lucrativos.
Quando começaram com o santuário no Tennessee, os elefantes foram trazidos de circos e cativeiros. Muitos estavam em espaços insuficientes, isolados e com estímulos limitados. Eles perceberam que muitos estavam com trauma e que os problemas vivenciados no cativeiro vão além.